Juízo

1014 Words
Victor Cada reação dela nos meus braços era viciante. Eu conseguia sentir a insegurança dela brigando com a ousadia, enquanto ela retribuia o meu beijo. Eu me perderia nisso com uma facilidade enorme. Me afastei, ofegante e encarei os olhos brilhantes dela. - Melhor pararmos. - Eu falei, buscando algum juízo no meu corpo. - Tudo bem. - Ela respondeu também ofegante. E a tristeza misturada com raiva tinha sumido daqueles lindos olhos azuis. - É melhor eu ir. - Ela deu um passo para trás mas eu não pude salvá-la. - Ainda não. - Eu ainda estava tentando entender qual era o tipo de magia que ela exercia sobre os meus atos. - Quero discutir o que faremos disso. - Ela arregalou os olhos, que mesmo inchados de lágrimas, se tornaram redondos e brilhantes. - Não faremos nada. - Ela falou com convicção. - Eu apenas vou para casa, seguir o meu destino e você continuará no seu. Se não colocar um fim nisso, eu agradeço que guarde o meu segredo. - Eu não pretendo te matar. - Eu falei, entendendo o temor dela. - Ainda. - Ela afirmou se afastando e precisando me controlar, eu a soltei. - Quanto tempo vai levar até você ter um momento de tristeza pelo que fizeram com o seu pai, e decidir que é hora de eliminar isso. - Eu não tinha uma boa resposta. - Ou mesmo, quando o meu avô agir contra vocês? - A imagem do velho veio para a minha mente e eu senti os meus nervos viraram ferro. - Ou acha que ele esteve em silêncio esses anos todos, me mantendo enjaulada porque tem medo de vocês? - Eu respirei fundo, lutando contra o impulso assassino que começou a subir pelas minhas pernas. Apertei as mãos ao lado do corpo e tentei desesperadamente dizer para ela que eu não a machucaria. Essa era uma promessa que eu não poderia cumprir. - Se o seu avô ou mesmo o seu pai, fizer qualquer movimento para recuperar a centelha de poder que ainda resta, eu não ficarei parado. - Ela assentiu. - Mas não quero machucar você. - Não espero que fique sem fazer nada. - Ela falou. - Mas eu me tornarei o seu alvo. - Ela sabia mais do que estava me contando. - E quando a ameaça bater na sua porta, você vai eliminar sem pensar duas vezes. - Ela deu mais um passo para trás. - Então ou me mata agora ou vai me matar no futuro, a escolha é sua. - O que o seu avô planeja? - Ela moveu a cabeça em negação, a culpa brilhando no olhar intenso dela. - Por mais que você pareça um bom homem, eu sei que você não é. - Essa acusação me incomodou muito mais do que eu queria admitir. - Eu não posso trair a minha família, por mais que eu odeie cada pequeno ato deles. Eles são tudo o que eu tenho. - O meu respeito por ela cresceu ao ouvir ela pronunciar aquelas palavras. - Ele está planejando uma investida contra os Romanos? - Ela me deu um sorriso fraco e respirou fundo. - Eu honestamente não sei. - Por alguma razão completamente fora do meu conhecimento, eu acreditava nela. - Mas, ele está planejando alguma coisa. - Ela ameaçou ir embora e parou. Ela me olhou com intensidade de novo, como se estivesse dividida sobre falar algo mais ou não, e a frase mais sem sentido escapou dos meus lábios, uma pergunta que não veio da minha cabeça, surgiu do misto de sensações que ela me causava. - E se eu te ajudar? - Ela levantou as sobrancelhas. - E se eu te tirar de lá ao invés de fazer com você o que inevitavelmente farei com eles? - E o que você ganha com isso? - Ela envolveu os próprios ombros em um abraço. - Foi muito bom te beijar, mas não acho que tenha sido tão bom ao ponto de você colocar uma Belladona sob a sua proteção. - Eu não consegui conter um sorriso. O beijo dela foi muito mais que bom. Foi como respirar ar puro depois de ficar preso em um incêndio. - Você se subestima muito. - Ela virou os olhos azuis e colocou o cabelo atrás da orelha, antes de se abraçar de novo. - Nem deveríamos ter essa conversa; nunca deveríamos ter nos conhecido. - Lembrei da visão dela, entrando no salão, com olhos curiosos e inteligentes para todos os lados. Das afirmações quanto a obra que admiramos juntos, a paixão por trás das palavras dela. - Vou te devolver o quadro. - Foi a vez dela sorrir. - Fico lisonjeada, mas prefiro que não faça isso. - Eu dei um passo na direção dela, movido pelos olhos brilhantes e a alegria sutil que brilhou neles. - Também não acho que deva fazer isso. - Ela se deu conta do meu desejo, o que me deixou mais consciente do corpo dela. - Guardo o quadro para você, em um lugar onde você sempre poderá visitar e seguimos os nossos caminhos, afastados, se houver algum conflito entre as nossas familias, me comprometo a não te ferir… - Eu lutei bravamente contra as palavras que eu diria, porque eu realmente não queria prometer nada disso, somente a parte de não machuca-la. Na verdade, ela me fascinava completamente e a mínima ideia de não colocar os meus olhos nela de novo, me dava calafrios. - Mas…? - Ela me perguntou e eu me dei conta que não conseguiria cumprir qualquer promessa que fizesse para me manter longe dela. - Sem mas. - Eu me aproximei e esperei ela se afastar, mas assim como eu, ela também me desejava e de alguma forma, isso também fazia com o juízo dela o mesmo que fazia com o meu. Dessa vez eu não me segurei, quando tomei a boca dela com a minha, eu a devorei, exatamente como quis fazer desde o primeiro momento que coloquei os meus olhos naquela linda e saborosa boca.
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