Victor
Os dias se arrastaram, cada minuto fazia a raiva aumentar, a dúvida ficando cada vez maior.
O que eu faria para dar o troco naquele desgraçado?
Matar era pouco.
Eu precisava mostrar que eu era forte diante de um ataque como aquele. Roubo de carga, homens infiltrados, mentiras e enganação…
Era como se ele estivesse desafiando a minha autoridade como Dom. E isso eu não ia admitir, nunca!
Os homens do Giovanni descobriram coisas muito interessantes e confusas sobre aquela família, o que me deixou cada vez mais confuso. Ao que parece o tal do Junior - Pai da Lara - Nem estava na cidade quando tudo aconteceu.
Ele estava em Palermo a negócios.
Uma fachada, para que eu não pensasse nele. O que ele não sabia era que os homens dele iam entregá-lo
O Giovanni descobriu também que o velho era o verdadeiro Dom e que não queria deixar o legado para o filho, que não casou de novo depois da morte da esposa. Morte essa, causada por uma retaliação do meu avô, depois da morte do meu pai.
Uma vida por outra. Ele tirou o filho do meu avô e o meu avô tirou a filha dele.
Mesmo que essa história não fizesse sentido na minha cabeça; A fúria do meu avô foi tanta que ninguém sobreviveu. Mas, porque ele não massacrou os Bellanova e sim os Vitale?
Se o ataque veio deles?
Dei mais um gole no vinho e encarei o teto.
O Giovanni saiu daqui com uma pista quente, sobre movimentos deles e eu duvido que conseguirei dormir enquanto ele não voltar.
Não que isso seja motivo, eu não durmo faz 4 dias. Desde a noite na cachoeira.
A imagem dela surgiu na minha frente, nítida ao ponto de pensar que era real. Os olhos vermelhos das lágrimas e as sardas brilhando iluminada pela luz da lua. Respirei fundo, lembrando do calor dela quando a puxei para os meus braços, e o quanto precisei me controlar para não afundar nela ali mesmo.
Essa verdade eu teria que encarar. Ela é uma inimiga, talvez a maior. Uma verdadeira ameaça para a minha família, podendo buscar vingança por perder a mãe. Basta um casamento com outra família forte para ela ter poder e nos atacar.
Eu não deveria me preocupar com a pureza dela. Eu a segui disposto a matá-la, para acabar com aquilo logo.
Mas, casar com ela teria o mesmo efeito.
Afastei o pensamento tão rápido quanto ele veio. Isso nunca iria acontecer, o meu avô jamais permitiria que eu colocasse uma Bellanova dentro de casa, pelo menos não como convidada.
Eu deveria ter me enterrado nela, tirado aquela pureza inocente. Quando ela gem£u, se perdendo em sensações, pelo que eu acredito ter sido a primeira vez, o meu mundo literalmente parou de girar.
Foi a cena mais s£xy e linda que eu tive o privilégio de assistir.
Ela deveria estar morta! Essa era a realidade. A simples existência dela poderia desencadear uma guerra infernal e o meu avô acabaria com a minha raça se sequer imaginar que eu tive a chance de acabar com isso e não fiz.
Porque eu não matei ela?
Era uma pergunta simples, que deveria ter uma resposta simples, mas pelo que eu estava começando a entender, nada que tinha relação à Lara era simples. Tudo parecia uma cadeia de acontecimentos confusos demais.
Ela pode fazer parte da trama, ter vindo até mim com aquele jeito inocente para me cativar e me apunhalar pelas costas. Ela tinha tantos motivos para me matar quanto eu tinha para acabar com ela.
Mas, ela também teve chance, e não fez.
Na verdade, ela parecia grata quando concluiu que eu a mataria.
Bufei, impaciente, servindo mais uma taça de vinho.
Eu preciso reencontrá-la, conversar com ela mais uma vez, sendo honesto.
E vou falar o que?
Que eu não quero matá-la? Que na verdade eu não paro de pensar em como ela se desmanchou nos meus braços? Que o meu desejo mais profundo e mais intenso, muito mais forte do que qualquer sede de vingança, é possuí-la?
A porta abriu com força e eu xinguei alto, com o susto. O Giovanni estava com uma expressão séria, a testa enrugada.
- Tenho novidades, e elas não são boas.
- Estou ouvindo. - Ele fechou a porta, sentou e serviu uma taça para ele, para em seguida virar o líquido de uma vez na boca, antes de me encarar.
- A herdeira Bellanova está viva! - O choque me atravessou, mas eu consegui controlar a minha reação. - Ela viveu com eles a vida inteira. - Eu me mantive em silêncio, mordendo a ponta da língua. - Pelo que descobri, ela é ruiva. - O suor brotava na testa dele e eu comecei a bater o pé com força no chão, sentindo o meu sangue subir. Eu não ia esconder muito mais dele. - Ela se casará sábado com o último Vitale.
- Giovanni, como soube de tudo isso? - Eu afundei a fúria fundo no meu corpo, e senti ela reverberando por todo canto.
- Uma cozinheira fez um trabalho para eles, uma refeição de noivado. - Eu trinquei os dentes. - Na mesma noite que pegamos os homens que roubaram a carga. - A noite da cachoeira. - Ela ouviu o Dom e o homem negociando o contrato de casamento, e contou que a menina tinha sumido e o velho quase colocou a propriedade abaixo, mas não a encontraram.
- Ela não voltou para casa? - A pergunta escapou antes que eu me desse conta, mas ele não pareceu perceber.
- Sim, bem tarde… - Ele deu de ombros. - E foi punida. - Eu não conseguia mais ficar sentado. Comecei a andar de um lado para o outro.
Punida?
Será que eles descobriram que ela estava comigo? Que eu sei quem ela é?
Não, isso já teria provocado alguma resposta.
- Por que ela foi punida? - Perguntei, sentindo o desespero da dúvida me atingir.
- Não perguntei. Ela que se f¢da! - Eu estava em cima dele antes de conseguir me segurar. A minha mão em volta do pescoço, uma satisfação afagando a minha raiva.
- RE - TI - RE - O - QUE - DI - SSE! - Os olhos dele estavam abertos e desesperados. - AGORA!
- Desculpa! - Ele falou com a voz fraca e eu soltei. Ele tossiu e se encolheu, me olhando com confusão.
- Você não vai contar o que me disse para ninguém! - Ele ia argumentar, mas eu já estava descontrolado. - ENTENDEU?
- Sim, chefe! - Ele parecia confuso, e eu não estava com energia para explicar agora.
Olhei pela janela, já era tarde, mas eu precisava montar aquela quebra-cabeça, eu precisava de alguma forma entender. Ela ia se casar? Porque ela não me falou? Porque ela deixou que eu a beijasse?
Ela era um peão no jogo da família ou ela era a rainha que dava as ordens e que iria de alguma forma me engolir?
- Giovanni, a cozinheira… Sabe entrar naquela casa?