Tentação
(Esther)
Sepultar o meu pai foi uma das coisas mais difíceis que eu já fiz na vida. Eu tive o apoio do Miguel o tempo inteiro comigo. Pra falar a verdade ele era o meu irmão mais próximo e eu o amava incondicionalmente. Lorenzo ficou o tempo todo calado, Matheus se apoiou todo tempo em Luísa e eu me comovi com o carinho que eles tinham um pelo outro.
Pither se manteve próximo, Naná conversou um bom tempo com ele. Imaginei que ela quisesse matar a saudade do seu "Menino de Ouro".
Mas a surpresa do dia foi um avô que eu nem conhecia, chegar de repente e mostrar compaixão pelos netos que ele nem se lembrava que existia.
Fiz cara feia quando o vi conversando com Matheus.
- Esse é o nosso Avô! Miguel cochichou no meu ouvido.
Ele me analisou dos pés a cabeça, como um advogado que investiga um caso.
Depois que todo o cortejo seguiu para o cemitério, Matheus quis dizer algumas palavras. Me emocionei com o seu pequeno discurso sobre o bom pai que Pedro foi pra ele! E toda mágoa que um dia senti pelo meu pai já tinha ido embora. Ouvindo como meus irmãos apesar de morarem longe, amavam ele.
Me agachei colocando uma rosa branca sobre o túmulo e sequei a lágrima que escorria sorrateiramente pelos meus olhos. Quando me levantei Pither estava me olhando, seu olhar sério e sua testa franzida me trouxe algumas lembranças.
As vezes eu me sinto culpada por ter me apaixonado por ele primeiro! Por ter pedido pra ele me beijar diversas vezes, e por ter escolhido ele pra ser o primeiro homem da minha vida. Talvez Pither nem queria tudo isso! Talvez eu tenha insistido demais... Eu nem sei o que pensar! Estive apaixonada por ele desde a primeira instância, ele sempre foi tudo o que eu pedi a Deus! Mesmo ele tendo me enxotado de sua casa, eu sei o quanto ele é bom e generoso!
Saímos todos juntos do cemitério, Luísa pegou no meu braço e começou a conversar.
- Eu sinto muito pelo seu pai! Ela disse enquanto caminhávamos devagar. - Era o pai do Matheus também mas... Vocês passaram tão pouco tempo juntos!
- Foi suficiente amiga, para saber o quanto ele era maravilhoso! Falei tocando suas mãos que entrelaçavam meu braço.
- É verdade... Concordou . - E você vai voltar com a gente? Ela perguntou esperançosa.
- Creio que não! Falei desanimada.
- Eu sei que você e Pither brigaram mas isso é só questão de tempo... Vocês vão se entender! Ela se virou pra mim quando chegamos na pracinha. - Eu até ficaria com você mas Liam está preso e meus pais estão muito chateados!
- Olha Luísa eu sei que de alguma forma você me culpa! É seu irmão! E é natural que você o proteja...
- Esther! Liam está sendo indiciado pelo atentado contra a vida do Pither!
- O quê? Perguntei incrédula.
- Sim! Achei que você sabia... Déborah deu seu depoimento dentro do hospital contra Liam, após ter caído da escada! Ela não tinha mais nada o que perder e disse que "Se ela caísse, levaria todo mundo com ela!"
Fiquei horrorizada com tantas informações envolvendo tantos criminosos, que de alguma forma faziam parte da nossa vida! Estava tão assustada que não percebi que alguém se aproximava.
- Então Liam... Comecei mas parei minha frase no ar, quando vi Pither se aproximando atrás de mim.
Luísa se levantou dando um mero sorriso, e deu um tapinha no ombro dele.
- Vou sair para vocês conversarem! E me olhou mostrando compreensão.
Pither não se sentou, sua expressão era fria e desafiadora. Levantei o meu olhar pra ele, tentando procurar respostas para o seu grande aborrecimento.
- E então... Vai compartilhar comigo a conversinha com a sua amiga? Ele levantou sua sobrancelha mostrando indignação. - Ou talvez você não queira falar comigo sobre o Liam!! Ele deu um ênfase no nome do irmão da Luísa.
- O que você está querendo dizer Neto? Perguntei me dando conta que ainda o chamava como antes.
- Não se faça de sonsa Esther! Eu ouvi você falando sobre o Liam! Ele me olhou com fúria.
Ah então era isso! Ele tinha me ouvido falando com a Luísa e com certeza entendeu tudo errado.
- Em primeiro lugar é falta de educação ficar ouvindo as conversas dos outros sabia? Falei zangada.
- Me poupe do sermão de bons modos Esther! E tenha a decência de me dizer que ainda se importa com aquele desgraçado!
- Eu não me importo com o Liam! Pither balançou a cabeça se virando para o lado. Como se não acreditasse em nada do que eu dissesse. - Olha! Se você não acredita em mim porque está aqui exigindo explicações?
- Você não entende né?! Ele disse me encarando de frente. - Você partiu o meu coração quando foi embora... E eu vim aqui para tentar uma reaproximação, e pego você falando daquele miserável!
Me levantei no mesmo instante batendo de frente com ele.
- Eu parti o seu coração? Sério isso Pither? Você me expulsou da sua casa como seu eu fosse qualquer uma! Me disse coisas horríveis como, aproveitadora e mentirosa! E jogou na minha cara centenas de vezes que não queria mais me ver...
- Esther tente me entender eu estava machucado, aquela diretora...
- É esse o problema! Você não confia em mim! Falei sem perceber que o meu tom de voz estava elevado. - Sempre vai ser assim... O que os outros falam tem mais valor! Uma conversa minha com a Luísa m*l interpretada te deixa louco, e você tira conclusões erradas!
- Vai negar que estavam falando dele? Ele disse chegando perto do meu rosto.
- Não! Eu não vou negar! Mas não do jeito que você está pensando...
- Se você tivesse vergonha nem mencionava o nome desse cara, depois de tudo que ele nos fez! Ele disse exasperado. - Claro! Isso se você realmente estiver contra ele!
bofetiei Pither naquele instante fazendo seu rosto estralar. Ele se virou para mim rosnando de fúria.
- Sua... Seus olhos vermelhos entregaram sua raiva, e ele parou antes de completar a frase.
- Isso! Me ofende de novo! Diga em alto e bom som o que você acha de mim! Falei gesticulando as minhas mãos.
- Você vai se arrepender do que está me dizendo! Ele disse trincando seu maxilar enquanto passava as costas da mão por sua boca e desinquieto.
- Eu me arrependi foi de ter me apaixonado por você... Você não sabe o quanto! Falei.
Naquele instante os olhos de Pither encontraram os meus, e tive certeza que minha resposta foi certeira, e eu tinha lhe atingido. Naná chegou como um relâmpago nos interrompendo.
- Meninos parem com isso! Vocês estão em um cemitério! Por que essa gritaria?
Pither se virou para ela passando a mão sobre o rosto.
- Não se preocupe Naná, eu não tenho mais nada o que fazer aqui! Ele saiu como se não soubesse para onde ir. Me virei para ela vendo todo o seu descontentamento.
- O que você disse pra ele? Ela perguntou surpresa.
- O que eu disse? Ele que me ofendeu! Falei me sentindo injustiçada.
- Esther essa era a oportunidade de vocês se acertarem... Ele é o pai dos bebês!
- Não ele não é! Meus filhos são só meus! Falei cheia de raiva e tensão na voz.
(Pither)
Saí de perto de Esther até meio desnorteado! A voz dela não saía da minha cabeça, alegando seu arrependimento em ter me amado um dia. Era tudo o que eu não queria ouvir! Saber que ela me via como um erro da sua vida, me fez sentir a pior pessoa do mundo! Eu lá todo enciumado. E ela me esfregou na cara que não se interessa mais por mim!
Juro que queria uma reconciliação mas quando ouvi ela falar o nome daquele desgraçado... Eu fiquei muito m*l!
Vi Naná se aproximando pisoteando a grama para me alcançar.
- Pither me espera! Me virei para olha-la nos olhos. - Pra onde você vai?
- Pra casa ué! Não tenho mais nada o que fazer aqui! Respondi com desdém.
- Você não pode ir embora assim! Ela disse em tom de súplica.
- Claro que posso! Aqui ninguém me quer por perto! Desferi às palavras com mágoa.
- Não diga isso! Você sabe que eu te amo meu filho!
- Me ama mas ainda assim prefere ficar aí com ela, ou estou enganado? Ela baixou sua cabeça sem resposta. - Foi o que eu pensei! Falei abrindo a porta do meu carro e ameaçando entrar nele.
- Pither espera! Ela segurou o meu braço. - Tudo tem uma explicação! Todas as respostas que você precisa está no quarto de Esther, na primeira gaveta do criado mudo...
- A resposta é simples Naná... Ela não me ama mais!
Entrei e bati a porta do carro, coloquei a chave na ignição e o liguei dando uma ré para sair. Vi o olhar triste de Naná me segui, acenei para ela e fui embora jurando nunca mais voltar.
(...)
Nada dura para sempre... Incluindo o amor de Esther que durou tão pouco feito a minha abstinência por álcool. Quando cheguei em São Paulo, parei num barzinho bem aconchegante numa esquina qualquer.
- Uísque duplo com gelo! Pedi ao garçom escolhendo uma mesa.
Passei a mão pelos cabelos já era noite e todo o cansaço do dia me acumulava. Inclusive o desprezo dela! Eu cego de ciúmes e amor reprimido, e ela debochando dos meus sentimentos daquela forma. Eu sou um i****a! Não devia ter me entregado! Me apaixonado feito um bobo... Eu sabia que isso ia acabar m*l! É bem feito pra mim! Nunca mais vou me deixar levar por mulher nenhuma, são todas iguais... No final nos magoam, pisoteando em nossos sentimentos!
Virei todo o copo de bebida sentindo queimar goela abaixo e pedi outro. Limpei a boca com o guardanapo e esperei o garçom ansiosamente. Se tinha um jeito de esquecer meus problemas era esse! Tinha certeza que mais duas doses e eu nem lembraria mais o nome dela.
Foi nessa hora que eu vi um par de pernas compridas cruzarem minha mesa e sentar em uma das cadeiras.
- Posso me sentar? Uma voz sedutora me perguntou.
- Já se sentou! Falei tomando mais um gole do meu uísque.
- Eu estava te observando da minha mesa... E você sabia que a gente tem muita coisa em comum?
- Não me diga! Falei entediado. - Tipo o quê?
- Nós dois somos solitários e gostamos de uma boa bebida! Ela disse pegando o meu copo e provando um pouco, deixando uma marca de batom sobre ele.
- Não sou solitário! Só gosto de beber sozinho! Respondi sem rodeios.
- É uma pena sabia? Já conheci muitos caras bonitos, mas você se destaca! Ela sorriu maliciosamente.
- Ah é? E por que? Revirei meus olhos.
- Por que você não é só bonito... Também é muito atraente! Posso beber com você?
- Acho que hoje não sou uma boa companhia pra ninguém! Respondi sendo sincero.
- Impossível! Ela disse chamando o garçom. - Você sabia que eu me amarro em homens que tem olhos verdes? É tão sexy!
Tomei mais um gole do meu copo sentindo minha boca amortecer. A moça era branca, cabelos pretos e escorridos na altura do quadril. Era bonita não posso negar, mas não pra alguém nas minhas condições.
- Você vêm sempre aqui? Ela perguntou.
- Não é a primeira vez, e você?
- As vezes! Justo hoje minha amiga me deu um bolo! Ela fez beicinho.
- Que chato! Respondi não me importando.
- Que sorte você quis dizer! Ela me olhou com saliência. - Não é todo dia que se encontra um cara como você num bar!
- Tipo meio perdido? Zombei de mim mesmo.
- Eu diria outra coisa... Como interessante! Como você se chama? Ela perguntou se aproximando mais de mim.
- Pither! E você?
- Pither como o "Homem Aranha?" Sorri da sua péssima piada. - Não acreditaria se eu dissesse que me chamo Mary Jane, né?!
- Fala sério! Ri de sua ousadia.
- Sou Gabriela! E estou completamente encantada... Ela sorriu passando a língua sobre os lábios como se quisesse me dizer alguma coisa.
Olhei para o lado esperando ver o garçom para pedir a conta.
- Me diz o que leva um homem, a beber num dia de quarta feira? Ela me encarou nos olhos.
- Ando com a garganta seca! Respondi ironicamente.
- Ou está afogando as mágoas? Ela colocou seu queixo sobre a mão como apoio. - Me diz como ela se chama?
- Isso não importa mais! Respondi entornando o resto da bebida.
- Me diz Pither com o que você trabalha? Ela se mostrou interessada.
- Sou médico! Falei com desdém.
- E eu achando que você não podia ficar mais interessante... Disse sorrindo.
- Está flertando comigo?! Fingi de desentendido.
- Se não gostar coloque na conta do álcool! Ela sorriu e eu acabei rindo do seu senso de humor. - Mas se gostar... Ela continuou e tocou no meu braço com suas unhas grandes.
Gabriela era ousada! Ela se aproximou mais ficando ao meu lado. E eu senti que precisava ir embora.
- Você deve ser maravilhoso na cama!... Ela disse sussurrando no meu ouvido e roçando seu nariz pela minha pele.
- Lamento te dizer que nem tanto! Falei engolindo em seco.
- Dúvido! Gabriela colocou sua mão sobre a minha calça. - Com um pauzão desse... Acho difícil não satisfazer uma mulher!
Comecei a ficar um pouco nervoso, me virei para o lado procurando uma saída. Há dias eu não transava! Meu nível de tolerância estava baixo, e ela estava perto demais.
- Nossa como você é cheiroso! Ela disse ainda colada na minha clavícula.
- Já disse que eu não sou uma boa companhia! Repeti a frase para me salvar.
- Ah meu Deus! Ela se assustou. - Você é gay? Disse com a mão sobre a boca.
- Claro que não! Falei sério. E ela tocou o meu queixo fazendo menção de um beijo. - Mais estou apaixonado!
Desviei meu rosto e ela gargalhou como uma hiena sobre a cadeira.
- Eu não estou te pedindo em casamento!
O garçom me trouxe outro copo e eu aproveitei e virei um pouco da bebida.
- E então? Senti o líquido queimar.
- Eu tenho um apartamento perto daqui... Fica comigo essa noite? Eu estou muito interessada em você Pither! Prometo fazer você esquecer essa garota que está te machucando...
Seu sorriso pervertido se abriu enquanto eu virava o uísque do meu copo.