-Eu juro que não foi porque eu quis. -Falo assim que o jovem policial que está com o mandato na mão, abre a boca
Tenho a impressão de já ter visto ele antes. Ele começa a rir e gargalhar como se fosse alguma piada. Olho em volta atrás das câmeras, pois só pode ser uma pegadinha.
-Tá me achando com cara de palhaço? -Sam pergunta.
Isso não vai prestar.
O policial jovem e estranhamente reconhecível nos olha confusos.
-Não se lembram de mim? -Ele pergunta.
O Polícia ao seu lado é mais velho, porém, parece ter senso de humor.
-Eu acho que já vi você em algum lugar ...- Falo.
-Sou eu! Caleb! -Ele diz.
Meu queixo cai. Lembram daquele garoto baixinho com pijama do Star Wars? Apaguem essa lembrança. Caleb está quase da altura de Sam, deixou o cabelo crescer acima dos ombros e está o maior gato.
-O que faz aqui? E esse mandato? -Pergunto incrédula.
-Desculpe por Caleb, ele insistiu em fazer essa brincadeira com vocês. Eu sou o Policial Cunha, esse mandato não é pra vocês. -O policial mais velho diz.
Caleb ainda sorri bobo. Minha cara e a de Sam, não é das melhores.
-Vocês perderam o senso de humor? São uma lenda! Contei pro Cunha todas as suas aventuras naquele Colégio. -Caleb diz.
Sam limpa uma garganta.
-Caleb, não me leve a m*l, mas o que faz aqui no nosso apartamento as sete da noite? Tenho certeza que não veio tomar um café. -Sam diz.
-Ah sim, vocês não vão acreditar, mas reabriram o caso do irmão da Luna. Eu estava vendo os antigos casos e parece que alguém deixou passar uma coisa. Seu irmão não morreu por acidente, ele foi assassinado.-Caleb diz.
A cada palavra que ele falava, meu coração batia cada vez não forte. É como se ele fosse realmente sair pela minha boca. Minhas pernas falham e Sam me segura. A última coisa que vejo é o rosto de Sam.
☆☆☆☆☆☆
-Parabéns!-Caleb grita assim que recupero a consciência.
Sam da um empurrão de amigos nele e me ajuda a levantar. Estou deitada no sofá. Cunha está em pé e Caleb e Sam ao meu redor.
-Obrigada...Eu acho.
Sam deve ter contado que estou grávida.
Me sento e Sam me da um copo de água. Não sei porque desmaiei assim, mas voltar a tona o assunto da morte do meu irmão me deixa nervosa.
-O que estava dizendo sobre meu irmão?-Pergunto a Caleb.
Ele parece estar escolhendo as palavras certas. Imagino que pela minha reação, eles não vão me contar tudo.
-Ouça, Luna, quando seu irmão morreu, houve investigações e no arquivo, claramente dizia que foi homicídio, mas alguém fechou o caso como acidente. Há uns dois dias, estávamos organizando os arquivos e vi seu nome. Reli o caso é mostrei ao meu superior que sugeriu que eu reabrisse o caso. Passamos os últimos dois dias analisando as evidências e procurando suspeitos. -Ele explica.
Saber disso me traz esperança de que posso dormir a noite sem pensar que sou culpada de algo, porém me dá medo por enfrentar meu demônio do passado.
-E suponho que eu seja a principal suspeita.-Falo o óbvio.
-Na verdade, seus pais tinham câmeras por toda casa e nelas mostra claramente que você estava em seu quarto quando aconteceu e já o encontrou daquele jeito, porém, alguém conseguiu apagar a gravação até a parte que você entra no quarto, ou seja, não temos suspeitos.
De repente, meus pés descalços parecem mais interessantes do que qualquer coisa dessa sala. Alguém matou meu irmão e é por causa desse alguém que sofri minha infância inteira. Se eu guardo remorso? Claro. Quem não guardaria? Não vou descansar até encontrar a pessoa que fez isso.
-E vocês precisam de mim para que?-Pergunto.
-Sei que já deu um depoimento, mas você tinha três ou quatro anos, pensamos que talvez você pudesse ter se lembrado de algo. Pode citar tudo que aconteceu aquele dia? -O policial Cunha pergunta.
-Bom, foi um dia como todos os outros, meu pai foi trabalhar, minha mãe estava no quarto lendo revistas, minha tia estava na cozinha pois minha mãe deu folga aos funcionários aquele dia. Meu pai chegou e eu fui pro meu quarto brincar. Vi minha mãe passando pelo meu quarto em direção as escadas. Só estávamos eu e meu irmão no andar de cima. Escutei o choro e esperei alguém ir vê-lo, mas ele continuou chorando, então fui no quarto e tinha uma sacola de farmácia na sua cabeça. Eu tentei tirar e ele parou de chorar no momento que minha mãe e meu pai chegaram. -Explico.
Dói lembrar daquele dia. Foi traumatizante ver os olhos do meu irmão totalmente sem vida. Eu pensava que quando as pessoas morriam, elas fechavam os olhos, mas meu irmão estáva com seus enormes olhos castanhos fitando o nada.
-Essa sua tia...ela morava com vocês? -Cunha pergunta.
-Sim, desde que eu nasci.-Digo.
-Ela estava na cozinha quando ocorreu.-Cunha confirma.
-Sim...espera, você tá achando que minha tia fez isso? Ela não seria capaz, era a única pessoa sã daquela casa, acredite em mim, ela não faria isso.-Falo.
-Ahn...tudo bem, se lembrar de algo mais, me liga, ja entramos em contato com seus pais. Foi bom reencontrar vocês e desculpa pelo susto.-Caleb diz indo até a porta.
Cunha o segue. Nos despedimos e eles vão embora.
-Por essa eu não esperava.-Sam diz se jogando no sofá.
-Provavelmente meus pais vão tentar me incriminar. Isso só está melhorando.
Sam passa o braço em torno de mim.
-Não está feliz por finalmente esse mistério ser resolvido?-Ele pergunta.
-Acho que tenho medo de descobrir a verdade. Se for alguém que eu conheço?
-Vamos pensar nisso amanhã. Agora vamos pedir comida chinesa e passar a noite assistindo filme ou fazendo algo mais interessante.-Sam diz com sorriso que eu tanto amo.
-Na verdade, eu tava pensando em pizza e brigadeiro. A Estela tá com fome. Ela quer os dois.-Falo manhosa.
-Então ela vai ter os dois.-Sam beija minha barriga e vai pedir a pizza.
☆☆☆☆☆☆
-Ai Meu Deus! Ela é linda!-Ándreia diz ao ver a filha de Laura.
Estamos na casa da Laura e toda vez que eu olho pra bebê, me lembro da imagem dela chegando ao mundo. Ela é linda. Já tem um pouco de cabelo. São bem escuros e destaca na sua pele branca. Os olhos parecem duas jabuticabas e é tão pequena que sinto que ela pode quebrar a qualquer momento.
Trouxemos alguns presentes. Graças ao equívoco com o s**o do bebê, tudo que ela tem é macacões de carrinho, dinossauros... e são lindos, mas conhecendo Laura, ela amaria ver a filha dentro do primeiro vestidinho, então comprei dois vestidinhos, um azul claro e uma rosinha.
-E o nome?-Sam pergunta atrás de mim. Ele parece tão encantado quanto Tiago.
-A gente queria chama-la de Sophia, se você não for usar o nome, é claro.-Laura diz a mim.
A sugestão do nome Sophia foi dela. Eu imaginei que ela iria querer esse após a surpresa.
-Já escolhemos o nome. Vai ser Estela.-Pego na mão minúscula da bebê e digo a ela-Olá Sophia. Sou a tia Luna e eu me sinto tão i****a falando com você porque está com os olhos fechados e não vai lembrar disso, mas saiba que titia te ama.
-Palhaça. -Laura diz.
-E eu tenho cara de Tiago?
Tiago da um t**a de leve na minha cabeça e eu tento revidar, mas Sam me segura.
-Vocês nem vão acreditar quem apareceu no nosso apartamento ontem.-Digo.
Todos me olham curiosos.
-Quem?-Rafa pergunta.
Conto tudo a eles. Destacando a mudança de aparência do Caleb.
-Então o Caleb, aquele que contrabandeava coisas para dentro do colégio, virou policial?-Rafa diz.
-E está gato?-Laura pergunta.
Tiago falta comer ela com os olhos.
-Como é que, é? -Ele praticamente grita.
Laura chia para ele o silenciando e olha para mim com curiosidade. Sam tem o mesmo olhar. Deve estar se perguntando o que vou responder. Ele que se enagana a acha que vou me intimidar com isso.
-O maior gato. Parece até ator de cinema, o que um creme pra espinhas e uma academia não faz.-Falo.
Quase sinto minha pele derreter com o olhar de Sam. Laura se abana com as mãos e Andréia coloca a mão na boca.
-Precisamos ver ele!-Andreia diz. Rafa da aquele olhar pra ela.-Para podermos perguntar como anda a investigação! Não tem outro motivo.
-Não mesmo. A investigação é a prioridade. Não tem nada a ver com nossa curiosidade em saber o tamanho da b***a dele.-Laura diz.
-Exatamente. Nossa curiosidade é ENORME!-Digo e todas caímos na risada.
Nossos maridos/namorados, estão com suas caras de bundas.
-Vocês tem muita confiança em falar de outro cara na nossa frente.-Tiago reclama emburrado.
-Já falamos que nossos interesses são inteiramente profissionais.-Digo.
-É amorzinho, porque não leva a Sophia pra assistir futebol e nos deixa conversar? -Laura pergunta a Tiago.
A pequena Sophia descansa no bebê conforto.
-Pra vocês continuarem falando da b***a do Caleb? Estamos bem aqui.-Rafa diz.
-Mas é muito amor mesmo, andem, tirem suas bundas gordas daqui e vão se entupir de cerveja e carne.-Digo.
Os garotos reviram os olhos. Sam se levanta, mas antes sussurra no meu ouvido "essa b***a "gorda" ja te fez muito feliz". Olho pro outro lado para esconder o rubor enquanto os garotos vão para a sala.
-E então, como você está com tudo isso? -Andreia pergunta.
-Eu não sei. Não sei o que sentir e nem o que esperar.-Digo.
-Mas é uma boa noticia! Não é? Finalmente seus pais vão saber a verdade e não te odiar mais.-Laura diz.
-Meu pai talvez, mas minha mãe...o ódio dela por mim veio antes mesmo de eu aprender a falar.
Suspiramos.
-Vou ao banheiro, acho que Estela está dançando em cima da minha bexiga.-Falo ja me levantando.
Passo pela sala e vejo a cena mais bonita que poderia ver hoje. Sam com Sophia chorando no colo e ele tentando a acalmar.
Ele me vê e me joga um olhar de socorro. Apenas aponto para o banheiro e entro.
Sinceramente, tem tanto lugar na minha barriga para Estela ficar e ela escolhe logo em cima da minha bexiga. Uma vez, eu estava apertada e corri para o banheiro, mas dei um espirro e...já sabem ne?
Após eu liberar espaço para Estela pisar, saio do banheiro e vejo Sophia calma nos braços de Sam. Ele vai ser um bom pai.
Pai, me lembra papaia. Que me lembra que estou com fome e daria tudo por um mamão papaia. Vou até Sam.
-Olha! Acho que ela dormiu.-Ele sussurra animado.
Não consigo evitar um sorriso.
-Você é ótimo. Podemos ir? Queria comer mamão.
Sam faz careta.
-É quase onze da noite. A onde vou achar mamão? -Ele pergunta.
Dou de ombros.
☆☆☆☆☆☆
-Você sabe que eu amo esse seu jeito, mas roubar mamão de uma senhora de idade é um pouco pesado.-Sam diz enquanto abro a porta de casa.
-Não roubei. A porta da casa dela estava aberta e o mamão estava na mesa. Ela quase estava pedindo que eu roubasse.-Me defendo.
-Até porque os gritos dela quando te viu foram bem amisotos.-Ele diz.
-Veja pelo lado bom. Ganhei meu mamão e aprendi vários palavrões novos.-Falo já cortando o mamão ao meio.
Sam ri e se aproxima. Me dá um longo beijo e morde meu mamão.
-Piloto de fuga merece recompensa também.-Ele diz e vai pro quarto.
Após eu comer, vou para o quarto e durmo a noite inteira.
Pena que não pude dormir a manhã inteira, pois as cinco e meia da manhã, algum desocupado estava batendo na minha porta.
-Amor, vai lá ver.-Digo.
-Vai você, eu to tendo um sonho ótimo.
Me levanto e jogo um travesseiro no Sam. Quem, em sã consciência, resolve bater na MINHA porta a essa hora?
As batidas ficam frenéticas e me irrita.
-Eu já ouvi nas primeira cem vezes! Não precisa derrubar minha porta. -Grito.
Limpo minha vista embaçada e abro a porta. Minha mãe, meu pai e uma criança que presumo ser meu irmão, estão paradas na minha frente.
É oficial. Ninguém mais vai abrir essa porta.