Três

1149 Words
Pérola Foi um alívio quando cheguei na rodoviária e o ônibus da Eva estava atrasado. Caso contrário, a minha mãe ia falar durante duas horas sobre a minha irresponsabilidade na próxima ligação. Estávamos encostados em uma parede olhando as pessoas ao redor e o segurança um pouco distante da gente. Senti o Tomás tenso com a situação, mas sabia que o mesmo não ia querer falar sobre o assunto. A verdade é que era extremamente difícil para o meu amigo se abrir sobre a morte do pai dele e eu não queria, de maneira alguma, forçar a barra para ele falar algo tão íntimo, mas era complicado ficar ali sem poder fazer nada. Eu me sentia um pouco inútil. Nem consigo imaginar o que é perder um pai repentinamente e de um jeito violento como foi com a família do Tomás. Às vezes me pego julgando a mãe dele por ela viver gastando dinheiro em superficialidades, porém acredito que deva ser uma solução temporária para suprir a ausência do esposo falecido. Se eu me entupi de brigadeiro quando terminei com o meu primeiro namorado, imagina quem perde o seu amado para a morte. No final das contas, cada um sabe a dor que carrega no peito e decide como amenizá-la. Não cabe a mim julgar o próximo. Com exceção do Erick, porque esse eu julgo até o último fio de cabelo. — Ela é gostosa? - Tomás pergunta e eu reviro os olhos. — A Eva tem dezesseis anos. — Pelas leis brasileiras, já posso brincar de cobrinha no buraco com ela. - sua voz soa brincalhona. — Nem ouse. - viro minha cabeça na sua direção. — Se você for ficar com uma das irmãs, tem que ser eu. - faço um biquinho. — Como se você quisesse ficar com um bolsominion. — Toda regra existe sua exceção. — E eu sou a sua? — Talvez... Nos olhamos por alguns instantes até sermos interrompidos por um grito agudo e ao olhar para trás, vejo a minha irmã correndo na minha direção. — Que saudades! - ela me abraça apertado e eu retribuo na mesma hora. — Tô tão feliz que cê tá aqui comigo. - sinto as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — Não chora. - Eva se afasta e limpa minha face delicadamente com as pontas dos seus dedos. — Eu trouxe biscoito de leite moça que a vovó fez. Sorri e chorei mais um pouco. É h******l ficar longe da sua família por tanto tempo e agora ter uma parte dela aqui comigo, enche meu coração de alegria. — Eu sou o Tomás. - o oferecido se apresenta e minha irmã estende sua mão para ele. — Eu sou a Eva, muito prazer. — Prazer só na cama. — Não curto pessoas que chamam político de mito. - ela replica e eu me engasgo com o ar. — Quem te contou? - indago, curiosa. — Tava te stalkeando e achei o Twitter dele. Sai de lá me sentindo muito inteligente... Se o Tomás passou para uma universidade pública, eu também consigo. - Eva debocha. — O Tomás é um dos melhores alunos do curso dele, uma pessoa incrível e tenho certeza que vocês se darão bem. - o defendo imediatamente, olhando f**o para a minha irmã. — Ninguém precisa ser rude com outras pessoas por causa de pensamentos diferentes. — Tá tudo bem, Pérola. No dia que eu me importar com a opinião de quem posta foto nua no i********: e fala que é empoderamento é porque morri e fui substituído igual a Avril Lavigne. Eita! A menina faz menção de ir para cima do meu amigo e eu tomo a atitude de ficar entre os dois. — Ok, percebi que ambos se stalkearam e é normal a curiosidade, mas vamos combinar de sermos civilizados e educados uns com os outros. - os repreendo, intercalando um olhar duro entre ambos. — Por mim, tá tudo bem. - ele levanta as duas mãos em sinal de rendição. — Acho a coisa mais i****a do mundo quem odeia as pessoas sem ao menos conhecê-las por causa de política, porque enquanto a gente tá aqui brigando, os caras engravatados tão tudo enricando às nossas custas. — Nem parece que é um burguês s****o. - implico. — Cala a boca. - Tomás diz rindo e me abraça. — Te amo. - ele sussurra a última parte próximo ao meu ouvido. — Também te amo. - respondo no mesmo tom de voz. — É bem legal ficar de vela. Podem continuar, eu não me importo. - Eva reclama, nos fazendo rir. — Olha, Eva, a gente pode ter nossas divergências políticas e vermos a vida de formas distintas, mas eu e a sua irmã somos melhores amigos. Vivo mais no apartamento dela do que na minha própria casa e vai ser impossível que nós dois não nos esbarremos constantemente por aí, por isso acho que seria legal sermos amigáveis um com o outro para evitar que a Pérola fique no fogo cruzado. - Tomás discursa e minha irmã parece pensar por alguns segundos. — Me leva para comer que eu penso no seu caso. - ela negocia do seu jeito. — Fechado! [...] Estávamos comendo do Burger King, conversando e nos divertindo para valer. Nem parecia que houve um estranhamento entre os dois há duas horas. Acho que o fato do Tomás ter feito questão de que o Roberto, seu segurança, sentasse conosco, fez a Eva perceber que ele não é um playboy esnobe como a maioria. — Muito bonito pra tua cara, vim no BK comer e não me chamar. - Jade surge do nada ao lado do seu namorado. Meu Deus, que susto! Ainda bem que o infiel tá com o p*u dentro da cueca. — Oi, delícia. - Tomás levanta-se, segura seu rosto com as duas mãos e a beija. Jade era linda, típica rata de academia, loira, peituda, coxuda, bunduda, magra e malhada. Um arraso de mulher. Eles formavam um belo casal. O que é fode é a falta de caráter por parte do macho. — Vou ao banheiro. - aviso por estar me sentindo levemente incomodada com o pombinhos na minha frente. — Também! - Eva fala quase na mesma hora que eu. — Posso ir com vocês? - Jade se separa do namorado e eu balanço a cabeça afirmativamente. — Mano, por que mulheres têm que ir sempre juntas ao banheiro? Vocês limpam a pepeca uma da outra com a língua? - Tomás ironiza, nos fazendo gargalhar. — Cala a boca, seu t****o. - digo antes de deixá-lo na companhia do Roberto na praça de alimentação. [...] Escolhemos um banheiro bem escondido, porque odiamos ir nos lotados e eu estava retocando a maquiagem em frente ao espelho quando a Jade saiu de uma das cabines e ficou ao meu lado. — Eu preciso da sua ajuda, Pérola. — Pra quê? — Quero descobrir se o Tomás tá me traindo. Ah, não! — Não me leva a m*l, Jade, mas eu não me sinto confortável em me intrometer no relacionamento dos outros. - me explico, tentando encerrar o assunto. — Você não se diz feminista? Acha certo eu está sendo enganada? Cadê a sua sororidade comigo? Esqueci de mencionar que além de bonita, ela não é nada burra.
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