Victor
A Lara adormeceu nos meus braços, depois que eu a beijei até nossas bocas ficarem inchadas.
Foi um desafio sair do lado dela. E eu estava ciente dessa dependência quando a cobri, escondendo o corpo lindo dela.
Eu não pude ficar olhando as marcas que ela carregava, porque precisava pensar em como lidar com aquilo sem destruir tudo, mas a exaustão dela abrandou um pouco da raiva que eu senti ao perceber o tão perto da i********e dela que aqueles chicotes chegaram.
Eu ia descobrir o que aquele velho fez a ela e o principal, ele ia pagar em vida.
Tirei os pratos e coloquei no carrinho do corredor. Eu não tinha ideia de que horas eram, mas não ia pedir para ninguém limpar a bagunça que eu fiz, enquanto ela dormia nua e desprotegida.
Seria tão fácil tirar tudo dela, e era o que eu queria, no fundo. E ela me entregaria de bom grado, mas ainda não era hora. Eu precisava lidar primeiro com as consequências do sequestro.
A Valéria me esperava no escritório, apenas de robe, e eu sabia que ela estava nua por baixo.
- Imaginei que precisasse se aliviar. - Ela justificou assim que eu entrei, ficou de pé e abriu o robe.
Sim, ela não tinha nada por baixo.
- Não é necessário. - Ela me olhou surpresa.
- Então você a tomou! - Eu bufei.
- Não. - Ela me deu um sorriso malvado, do tipo que me faria meter na boca dela.
- Então precisa sim se aliviar, ou os gritos dela foram alucinações da minha cabeça? - Me aproximei da desgraçada e segurei com força no braço dela.
- Se cubra e vá para a cama! - Eu não queria lidar com qualquer que fosse a trama dela, não agora.
- Para a sua cama? - Apertei mais o braço, perdendo a paciência.
- Para a sua! Os seus serviços não são mais necessários, pelo menos não para isso!
Algo como tristeza passou pelo rosto dela, mas ela fez o que mandei. Fechou o robe e saiu do escritório com a expressão dura, de certo para manter o orgulho dela.
A Valéria foi um delírio durante os últimos anos. Ela foi a primeira mulher com quem eu me deitei, e me ensinou muito do que eu sei sobre sentir e dar praz£r. E ela sempre soube que nossa situação era temporária. Que um dia eu casaria e não teríamos mais nada. Eu nunca a impedi de se relacionar com ninguém, e tinha até um nível de carinho por ela; mas, desde que conheci a Lara, até nos momentos que eu me enterrava na Valéria, era por ela que o meu corpo pedia.
E não parecia certo me aliviar agora, com outra mulher, depois da entrega total da Lara. Mesmo depois de prendê-la nessa casa. Então, a Valéria vai superar, e continuará sendo a minha governanta. Talvez se afeiçoe a Lara…
Peguei o celular e liguei para o Giovanni, sentado na minha cadeira. Era hora de entender o tamanho do estrago das minhas ações. Sorri ao pensar nas consequências que eu tinha colhido até ali, o meu nome saindo daqueles lábios doces enquanto ela tremia desesperada na minha boca.
- Chefe? - Ele atendeu no primeiro toque. - Achei que ela já tinha te esfaqueado a essa altura.
- Ela não é assim! - Bufei. - E como foi tudo?
Ele me contou tudo.
Depois que eu saí da igreja eles liberaram a família dela, e enquanto o velho xingava ameaças o pai dela não se deu ao trabalho nem de chorar. O velho jurou que se vingaria, que iria acabar com todo e qualquer Romano daquele dia em diante se eu não devolvesse a neta dele; o noivo sumiu.
- Ele evaporou Vitão, sem deixar rastros. Parece até um fantasma! - Eu deveria ter atirado nele assim que pisei na igreja.
- E o padre, vai nos delatar? - Ele deu uma risada forte.
- Com a doação que você fez? Duvido muito. E ele será morto se alguém descobrir que ele ajudou de alguma forma.
- Ótimo. Preciso de mais um favor. - Ele ficou em silêncio. - Quero saber detalhes das punições que a Lara recebia, as motivações, o que era usado e quantas vezes aconteceram até hoje.
- Eu não to gostando do rumo disso! - Ele tentou brincar, mas nenhum de nós dois riu.
- Foi o avô, eu não tenho dúvidas, mas o pai foi conivente, então ele deve pagar também. - Eu expliquei.
- Chefe, você está levando essa história toda muito pro lado pessoal.
- Se tornou pessoal Gio, e não quero questionamentos, quero ações. - Ele respirou fundo.
- Uma moça me abordou na saída da igreja. - Ele falou. - Disse que era a governanta da menina, e que queria saber se ela ficaria segura.
- O que você disse?
- Que ela estaria segura o quanto que uma Belladona estaria nas mãos de um Romano. E a mulher ajoelhou aos meus pés, implorando para que eu não deixasse nada acontecer com a menina.
Deveria ser a moça que vi no quarto dela.
- Me alivia que alguém realmente se preocupava com a Lara naquela casa. - Ele deu uma risada forte com as minhas palavras.
- Se você não fosse um monstro eu diria até que tem sentimentos por essa moça. - O meu coração acelerou no peit¢.
- E o vovô? - Precisei mudar de assunto.
Seja lá o que eu tenha ou sinta por Lara, nas minhas decisões não poderia ter espaço para sentimentos. Cada ação precisava ser tomada de cabeça fria. Ela estava aqui, na minha vista e sob a minha proteção, não tinha necessidade de agir como um maricas.
- O vovô ainda não sabe, mas a tia… - Fechei os olhos e apertei a têmpora. - Não sei se foi o padre ou se a sua mãe nos ouviu, mas foi eu passar da porta e ela me prendeu no lavabo. Eu mantive a história. Que você viajou e que ia demorar para voltar. Só que a sua mãe…
- Eu sei, ela pode ser dificil. - Ele pigarrou.
- Sim. Ela perguntou apenas se você machucaria a menina.
- E o que caralh0s você respondeu? - Eu subi uns dois tons de voz.
- Que você não era o tipo de homem que macula meninas inocentes, que ela deveria conhecer o homem que ela criou. - Apertei os lábios em uma linha fina. - Ela me deu um tapa, mas saiu sorrindo do lavabo.
- Ela sabe. - É claro que a minha mãe sabia. Ela era observadora demais para não perceber qualquer mudança minha. E uma viagem minha no dia que a garota que deveria estar morta some do altar… é ela sabia. As mulheres sabiam de tudo o que os homens faziam dentro de casa, ou mesmo fora.
Uma ideia me ocorreu.
- Gio? A moça que implorou pela Lara, preciso que a encontre.
- Eu não estou gostando disso. - Ele falou, o tom de brincadeira sumindo da voz.
- Converse com ela, e peça para ela te falar tudo que ela viu o velho fazer com a Lara. Ela sabe, com certeza.
- Isso vai dar bost¢! - Ele me alertou.
- Não me importo, descubra tudo. E depois encontre o desgraçado do noivo, quero ter um particular com ele, quero entender exatamente o que ele ganharia com esse casamento.
- Considere feito! - Ele desligou e eu fiquei ali, segurando o celular e olhando para a foto do meu pai que ficava de frente para a minha mesa. Ele nunca aprovaria o que eu estava fazendo.
Ele sequestraria ela apenas para se vingar e devolveria ela em pedaços para os Belladona, uma mensagem clara.
Só que eu não era o meu pai. Eu era muito pior.