Fúria contida

824 Words
Victor Eu ainda estava tentando entender o que a minha mãe queria dizer com aquilo. - Preciso que me explique isso melhor. - Eu pedi. Se a herdeira das famílias Vitale e Belladona estava no meu baile ontem, não poderia ser a troco de nada. Ela tinha motivos de sobra para nos odiar, assim como eu os odiava profundamente, depois de perder o meu pai. - Filho, tudo parece definitivo entre as nossas famílias. Só que nem sempre foi assim. Vou te contar, mas preciso que me prometa que não vai machucar a Lara. - Trinquei os dentes. Enquanto a possibilidade dela ser da família Belladona ainda era apenas isso, uma possibilidade, eu não tinha entendido a gravidade daquilo. Agora que era real, um mundo de preocupações se abriu. Trazendo junto uma raiva descontrolada. Ela estava ali porque? Era alguma artimanha em busca de vingança? O plano dela era me seduzir? Passei as mãos no cabelo e respirei fundo. Não importava as intenções dela, os olhos azuis ainda atormentavam a minha mente. - Eu não posso prometer mãe. - O sorriso dela sumiu imediatamente. - Então não devo te contar. - Ela ficou de pé. - O seu pai teria jurado deixar uma inocente fora disso tudo. - Eu não sei se ela é inocente. - Eu rebati. - O que ela veio fazer aqui? - A minha mãe sustentou o meu olhar e respondeu. - Essa pergunta apenas ela pode te responder. - E se ela veio até aqui, buscando vingança? - Foi a minha vez de ficar de pé. - Ela tem os motivos dela. - Eu senti o choque atravessar o meu estômago. - Ela perdeu tudo Victor, por nossa culpa. - Os olhos dela pareciam duas estrelas de tão brilhantes. - Temos sorte de ter perdido apenas o seu pai. - Que era tudo para nós dois! - Eu quase gritei, a dor finalmente fincando as garras no meu coração. - Eu deveria terminar a vingança que o meu avô começou! - Eu soube que ela ia me estapear antes de sentir a mão fria dela atingir o meu rosto. A ação chocou nós dois e ela se afastou assim que viu o meu corpo reagir, por puro instinto. Eu quase revidei, mas parei no último instante. - Você tem sangue Romano nas veias, e isso pode despertar o pior de você. - Ela falou baixo. - Mas, a escolha de ser uma pessoa má é sua, não importa o seu sangue. - Eu sou assim mãe! - Fechei os punhos, sentindo a vergonha me dominar. Eu quase soquei a minha mãe. - Você foi treinado para ser assim! - Ela continuou falando baixo. - No fundo você é um doce menino, igual ao seu pai. - Eu pressionei os lábios. - Você não sabe o que a Lara pode ter passado para decidir ou não o que ela faz, ou quais são os motivos dela. Ela perdeu tanto quanto você. Todos perderam alguma coisa nessa guerra infernal! - Eu abri a boca para rebater e ela continuou. - Você tem duas opções, Victor, pode por fim nessa guerra e viver em paz ou queimar em vida, igual ao seu avô. - Eu não sei o que vou fazer ainda. - A pergunta é, o que você quer fazer? O banho de sangue não foi culpa nem sua, nem dela. E os dois foram afetados diretamente e de forma irreversível. Acha mesmo que ela deve pagar por algo que aconteceu quando ela era só um bebê? Não, eu não achava. Mas, era o que esperavam de mim. - Assim que a notícia que ela está viva se espalhar, e eu não fizer nada, serei taxado como fraco! - Que seja! - Ela deu de ombros. - Mas, para mim, a mulher que te deu a vida, você será fraco se não escolher com a vontade do seu coração. - A minha mãe me deu as costas e no terceiro passo eu a ouvi soluçando. Ela perdeu muito e estava aqui tentando me fazer desistir de qualquer plano que eu inventasse. E a realidade é que eu nem sabia de onde vinha essa raiva. Até poucos minutos atrás eu estava encantado pela ideia de fazer da Lara minha. Cheguei a pensar em selar a paz entre nossas famílias com a nossa união. Quem eu queria enganar? A minha família me exigia agir, da forma mais definitiva que eu conseguisse. E agora, que eu sabia que ela estava viva, eu não poderia permitir que ela tentasse algo contra aqueles que me restaram. Eu sei que tiramos tudo dela, e justamente por saber a dor intensa desse tipo de perda que tinha certeza sobre a vingança dela. Eu não ia permitir isso. Eu agiria, antes que ela tivesse mais alguma chance de me atingir. Porque aqueles olhos estavam cravados na minha memória como uma tatuagem, e isso não pode ter sido por inocência.
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