Victor
Desde o instante em que vi a Lara, algo dentro de mim se partiu e renasceu.
Ela me atraiu como nenhuma outra. O desejo de possuir aquele corpo, de ter aquela mulher para mim, começou como uma fagulha e agora era um incêndio incontrolável, que ardia e queimava todas as minhas outras preocupações. A ideia de outro homem, ainda mais um monstro como o Vitale, se aproximar dela e sequer ousar chamá-la de esposa era insuportável. O pensamento era doloroso.
O Giovanni me observava em silêncio, desde que saí daquela maldita casa. Ele não falou nada, tampouco eu.
Eu deveria ter tirado ela de lá! Ela foi machucada, punida, e eu deixei ela lá!
— O que mais você descobriu? — Eu perguntei, depois do que pareceu uma eternidade. Meu primo respirou fundo, e pensou bem se falaria alguma coisa, talvez percebendo o fervor com que eu segurava o copo em minhas mãos, como se ele fosse o pescoço de quem ousasse se colocar entre mim e a Lara.
— O noivo… — Ele começou e eu senti os meus nervos endurecendo. — É um primo distante, outro sobrevivente Vitale. — Eu assenti, juntando as peças. — Oficialmente, ele não carrega o sobrenome Vitale. Ele assumiu o nome da primeira esposa. — Ele fez uma pausa, como se o que pudesse falar fosse pior do que tudo o que já estava falando.
— Fala, POHA! — A impaciência já tinha tomado cada respiração minha.
Ele não se abalou com o meu descontrole; ele era frio e calculista, por isso, eu me prepararei para o que ele estava prestes a falar.
— Parece que ele já perdeu três esposas, todas mortas sob circunstâncias… obscuras. Nenhuma deixou herdeiros, Victor. E, pelo que sei, ninguém ousou investigar a fundo. — Eu não conseguia mais ficar sentado. Apertei com força os punhos, até sentir a dor praz£rosa do controle.
A dor não veio.
— Mortas? Sem filhos? — As palavras saíram como se o ar fosse veneno. — Quem em sã consciência deixaria alguém casar com esse homem? — O Giovanni levantou as sobrancelhas, surpreso. — Que tipo de pai daria sua filha como um cordeiro ao sacrifício?
— É um acordo vantajoso para os Vitale, ao menos no papel. O homem é meticuloso, e nada o liga diretamente às mortes. Nenhuma investigação sequer foi iniciada. — Ele manteve o tom tranquilo, mas percebi um brilho de preocupação.
Cada detalhe de informação só piorava a urgência crescente de fazer alguma coisa. E eu faria, com certeza, alguma coisa… Qualquer coisa.
A imagem dela ao lado de um homem frio e assassino... era insuportavel.
— Giovanni, quero cada detalhe desse casamento… — Ele arregalou os olhos. — E quero os melhores homens, com um plano sólido para invadir a cerimônia. — Ele continuou em choque, me observando, como se eu fosse um louc0. E talvez eu fosse. — Vou tirar ela de lá, nem que tenha que enfrentar cada homem que se colocar no meu caminho.
Ele levou alguns segundos para absorver as minhas palavras, antes de responder.
— Victor… você está cego por ela. Já passou da obsessão. — Ele disse, com um respeito que só ele conseguia. — Como você pretende fazer isso? E mais… onde vai escondê-la? Ela é uma Belladona. Você sabe o que isso significa para a nossa família. Se o Vovô descobrir que ela está viva… ele vai acabar com ela! — Eu sabia disso. Sabia que a Lara seria alvo. Mas, o meu avô não sabia que ela estava viva, e os meus homens não sabiam exatamente quem ela é.
Uma Belladona que sobreviveu era uma afronta ao sangue derramado até aqui, uma afronta à morte do meu pai.
Só que ela não era a minha inimiga. Ela era tudo o que eu queria, fodasse o sobrenome dela.
Havia algo nela que eu queria proteger, talvez de mim mesmo.
— Ela será minha e estará segura! — Eu afirmei, mais para me convencer do que para ele.
Ele não estava convencido. Ele colocou as mãos sobre a mesa e se inclinou para frente, os olhos fixos nos meus.
— E depois? Quando os Belladona revidarem? Você acha que eles vão aceitar isso sem resistência? Um ataque direto a um casamento deles é o tipo de provocação que pode reacender velhas alianças, acordos que os nossos pais lutaram para manter mortos. Eles vão usar isso, Victor. Não percebe?
Pensei nas palavras, mas a ideia de Lara nos braços de outro homem corroía o que restava de minha razão. Era insuportável. Não importavam as consequências; eu a tiraria daquele altar e a trancaria longe de qualquer ameaça, nem que tivesse que lidar com as consequências sozinho.
— Eu vou tirar ela de lá! — Eu falei com mais calma do que eu sentia. — Vou levar ela para longe, para onde nem mesmo o meu Avô, ou o dela, poderão encontrá-la. Ela será minha antes que esse maldito consiga tocá-la. — Ele continuava seu plano de me convencer do contrário, e ele não ia desistir, até ter certeza que eu sabia o que estava fazendo.
— Mas como, Victor? E para onde você planeja levá-la? — Ele bufou, com certeza pensando em outro argumento. — Nosso próprio avô é uma ameaça. Se ele souber onde está, CARALH0, se ele só imaginar que essa mulher respira. Você vai começar uma guerra dentro da nossa casa… — Ele lutava com as palavras.
— Eu não vou permitir… — Eu comcei e ele me interrompeu.
— Ela não vai sobreviver. Qual o seu plano? Quem vai garantir que ela vai ficar viva? — Respirei fundo, o desejo por ela ardendo mais intensamente com cada palavra. Eu estava pronto para colocá-la em qualquer lugar, uma mansão segura, longe dos olhos da família e de qualquer um que ousasse me desafiar.
— Tem uma propriedade fora da cidade… — Eu falei, mais para mim mesmo, sentindo o plano se formar. — É isolada, ninguém a usa há anos. — Ele apertou os olhos. — Ela estará segura lá, Giovanni, e será intocável. Eu mesmo vigiarei, se for preciso.
— E você vai simplesmente sumir? — Eu não tinha uma boa resposta para isso.
— Será temporário. Vou inventar uma viagem de negócios qualquer para o meu avô. — Ele ainda parecia em dúvida, mas não perguntou mais.
— E os Belladona? — Ele mudou de assunto. — Você está preparado para uma guerra total? Eles vão enxergar isso como um ataque direto. — Eles iam retaliar com força, e eu precisava preparar a todos. — Ela não é uma mulher comum, Victor. Ela é o que restou de uma família que deveria ter sido exterminada. E agora você está tentando roubar uma peça preciosa deles, a única coisa que talvez ainda mantenha os Belladona fracos e com medo, ao invés de nos atacar! — Eu sabia disso, mas era tarde demais para reconsiderar. O desejo por ela não era racional. Era intenso, como um veneno correndo nas minhas veias, impulsionado por uma necessidade quase primitiva.
— Ela será minha! — Eu não ia discutir mais, a minha decisão estava tomada, ela seria minha, nem que eu perdesse tudo.
— Você está mesmo certo disso, Victor? Se for atrás dela, você vai começar algo que vai destruir tudo. Está preparado para abrir mão de tudo? — Ele respirou fundo. — E se ela não quiser?
A pergunta bateu em mim como um soco. Uma pequena voz na minha mente hesitou. E se ela me visse como o mesmo tipo de monstro que ela conhecia? E se ela me rejeitasse?
Mas o pensamento foi rápido e logo substituído pela determinação feroz de sentir ela nos meus braços.
— Não importa! — Era simples, na minha cabeça, completamente simples. — Ela não tem opção. Eu a livrarei desse casamento maldit¢, e ela será minha, quer ela queira ou não.