O luar de testemunha

1467 Words
Desci os degraus rapidamente, tentando não correr. Eu tinha estacionado o carro da Teresa no final da interminável fila de carros e a caminhada de volta seria longa, mas me ajudaria a relaxar os nervos. Ele é lindo. Era o pensamento que mais dominava a minha mente, mais até do que o medo de morrer nas mãos dele. Passei pela fonte de água na entrada da propriedade e virei à direita, seguindo confiante para o carro. Se eu correr posso chamar a atenção dos guardas que certamente estão espalhados e escondidos por todos os lados, e ser capturada por uma fuga seria burrice, simplesmente. Lindo, cheiroso e educado. O Victor tinha uma presença forte, que ainda reverberava pela minha pele. De agora em diante, quando eu lesse os romances que a Teresa contrabandeava para mim, eu pensaria nele como o mocinho apaixonado. Mesmo que ele fosse um dos vilões da minha história. - Lara? - Cada célula do meu corpo tremeu ao ouvir o meu nome. - Espere. - Eu parei de andar e virei lentamente, sabendo exatamente quem estava me chamando, mas me recusando a acreditar que ele me seguiu. Ele tinha aberto o smoking e a camisa preta brilhava conforme ele andava pela luz da lua. - Victor… - Eu o saudei. - No que posso ser útil? - Ele parou de frente para mim, a máscara bordo envolvia as maçãs do rosto alta e fazia os olhos dele ficarem mais pretos do que eram. - Você fugiu. - Ele acusou, em um tom brincalhão. - Preciso ir. - Fiz menção de voltar a andar e ele segurou o meu braço, com cuidado. - Espere, por favor. - Eu olhei para ele de novo e um nervosismo diferente me invadiu com o toque dele na minha pele. - Quero te conhecer melhor. - Nem todos os anos de treinamento me ajudaram a esconder a surpresa que deve ter explodido na minha cara. - Não quer. - Eu rebati. - Eu não sou ninguém. - Ele sorriu e eu prendi a respiração. - Sim, você é. - O meu sangue gelou. - Você é a Lara e tem um conhecimento grande quando se trata de boa arte. - Ele puxou o cordão da máscara e a tirou. E de repente ser o homem mais lindo da Itália pareceu muito pouco perto da beleza dele. Ele facilmente quebraria 1 milhão de corações só com aquele leve sorriso. - Eu não deveria estar aqui Victor. - Confessei. - Preciso mesmo ir. - Dessa vez eu não me movi, por medo dele me segurar de novo e eu sentir aquele choque estranho mais uma vez. - Eu te acompanho. - Ele falou, sem espaço para recusas e eu me limitei a assentir, antes de voltar a andar em direção ao carro. Ele se manteve ao meu lado, com os braços para trás, em uma postura típica. - Em que propriedade mora? - Você não conhece. - A irritação começou a aflorar nas minhas palavras. Qual era o problema dele? Pra que saber coisas como aquela? - Eu quero conhecer. - Parei por um instante e ele mantinha um sorriso tímido nos lábios. A máscara começou a aquecer muito a minha pele, e eu sabia que era o rubor tomando conta de tudo. - Serei honesto com você. - Ele falou com seriedade. - Quero conhecê-la a fim de cortejá-la. - Eu abri a boca e deixei escapar uma risadinha. - O que foi? - Você me conhece faz 5 minutos. - Ele franziu a testa. - Nem nos livros de romance as coisas acontecem tão rápido. - Mexi na máscara, lutando contra o incômodo que assolava a minha pele. - Para mim acontece. - Ele manteve o tom sério. - Eu preciso de uma esposa e gostei de você. Existem algumas coisas que me fazem perder a cabeça, e quase todas elas têm relação com a submissão que as mulheres da Corleone são obrigadas a ter. E aquela frase, da forma que foi dita, como se eu fosse uma fruta na feira que seria obrigada a ser comida, me fez ferver de uma vez. - Não tenho interesse, obrigada pelo esclarecimento! - Eu falei isso da forma mais agressiva que consegui, antes de voltar a andar. Eu precisava me afastar dele. Não importa quem ele seja ou qual seja a aparência dele, eu cresci em uma casa seguindo ordens de dois homens maldosos, que usavam a desculpa da proteção para controlar a minha vida. Isso me fez decidir que eu nunca casaria, principalmente com um projeto de Mafios¢ de merd¢ como ele. Por sorte, ele não parecia estar me seguindo e eu respirei aliviada. Ir até aquele evento foi um erro enorme e eu quebrei a regra número 1, sem querer. Chamei a atenção do anfitrião. A máscara se tornou insuportável no meu rosto e eu a arranquei com raiva e respirei fundo ao sentir a brisa fria da noite refrescar o meu rosto. Isso me ajudou a começar a controlar os meus nervos. Eu estava bem perto do carro agora e me atrapalhei ao procurar as chaves dentro da bolsa, prova clara que eu ainda estava nervosa demais. Com as chaves na mão, levantei o olhar de novo, e ele estava ali, a poucos passos na minha frente. Eu parei de uma vez, sentindo o salto deslizar. Ele parecia impressionado e mantinha um sorriso quase triunfante no rosto. - Eu sabia que você era linda. - Ele começou a andar na minha direção. - Mas, não imaginava que seria perfeita. - Ele estava vendo o meu rosto. Parabéns Lara, sua burra! - Victor, precisa de mais alguma coisa? - Apoiei as mãos na cintura, e torci para que o meu tom demonstrasse todo o desprezo que eu sentia pela atitude dele de segundos antes. - Preciso de algumas coisas, obrigado por perguntar. - Ele estava bem perto agora, e eu realmente considerei correr ao sentir o calor dele emanar pelo meu espaço vital. Corrigindo, ele estava muito perto. - Não é de bom tom ficar tão perto de uma dama, principalmente sozinha. - Eu tentei puxar o homem para a realidade. Nas regras da Corleone, essa proximidade de uma casal que não tinha relações era punida, com chibatadas. - Apenas quando não existe intenção. - Ele completou. - De ambas as partes. - Eu esclareci, mas perdi a linha de pensamento quando ele ficou a poucos centímetros de mim. Agora o calor do corpo dele queimava a minha pele e o meu estômago deu uma volta inteira quando ele sorriu. - A sua audácia é admirável. - Eu apertei a boca. - Assim como a sua beleza. - A vida me obrigou a me defender. - Eu dei um passo para trás e ele me acompanhou. O meu corpo entrou em alerta máximo e eu calculei quanto tempo eu levaria até chegar no carro e sair dali, antes que ele me alcançasse; eu tinha um total de zero chances. - Eu quero saber mais sobre você, te conhecer, falar com o seu pai… - Eu senti os meus olhos queimarem. - Você será beneficiada tanto quanto eu. - Duvido muito. - Levantei o queixo e encarei os olhos intensos dele. - Ter audácia nessa terra é uma linha tênue entre coragem e desrespeito. - Eu não pude ignorar o alerta nas palavras dele. Eu estava me excedendo. - Victor, não me entende errado. - Tentei controlar a voz. - Eu preciso mesmo ir embora, agora. - Ele ponderou as minhas palavras. - O que precisa que eu faça, para me deixar ir? - Um sorriso se abriu intensamente nos ládbios dele e eu me arrependi da colocação das minhas palavras imediatamente. - Preciso saber de uma coisa. - Ele falou, ainda sorridente. - Depois pode ir embora. - Ok. - Ele levantou as sobrancelhas. - O que precisa saber? E sem aviso ou alerta de nenhum dos meus sentidos, ele avançou na minha direção, me tomou nos braços e afundou a boca na minha. O choque do contato foi a primeira coisa que eu senti. As mãos dele, uma na minha cintura e a outra na minha nuca, o peit0 firme dele pressionado contra o meu. O cheiro e o calor dele me envolvia por todos os lados e por fim, os lábios dele, infinitamente macios. Ele encostou a boca na minha com ternura e quando eu não abri a boca ele desbravou com a língua o caminho, até que eu relaxei. Ele moveu a língua com cuidado, saboreando e atingindo cada ponto sensível da minha existência. Eu nunca tinha sido beijada e demorei alguns segundos para entender o que aquilo estava fazendo no meu sistema nervoso. Então eu decidi parar de lutar e o beijei de volta.
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