Lara
Eu ainda fiquei encarando a porta por um tempo depois que ele saiu.
A minha esperança que ele me explicasse o motivo de tudo aquilo foi sendo minada e o meu corpo ainda latejava de expectativa pelo toque dele.
Eu perdi a cabeça, por meio segundo, e quase me entreguei a ele. Eu quase implorei por isso...
Só que ele me sequestrou. Eu estava presa, mesmo que as grades não fossem visíveis e eu estivesse em um quarto muito confortável.
Depois de minutos ou horas, eu me movi, sentindo as pernas doloridas de tensão. Observei os detalhes ao meu redor e ao encarar as roupas no armário do canto, finalmente senti repulsa de mim mesma.
O tecido do vestido estava arranhando a minha pele e eu me senti sufocando dentro dele.
Com uma última olhada para a porta, eu finalmente soltei os botões nas minhas costas, sentindo o ar preencher o meu pulmão. O vestido deslizou pela minha pele e eu respirei fundo algumas vezes, enquanto me dava conta que a sensação esmagadora de quando eu o vesti tinha desaparecido.
Eu não precisaria ser tocada por aquele homem nojento, que o meu avô determinou; não hoje, e pelo menos, não em um futuro próximo.
Eu fui sequestrada, e estava presa. Eu sabia que eu não poderia sair daqui, mas mesmo assim, nunca me senti tão liberta.
Ele me salvou.
De uma forma completamente inconsequente e com intenções duvidosas, mas mesmo assim, ele me salvou.
Ainda de lingerie eu caminhei até o espelho e encarei a expressão. Eu estava vermelha e com os olhos brilhantes de emoção, e não pude deixar de sorrir.
Eu estava, de uma forma muito estranha, livre.
Com cuidado, soltei os fios do meu cabelo, o penteado completamente destruído…
- Lara… - Ele entrou no quarto, pela porta anexa, sem bater e congelou ao me ver.
Os olhos dele dançaram pelo meu corpo, e eu sabia que deveria me cobrir, mas não fiz. Ele tinha ido comigo além do que qualquer pessoa no mundo, ele tinha feito eu me sentir inteira e desejada, e eu o queria, mesmo que isso comprovasse que eu não era coerente.
- O que foi? - Perguntei, quebrando o silêncio doloroso.
Eu sabia o motivo da reação dele. Eu não estava apenas de lingerie, eu estava vestida para as núpcias…
Os olhos dele subiram dos sapatos, pela meia que prendia nas minhas coxas, presas por uma liga de renda, que ia até a calcinha do espartilho. O espartilho era indecente em níveis inaceitáveis, com transparências que revelam muito dos detalhes do meu corpo, o decote cavado assegurava uma visão do meu colo…
- Você deveria se vestir. - A voz dele saiu como se fosse fumaça, esganiçada e cheia de… Desespero?
Olhei para mim mesma, ciente do que ele estava vendo, ciente demais que ele estava a poucos passos de mim. Eu não me dignei a responder, voltei a soltar o cabelo, dando as costas para ele.
Ele respirou com dificuldade e o som aqueceu a minha pele.
- Você veio até aqui… - Eu falei, soltando a última mecha de cabelo, finalmente. - O que precisa?
- Que você se cubra! - A ordem nas palavras dele deveriam me fazer tremer, mas o efeito foi contrário. Eu o queria… - Eu… - Ele lutava para formular as palavras de eu não pude deixar de sorrir.
- Victor, nunca viu uma mulher seminua? - Coloquei uma mão na cintura, me sentindo completamente poderosa. - Estou coberta, pelo menos, nas partes mais importantes.
- Você entende o que está fazendo? - Mexi no cabelo, tirando os nós das ondas marcadas pela trança, e visitei o pensamento que eu estava ignorando desde que ele entrou.
Eu deveria temer aquele olhar, eu deveria temer estar tão exposta. Eu estava sendo ousada como nunca fui, mostrando tanta pele para ele, uma coisa que homem nenhum jamais viu, além dos momentos das minhas punições. Talvez isso me deixasse à vontade para isso. Nas mãos dele eu conheci apenas praz¢r.
Latente e doloroso, mas apenas praz£r.
- Eu entendo, mas veja… - Me virei de frente para ele, erguendo o queixo, deixando aquela confiança me invadir. - Você entrou sem bater. - Ele levantou as sobrancelhas. - E mesmo que a casa seja sua, eu imaginei que estava segura dentro dessas paredes. Ainda me sinto segura… Mas, se a forma com que estou me vestindo te incomoda, por favor, saia. - Ele abriu a boca para discutir, mas não o fez.
Na verdade, era possível ver a luta que ele travava, assim como um pouco antes, uma luta interna, que eu queria muito que ele perdesse. Então eu esperei, e eu poderia julgar o carater dele, com base no que ele faria agora, só que, a atitude dele resultaria apenas em ações positivas para mim.
Se ele saísse, ele demonstraria o tamanho da nobreza dele, diante de uma mulher seminua e vestindo algo provocante; E se ele ficasse, bem… Eu teria que considerar isso, não?
Ele me beijaria? Ele me tocaria como fez na cachoeira?
Ele não pararia, como me alertou pouco antes?
- Eu vou… - Ele deu um passo para trás e desviou o olhar, pela primeira vez, desde que entrou no quarto.
Nobre.
- Então? - Eu incentivei e me movi. Dando um passo para frente. Os olhos dele subiram pelo meu corpo de novo, e meu coração vacilou uma batida, quando ele fixou o olhar entre as minhas coxas.
Ele apertou o olhar e deu um passo para frente, puxando todo o ar do meu organismo.
O avanço dele não foi felino e sedutor como todos os outros, ele endureceu e levantou o olhar, analisando o meu corpo de novo, um vinco forte no meio da testa.
Os olhos dele pararam nos meus, e eu senti, finalmente, vontade de me cobrir. O olhar dele não era mais de admiração e desejo.
Ele virou rápido e antes de passar pela porta, eu consegui ver os olhos dele de novo, e um soluço me escapou.
Raiva, era tudo o que eu via no olhar dele.