3 horas da manhã e eu continuava deitado no sofá da minha sala, depois de uma garrafa inteira de vinho, olhando para o teto e ainda assim não conseguia nem dormir nem deixar de pensar nela.
Repassei a nossa conversa um milhão de vezes e não fui capaz de entender o que tanto me atrai nela. Ela deveria ser apenas uma mulher qualquer, linda e com expressões inocentes, mas todas elas eram.
Melissa era ruiva como ela, mas não causava o mesmo efeito nas minhas bolas. Nem mesmo o corpo da Valéria, que saciada o desespero da minha carne tinha conseguido me saciar por completo.
Seja lá o que Lara Belladona tenha, eu preciso descobrir. Talvez sejam as sardas e os olhos azuis.
Ou mesmo a boca quente e a forma que me tocou com insegurança…
- Victor? - O Giovanni chamou, depois de abrir a porta, e eu não notei. Eu não precisei perguntar, eu sabia que ele tinha encontrado quem quer que tenha roubado a minha carga. Levantei e o acompanhei pelo corredor que nos levava até o jardim dos fundos.
A noite estava fria e me perguntei se ela estaria dormindo…
Me concentrei nas duas sombras no descampado, que estavam de joelhos, cercados pelos meus homens. Eu precisava me concentrar no que estava na minha frente, pensar na Lara agora só me atrapalharia.
- Vejam só o que o papai noel nos trouxe! - Eu falei alto e os meus homens riram.
Olhei de um homem para o outro e era nítido que eles eram apenas peões, seguindo ordens.
- O caminhão estava vazio. - O Giovanni explicou. - Eles se recusaram a me dizer onde está a carga.
Um deles estava com o nariz quebrado e o outro parecia ter o ombro deslocado. O Giovanni os aqueceu para mim, e isso me tirou um sorriso.
- Então vamos conversar, crianças… - Abaixei na frente do primeiro, o que parecia sentir mais dor, puxei o meu canivete e levantei a cabeça dele, com o canivete apoiado no queixo. - Sabe quem eu sou? - Ele respirou fundo, antes de responder.
- Sim. - O tremor que correu pelo corpo dele não me passou despercebido.
- Então sabe que não falar será pior. - O nariz dele tinha sangue seco em volta, e percebi agora que o olho também estava roxo. - Se acha o Giovanni sádico, não vai querer brincar comigo.
- Não sei quem nos contratou. - Eu senti uma gargalhada tomar as minhas entranhas, e a soltei com intensidade. O homem me encarou cheio de confusão, enquanto o outro se encolheu diante da minha reação.
- Qual o seu nome? - Ele não respondeu. - Vamos lá, é uma pergunta simples.
- Ele se recusa a dizer também. Os dois. - O Giovanni falou com raiva.
O homem tinha família, com certeza. Era hora de aumentar a aposta;
- Me diga, homem valente… Você tem mulher e filhos? - Ele arregalou os olhos para a minha pergunta. Ele assentiu.
- Filha? - Ele estremeceu e eu não pude deixar de sorrir. - Escolha então, será a sua mulher ou a sua filha?
- Não entendi. - O homem ao lado dele tremeu de novo.
- Eu mandei você escolher. - Falei com calma. - Entre a sua mulher ou a sua filha, qual eu vou f¢der primeiro? - Eu vi o pânico crescer no olhar do homem até engasgar. - Eu não tenho motivos para ir atrás da sua família, a menos que você me force a isso. - Eu quase podia ouvir o cérebro dele tentando pensar em uma forma de escapar de mim. - Vamos começar de novo, sim? - Ele assentiu; - Qual o seu nome?
- Giuseppe. - Ele falou baixo.
- GIUUSEPPE! - Eu gritei e os meus homens deram vivas. - É um verdadeiro praz¢r te conhecer, Giuseppe. - Ele não respondeu e eu olhei para o amigo. - E você, precisa que eu o ameace ou vai falar também? - O outro homem, que tinha se encolhido enquanto eu falava com o primeiro levantou o olhar para mim.
- Martin. - Eu sorri para o rapaz, era quase admirável a proatividade dele. Mas nem de longe, era isso que eu queria saber.
- Bem Martin. Giuseppe. - Olhei do primeiro para o segundo. - Quero saber mais um nome. - Respirei fundo, deixando toda a frustração e raiva me dominar. - E por favor, eu imploro, que vocês dois se recusem a me dizer.
As gargalhadas ecoaram pelos homens ao meu redor enquanto eu circulava os dois, analisando qual seria o mais mole deles.
O primeiro, Giuseppe era um pouco mais velho, deveria ser mais casca grossa, mas tinha muito a perder. O outro m¢l tinha saído das fraldas, ainda tinha muito o que aprender sobre ser um soldado da máfia. Eu tinha a sensação que qualquer um, que eu forçasse, faria o outro abrir a boca; seria na sorte então.
- Giuseppe? - Ele me olhou, os olhos trêmulos e nada confiantes. - Eu simpatizei com você. - Ele pareceu sentir alívio com as minhas palavras. - Só que não acredito que você vá aprender alguma coisa com o que acontecerá aqui. - A expressão dele congelou e eu sorri para o homem. - A lição hoje será para o Martin. - O outro menino prendeu o ar. - Vamos começar?
O primeiro grito do homem me arrancou um suspiro de satisfação, enquanto eu torcia um dos dedos dele. Ele lutou, bravamente eu diria, para escapar de mim, mas ele estava cercado. O Giovanni manteve a cabeça do Martin imóvel, assistindo tudo o que eu fazia com o amigo.
3 dedos quebrados, uma orelha cortada e um corte fundo na barriga depois, o homem apagou.
Endireitei a postura e encarei o menino. Se ele tinha 20 anos era muito.
- Eu não gosto muito de torturar, sabe Martin. - Ele tentou assentir, mas estava congelado demais para isso. - Acho que você entrou nisso pelo dinheiro, sem pensar direito no que poderia perder.
Ele abriu a boca, mas se calou. Eu sabia que eu o tinha nas mãos quando percebi a mancha escura nas calças dele, quando eu cortei a orelha do outro.
- Você vai morrer essa noite, de qualquer forma. - Ele recebeu a notícia com mais coragem do que eu esperava, ou estava em choque demais para ter qualquer reação. - A sua escolha será entre uma morte rápida e indolor ou… - Apontei para o Giuseppe e um dos homens jogou água na cara dele, despertando-o. Em seguida o homem passou a gritar de dor.
Com o meu canivete continuei a trabalhar, agora na testa do homem. Enquanto quatro homens o seguraram eu marquei a pele dele com a minha assinatura, me deliciando com os berros de agonia dele. Quando terminei, ele tinha desmaiado de novo. Olhei para o menino mais uma vez, e dessa vez deixei que ele observasse o amigo agonizando no chão, antes de perguntar de novo.
Quando achei que era o suficiente, eu perguntei novamente, o mais direto possível.
- Um nome e o que mais souber, e eu devolvo o seu corpo para a sua família em condições para um velório. - Ele não precisava pensar muito, ele respondeu com os olhos fixos na testa do Giuseppe.
- Junior Belladona é o nosso contratante.