(Pither)
Depois de quase dois dias viajando e dormindo em hotéis, por fim chegamos no lugar esperado.
- É... O velho é mesmo rico! Falei me virando para imensa plantação que cercava sua fazenda.
- Poderoso também! Papai disse passando sua mão sobre a testa.- Nossa tinha me esquecido como esse lugar é quente!
- Por que será que ele trouxe a Esther pra cá? Perguntei desconfiado. - O quê será que ele está tramando?
- Não sei! Por algum motivo ela caiu nas graças do velho! Ele disse passando um lenço sobre o rosto.
- Pai imagino como deve ter sido um saco convence-lo que você era um bom partido! Fiz uma piada para quebrar a tensão. Sabia que aquele lugar trazia muitas lembranças ao meu pai. Principalmente saudades da mamãe.
- Ele não teve escolha Pither! Sua outra filha já tinha fugido com o Pedro! Ou ele aceitava, ou ficava sem a Raquel também!
Sorri como papai descrevia a situação. O pó da estrada de terra invadia todo o carro, e ouvi o Bob dá uma latida da casinha de transporte.
- Calma Bob, já estamos quase chegando!
Entramos por um caminho que dava acesso a casa. O lugar era lindo, muitos pés de coqueiro enfeitavam a passagem, papai e eu nos admiramos pela quantidade de pés de frutas que haviam alí.
Parei o carro numa sombra, e descemos papai, eu e o cachorro. Um rapaz se aproximou de mim me olhando meio desconfiado.
- Boa tarde! Ele nos cumprimentou.
- Boa tarde! Respondi. - Será que dá pra avisar o meu avô que estamos aqui?! Falei sentindo minha garganta secar devido as altas temperaturas daquele lugar.
Uma mocinha baixa, morena clara e olhos castanhos passou indo para a parte externa da casa. Ela se virou para mim como se me analisasse.
- Ei espere! Falei dando uma corridinha até ela. Parei em sua direção tirando os óculos de sol e a olhando nos olhos. - Olá, me chamo Pither! Você poderia por favor avisar a Esther que eu estou aqui?
Ela ficou me olhando como se não falássemos a mesma língua. E eu fiquei pensando se ela tinha mesmo me entendido.
Papai se aproximou a cumprimentando, e ela pareceu despertar.
- Desculpe me chamo Ariadne! Ela sorriu constrangida. - Se eu a encontrar aviso que estão a procura dela!
Ela saiu e eu levantei as sobrancelhas confuso.
- Você sabe o que aconteceu aqui?
- Aah Pither! Ele disse batendo no meu ombro. - Se você quer realmente saber?! Pare de deixar as mulheres nervosas!
- Mais eu não fiz nada! Somente pedi um favor a ela... Respondi caminhando atrás dele.
- Esse é o problema, não fale da próxima vez! Ele foi em direção a porta da casa seguindo um peão que levava as malas.
Aquele lugar era enorme! Porém Bob precisava respirar. Abri a portinha da casa de transporte, deixando o sair para brincar. Um senhor que parecia ser um jardineiro me trouxe uma vasilha com água.
- Viajem longa? Ele sorriu educadamente.
- Nem me fale! Limpei o suor da testa.
- Ouvi o senhor falando com a Ariadne, procura alguém?
- Sim a minha noiva! Ela se chama Esther! Falei levantando meus olhos pra ele. Eu estava agachado enquanto via meu pobre filhote se esbaldar numa vasilha com água.
- Se for a mesma moça que chegou mais cedo, eu a vi na varanda agora pouco. Estava na rede.
Me levantei assoprando o ar pela boca.
- Se importa de cuidar dele um momento pra mim? Pedi ao jardineiro, me referindo ao cachorro.
- Claro que não! Eu já terminei o meu trabalho...
- Obrigado! Se por acaso ele não se comportar, leve-o para o meu pai lá dentro!
Ele assentiu e eu me virei indo em direção a parte externa da casa, onde de longe pude avistar minha amada Esther, com um vestido bege que já destacava a sua barriguinha.
Ela me viu chegar e notei imediatamente que ficou muito nervosa. Me senti culpado! Não era a minha intenção tirar a sua paz.
- O que veio fazer aqui? Ela me perguntou entre os dentes.
- Eu preciso falar com você... Respondi da forma mais baixa possível.
- Eu não tenho nada pra falar com você! Ela se virou como se não quisesse nem me olhar.
- Então pelo menos me ouve?! Me ajoelhei perante ela e peguei suas mãos. - Me perdoa Esther! Eu estou muito arrependido de tudo o que te falei... Volta pra mim?
Esther me encarou com seus grandes olhos azuis. Ela não acreditava no que vira, e eu aproveitei sua surpresa para continuar falando, antes que ela perdesse a paciência e me expulsasse dalí.
- Eu não devia ter falado aquelas coisas pra você! Eu tenho o dom de afastar as pessoas que eu amo, e você sabe disso... Mas me escuta?! Eu te amo! E mesmo que você me enxote daqui eu não vou embora, até que você me dê uma resposta!
- O que você quer Pither? Ela perguntou com seus olhos marejados.
- Eu quero você! Quero que você me perdoe e volte pra mim!
Ela balançou sua cabeça como se não concordasse com as minhas petições.
- Levanta daí! Ela me puxou. - Não sou melhor do que você! Não deve ficar assim! Tentei me aproximar dela mais Esther se esquivou. - Você não devia ter vindo! Eu não sou a mesma Néto!
Quando ela me chamou pela mesma forma como se dirigia a mim antes, eu tive certeza que ela ainda me amava, e não havia me esquecido. Toquei com a palma da minha mão sobre a sua barriga, e ela me olhou assustada.
- Eu vim por vocês! Toquei seu rosto com meus dedos. - Eu não posso te deixar agora!
- Quem te contou? Seu corpo estremeceu.
- Não importa! Respondi tentando abraça-la.
- Me diga quem te falou? Seu nervosismo era nítido.
Peguei o exame do bolso e mostrei a ela. Esther mexeu nos seus cabelos como prova de seu descuido.
- Você não precisa fazer isso! Não precisa ficar comigo só porque estou grávida! Ela disse chorando.
- Eu não estou te pedindo outra chance só por isso meu amor! Respondi.
- Neto! Se você quiser ir estou lhe dando um passe livre sem culpa! Você pode assumir o bebê quando nascer, mas não tem obrigação de ficar comigo! Eu vou engordar... E bebês choram a noite toda!
Sorri ao perceber a mesma pureza na Esther do orfanato presa feito um animalzinho indefeso, continuava alí na minha frente. Preocupada com o seu aspecto físico e com o peso que os dois seriam na minha vida! m*l sabia ela que eu queria tudo isso.
- Esther enfim eu vou ter a minha própria família! Não me mande ir embora! Eu quero ficar perto de você, e do nosso filho desde já... Eu já perdi muito tempo longe de vocês! f**a se você vai engordar ou não! Sei que os bebês choram, mas me deixe vivenciar tudo isso com vocês...
Eu a abracei percebendo que ela já não relutava mais. Senti o seu cheiro, e seu corpo junto ao meu foi tudo o que eu mais precisava naquele momento.
Me afastei a olhando nos olhos, ela parecia assustada, indefesa e meu extinto protetor se ativou naquele instante.
- Eu estou com medo Neto! Ela disse-me enquanto eu colocava minhas mãos em volta do seu rosto pequeno.
- Vamos passar por isso juntos! É só um bebê... Tudo vai dar certo! Falei a tranquilizando.
- Não! Não é... São dois! Ela respondeu preocupada.
- Dois? Perguntei como se não tivesse acreditando.
- Sim... Eu fiz o ultrassom são dois bebês! Seus olhinhos se mexiam assustados com a minha reação. Eu fiquei triste dela ter feito o ultrassom sozinha, do que saber que eram dois.
- Amor! Teremos gêmeos igual a nossa mãe... Lembra que eram gêmeas? Você é perfeita até nisso! Falei beijando a sua boca com carinho. Eu não queria pressa, passei muitas noites sonhando com esse dia.
(...)
Quando entramos na casa, Naná veio ao nosso encontro sorridente. Ela me abraçou com vontade e sussurrou no meu ouvido.
- Eu sabia que você ia entender o recado!
- Eu não conseguiria sem você! Respondi.
Nós nos afastamos e ela nos puxou para a mesa.
Cumprimentei por educação o meu avô. Alí só o que me interessava era a Esther! Tirar ela dali, junto com Naná. E voltarmos para São Paulo, o lugar onde nunca devíamos ter saído.
Miguel apareceu a mesa e eu o fuzilei com os olhos. Ele sabia o motivo do meu descontentamento em relação a ser o último a saber, que a minha garota está grávida.
Esther não estava se alimentando bem, e isso muito me preocupou. Se ela não percebeu tinha dois seres que dependiam de si agora.
Depois da refeição ela pediu licença para todos e foi descansar. Não sei se meu avô sabia da sua gravidez, mas ele compreendeu perfeitamente.
Miguel sentou se ao meu lado enquanto papai ainda conversava com o meu avô.
- Vem comigo eu preciso falar com você! Ele falou com o canto da boca.
- Eu não tô afim de conversar! Respondi entre os dentes.
- E eu não tô pedindo! Ele disse puxando o meu braço. Levantei antes que me pusesse ao ridículo.
Fomos para fora e ele se virou para a mim.
- Você e eu temos que conversar... Miguel começou. - Não gostei nada da sua cara quando cheguei!
- O sentimento é mútuo! Respondi me sentando nos degraus da entrada da casa.
- Eu sei o que você deve estar pensando... Que estou por trás de toda essa idéia da Esther não te contar sobre a gravidez!
- E não está? Revidei ainda atormentado.
- Não claro que não! Ele se sentou olhando pra frente, na mesma direção que eu olhava. - Eu flagrei a Esther vomitando no banheiro! Há dias ela vinha passando m*l, e eu a pus contra a parede! Ela me contou sobre o bebê, mas me fez jurar que eu não podia dizer nada a ninguém! Eu não concordei com ela! Tentei convence-la, mas ela é muito cabeça dura!
Me senti culpado por saber que ela passava m*l todo esse tempo longe de mim. E eu egoísta o bastante para duvidar dos seus sentimentos... Eu definitivamente não a mereço!
- Há quanto tempo ela está assim?
- Naná me disse que ela vem passando m*l desde o dia em que você chegou no hospital baleado. Mas as duas só foram ter certeza, quando os médicos já tinham te liberado para voltar pra casa!
Tudo faz sentido agora! Suas variações de humor, sua sensibilidade, e até a sonolência ... Ela já estava grávida desde aquela época, e eu não sabia de nada!
- Sabe Pither... Miguel se virou pra mim enquanto eu o olhava sério. - Esther é a minha irmã, e você foi um babaca com ela! Mas eu não vejo alguém melhor que você para cuidar dela e dos bebês! Ela está muito confusa e desorientada! Também não esperava que isso ia acontecer justo com ela... Está muito perdida! Mas sei que juntos vocês vão achar o caminho de volta!
Assenti para Miguel e voltei a olhar para frente, observando os pássaros. Aquela tarde linda que se encerrava, mostrava um novo renovo nas nossas vidas.
(Esther)
Pither apareceu cheio de culpa, me abraçando e fazendo planos pra gente. Nós não tínhamos conversado ainda, ele precisava esclarecer algumas coisas. Eu estava aérea demais naquele momento.
Depois de uma boa soneca, me virei na cama e ele estava lá ao meu lado me olhando.
- Desculpa se eu te acordei! Ele disse da forma mais gentil possível.
- Há quanto tempo está aí? Perguntei.
- Estava te admirando dormir! Ele pegou minhas mãos e beijou cada uma delas. - Você não tirou o anel?! Falou sorrindo quando encontrou no meu dedo o anel que ele tinha me dado.
- Nem para tomar banho! Brinquei.
- Eu já te pedi em casamento duas vezes... Ele me olhou com carinho.
- E eu já aceitei as duas! Respondi fitando seus olhos.
- No próximo dia oito está bom pra você? Ele perguntou.
- Dia oito? Do que você está falando?
- A gente não tem porque esperar Esther... Nosso amor já superou a tantas coisas! Se você me ama e eu te amo não vejo porque adiarmos mais!
- E porque necessariamente você escolheu dia oito? Perguntei curiosa.
- Porquê oito é o símbolo do infinito! E é assim que eu vejo nos dois... Juntos pra sempre!
Sorri com a forma que ele pensava na gente, enquanto seus dedos acariciava meu rosto.
- Neto! Posso te perguntar uma coisa! Falei me lembrando do sonho que tivera antes de vim pra fazenda, onde Pither e uma moça bebiam numa mesa.
- Claro meu amor! Pergunte o que quiser!
- Nesse tempo que ficamos separados você ficou com outra pessoa?
Pither se remexeu na cama como se ficasse incomodado com a minha pergunta. Ele olhou para o teto e depois se voltou para a mim.
- Nãoo! Não vou negar que apareceram mulheres, mas eu não consegui! O mais longe que cheguei foi tomar um drinque num bar, com uma estranha que apareceu do nada! Mas a Pâmela chegou e me levou pra casa!
Levantei às minhas sobrancelhas com a sua confissão, ele poderia ter mentido mas assumiu o que eu já sabia.
- Obrigada! Respondi tocando seus cabelos. Ele me olhou confuso. - Pela sua honestidade, eu precisava disso!
- Esther! Eu te amo tanto que até dói! Juro que vou cumprir tudo o que te prometi! Vou realizar todos os seus sonhos, e nós dois ainda iremos ser muito felizes...