Lara Vitale Belladona

1445 Words
Victor - Aqui está! - O Giovanni balançou o papel que eu passei a manhã inteira procurando. - Esse foi o endereço que enviaram o quadro. - Peguei o papel e depois de ler, olhei para ele. - Eu achei estranho também. Tem certeza que ela disse que era dela o quadro? - Por que ela mentiria sobre isso? - Ele sorriu, sentando na minha frente. - Para deixar você idiot¢ assim, exatamente como você está. - Fiquei de pé e comecei a caminhar pelo escritório. Ela não mentiu aquilo, a mágoa e a raiva que ela demonstrou quando falou do quadro eram reais, quase sólidas. Mas, não fazia sentido. - Eu comprei o quadro de um Belladona, mas eles não tem mulheres na familia. - O Giovanni estalou a língua. - Ela deve ser uma serva deles. - Neguei com a cabeça. Ela era uma princesa da máfia, se portava como uma, e tinha a mesma raiva contida. A virgindade completa confirmava isso também. Servas naquela idade já tinha se deitado com mais homens do que alguém é capaz de contar. - Preciso descobrir quem ela é! - Ele bufou e ficou de pé de novo. - Eu não vou prometer. Ela não deu nenhuma outra pista? - Repassei a conversa com ela e listei algumas coisas: - Ela não pode me falar quem era, o pai dela vendeu o Monet para puni-la e ela afirmou que ele não iria aceitar um contrato de casamento. - Ele assentiu. - Bem, isso limita as coisas, vou investigar e te aviso. - Ele caminhou para a porta e eu o interrompi. - Sobre a nossa relação com os Belladona, você sabe detalhes? - Ele pensou por um momento. - Você terá que perguntar ao seu avô, ninguém sabe muito. - Eu sabia o mesmo que todo mundo. Tivemos um conflito, eles sabotaram a nossa safra, matando o meu pai no processo e depois o meu avô buscou vingança, matando a família aliada dos Belladona. Acabando assim com o futuro legado de duas famílias. Uma intensa chuva de sangue, que foi insuportável para todos. Então, eu perguntaria ao meu avô, se havia chance deles terem uma herdeira. Talvez eu pudesse selar a paz entre as famílias. Eu ri sozinho, enquanto caminhava até a varanda. Eles foram responsáveis pela morte do meu pai, nunca haveria paz, quem eu queria enganar? A imagem dos olhos azuis dela voltaram para a minha cabeça, e eu pensei neles o tempo todo desde que ela partiu. E mesmo depois de me aliviar três vezes, chamando a Valéria de Lara, eu ainda sentia uma necessidade vital de tocar a Lara de novo. Mas, para isso, eu preciso descobrir quem ela é. - Filho meu! - O meu avô ergueu a taça de vinho e eu me juntei a ele, sentando de frente para a nossa vasta terra. Aquela varanda foi projetada especificamente para isso, para que pudéssemos observar tudo o que era nosso, quando quisessemos. - Olá vovô, como está? - Ele sorriu para mim. - Depois que soube que uma moça te chamou a atenção eu estou ótimo. - Que a notícia ia chegar nele, eu já imaginava. - Até beijou a moça! - Ele deu uma risada grossa e eu respirei fundo. Guardas enxeridos dos caralh¢! - Era para ser uma coisa intim¢! - Ele deu tapinhas no meu joelho. - Logo será. Agora me diz, quem é ela? - Me servi de uma taça de vinho, buscando enrolar para responder, mas o meu avô me conhecia bem o bastante para saber exatamente o que eu estava fazendo. - Ela não é nobre! - Ele afirmou e a expressão dele começou a ficar vermelha de raiva. - Eu não sei, Vô. - Admiti. - Não sei quem ela é. - Acho que se eu tivesse confirmado que ela não era nobre ele teria aceitado melhor. Sem aviso, ele jogou a taça cheia contra a parede, que explodiu em um banho de vinho. Uma onda de raiva estava a caminho. - Como você persegue e beija uma moça que você não sabe quem é? E se for uma serva? E se for a esposa de alguém? - A voz dele ia aumentando de volume conforme ele indagava. - Victor, eu te criei melhor que isso. - Preciso da sua ajuda. Eu tenho certeza que ela é de família nobre, ela se comporta como uma princesa. - Essa afirmação pareceu acalmar ele um pouco. - Mas, tenho poucas pistas. - E o que um velho como eu pode ajudar? - Levantei o olhar para o céu antes de responder. - Sabe se os Belladona tem herdeiros? - Se o meu avô tivesse outra taça, ela teria explodido na minha cara dessa vez, não contra a parede. - Teve. Ela está morta. - Ele falou, com raiva. - Sobrou apenas os dois vermes, todos os outros foram mortos. Não existem mulheres naquela família. - Vô, e se ela… - Eu tentei argumentar, mas ele me interrompeu. - Não quero ouvir falar de Belladona nesta casa. Se ela for uma, e eu duvido que seja, mate-a. - Ele se virou e caminhou com dificuldade para dentro. Isso foi pior do que eu esperava. Se ela fosse Herdeira de uma das nossas famílias rivais eu arrumaria uma guerra dentro da minha casa. E eu não deveria estar inclinado a fazer isso, mesmo que os olhos dela voltassem para a minha memória o tempo todo, me tirando o juízo. O barulho de passos chamou a minha atenção e vi a minha mãe se aproximando, com um sorriso tímido. Ela sempre foi uma mulher linda, mas as marcas da vida a deixaram com os olhos tristes. Constantemente tristes. - O que você fez para deixar o papai bravo assim? - Ela perguntou baixinho, sentando ao meu lado. Então eu contei. Contei sobre a Lara, sobre o quadro e sobre a minha possível descoberta. A minha mãe me ouviu atentamente, com os olhos fixos no chão. Ela perdeu o marido, que ela tanto amou, naquela guerra, então eu entendi a expressão dela, quando a família foi citada. - …Ela pode ser uma serva deles. - Eu conclui, para tentar abrandar as coisas. - A Lara não era uma serva, filho. - Ela parecia convicta. - Ela só não está mesmo viva. Essa moça deve estar se passando por ela. - Eu trinquei os dentes. Se aquela mulher estava fingindo ser uma nobre e herdeira, ela deveria pagar. - Mas, você parece interessado na moça, mesmo assim. Mesmo se ela for uma Belladona. - Olhei para a minha mãe e segurei a mão dela, que estava fria, a mão dela sempre estava fria. - Ela me deixou curioso. - Confessei. - Depois de tanto tempo e tantos bailes procurando, finalmente uma mulher chamou a minha atenção. - Eu senti a raiva crescer com o meu próximo pensamento. - Mas não quero uma mentirosa como mulher. Muito menos se ela for mesmo daquela família. - Ela assentiu, parecendo triste. - Então vou tirar aquele par de olhos azuis, da minha cabeça! - Ela levantou as sobrancelhas. - Olhos azuis? Azuis e claros? - Eu assenti, revivendo o olhar intenso que ela me deu de frente ao quadro. - Azuis como o céu. - Eu respirei fundo. - Ela é ruiva? - A minha mãe perguntou, parecendo animada. - Sim, e também tem uma montanha de sardas que cobre todo o rosto, mas principalmente no nariz e nas bochechas. - A minha mãe apertou a minha mão e eu olhei para ela. Ela estava com os olhos cheios de lágrimas. - Mãe, está tudo bem? - Filho, ouça bem o que eu vou te dizer. - Ela fez uma pausa. - Essa conversa não pode sair daqui, o seu avô não pode sonhar isso… - As lágrimas escorreram pelo rosto dela, ao mesmo tempo que ela sorria e também estava preocupada. Durante a vida inteira eu nunca vi a minha mãe demonstrar tantas emoções de uma vez. - Ok. - Eu respondi. - Prometa Victor! - Ela ordenou, e foi a primeira vez na vida que eu ouvi a minha mãe falar naquele tom. - Prometo. - É ela. A Lara. Ela não está fingindo ser alguém, ela é mesmo a Lara. - Franzi a testa. - Como você tem tanta certeza? - Considerei que a minha mãe poderia estar imaginando coisas. - A mãe dela, a minha querida amiga, Julie era ruiva, com uma montanha de sardas e os olhos tão azuis quanto esse céu. - E pela primeira vez na vida eu vi alegria brilhar no rosto da minha mãe.
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