Atenção: Esse capitulo contém gatilhos de violência, leia com cuidado!
Eu ainda estava entorpecida pelo que aconteceu na última hora, quando parei o carro no mesmo lugar de sempre e caminhei até a passagem dos funcionários. Os guardas fingiam não me ver, acredito que a pedido da Teresa, e eles sempre se mantinham distantes.
Entrei e a casa parecia estar dormindo, o que era um alívio. Eu não precisaria das explicações de onde fui ou o que eu estava fazendo. O meu nível de mentira era vergonhoso.
Subi para o meu quarto com cuidado, sentindo a tranquilidade da minha cabeça. O meu corpo estava relaxado depois do que senti nos braços do Victor…
Eu preciso parar de pensar nele. É um erro, se alguém imaginar que nos envolvemos, de alguma forma, a guerra pode recomeçar e esse era um fardo que eu não estava disposta a carregar. Mesmo que o beijo dele fosse avassalador, eu não posso me dar ao luxo de mais nada. Eu passei de muitos limites essa noite…
- Onde você estava? - Eu tomei um susto ao ver o meu avô esperando no meu quarto e perdi a voz.
- Eu… - Ele ficou de pé, parecendo muito mais vigoroso do que realmente era, a raiva estampada na cara enrugada.
- Você sumiu e não estava aqui quando o seu noivo partiu. - A raiva tingia cada palavra. - Quer jogar o meu nome na lama? - Eu balancei a cabeça em negação, já sentindo as lágrimas queimarem os meus olhos. - Então me explique exatamente o que você estava fazendo, onde e com quem! - A voz dele tremeu e eu me coloquei de joelhos.
- Eu fui caminhar, refletir sobre o meu futuro com o Senhor Stefano… - Eu apoiei o rosto nas mãos para que ele não visse o rubor da mentira na minha pele. - Sentei no pé de uma árvore e acabei adormecendo. - A respiração dele estava forte em contraste com a minha. A culpa me varreu.
Eu estava com o herdeiro daqueles que mataram a minha mãe, e durante muitos momentos eu me esqueci quem ele era.
- Mentiras não vão te salvar. - O meu avô falou, caminhando na minha direção. - Mandei procurarem na propriedade e ninguém te encontrou! - A mão dele estava no meu cabelo antes que eu pudesse me proteger. O puxão me arrancou lágrimas de dor, enquanto ele me forçava a olhar para ele.
- Eu juro, Vô… - Eu senti a ardência no rosto antes de perceber que ele tinha me batido.
- Diga agora! Onde estava? - Ele acertou a minha outra face e a dor foi mínima perto da raiva que eu precisei reprimir.
- Eu estava aqui, adormeci, eu juro… - Mais um tapa, e esse me arrancou o ar dos pulmões.
- Já que não me dirá a verdade eu vou concluir o pior. - E como todas as vezes que ouvi essa frase, eu quis estar morta.
Ele não precisou chamar os guardas para me conduzir até o escritório. Eu conhecia o caminho, bem como conhecia as formas que ele me puniria. E ainda assim, eu manteria a minha versão, ser punida por algo que ele fantasiou, sem dúvidas, seria melhor do que se ele soubesse a verdade.
Depois que ele passou o trinco na porta eu respirei fundo e tirei a blusa de frio.
Aqueles momentos sempre foram os mais dolorosos para mim, quando eu precisava me despir e provar que a minha pureza seguia intacta. Que o meu corpo não levava marcas do toque de outros homens. Apenas o meu avô e o meu pai podiam me tocar, e normalmente o faziam para me punir ou examinar.
Quando eu terminei de me despir, sentindo a vergonha queimar os meus ombros e braços agora, me forcei a ficar na posição que ele sempre me obrigou a ficar nesses momentos. Abri os braços e as pernas, e então prendi a respiração.
A proximidade dele era normal para mim, mesmo que a repulsa existisse também. Eu sempre temi que ele fosse além do exame. Que ele se aproveitasse do poder dele de Dom para me tocar, mas graças aos céus, isso nunca aconteceu.
- Essa marca? - Ele apontou para as minhas costas, e eu não conseguia ver. - Têm uma linha vermelha aqui. - Ele passou o dedo por cima do osso no meio das minhas costas e eu senti os meus músculos tensionando. - Bateu em algum lugar?
- Pode ter sido quando adormeci. - Menti de novo, com mais firmeza agora, o nojo aumentando na minha garganta, acompanhando o dedo dele que dançava na minha pele.
- É uma pena que se casará em breve, merecia uma marca permanente aqui, por sumir como sumiu.
Fechei os olhos, mas não me dei ao luxo de sentir alívio. Ainda estava longe de terminar, e ele continuou o exame detalhado dele.
“Eu não tenho um pingo de dignidade no meu corpo.” - A voz do Victor voltou para a minha mente e eu me senti grata. A dignidade que ele afirmou não ter, era o que me mantinha viva agora.
- Lara, vou te perguntar mais uma vez. - O meu avô falou, parando de frente para mim. - Não minta.
- Eu não estou mentindo. - Respondi com calma, pesando cada palavra.
- Imagino que o seu noivo não se importará com uma marca ou duas. - O meu sangue gelou.
Eu sabia que se eu tivesse feito e contado para ele, algo que realmente merecesse uma punição, ele imaginaria sempre um cenário pior. E de fato eu fiz, mas o que fiz era muito pior do que ele poderia imaginar, mesmo que a mente dele fosse um esgoto.
Ele acertou a minha coxa primeiro e o meu corpo cedeu diante da dor. Eu reprimi um grito. Quando eu gritava, apanhava dobrado. Aprendi isso da pior forma possível.
Já de joelhos, ele acertou a minha face de novo, com mais força, deixando a raiva dele marcar a minha pele. No terceiro golpe eu desliguei o cérebro. Afundei dentro de mim e rezei para a minha mãe, como eu fazia todas as vezes que algo assim acontecia.
Se ela fosse viva, nada disso aconteceria. Era a mentira que eu repetia para mim mesma.
Quando eu estava agonizando no chão, sentindo cada canto do meu corpo arder e a vergonha varrer o que restou de mim, a Teresa foi convocada, e quando eu achei que não poderia ficar pior, ficou.
- Preciso ter certeza que ela ainda é pura. - A Teresa tinha visto aquela cena muitas vezes, e apenas nas primeiras demonstrou compaixão na presença do meu avô. Ela esperou que eu levantasse, mesmo com dificuldade, e deitasse no sofá, com as pernas abertas. O impulso de me cobrir era contínuo e eu sentia os olhos dele em mim, e nesses momentos eu não pensava nele como meu avô, apenas como o monstro que ele era.