Marina estava cansada, mas os pesadelos a deixaram tensa e angustiada, assim acordou pela madrugada e não conseguiu mais dormir.
Ela bebeu água e ficou olhando através da janela a chuva que caía lá fora. Sentiu vontade de correr pela chuva, em busca de algo que nem mesmo sabia o que era.
Se lembrou do pai, se ele tivesse sido forte o suficiente para ficar com os filhos, nada disso acontecia, ela teria estudado o que queria, e arrumando um bom emprego. Se o pai não os tivesse abandonado, Felippo não seria um cabeça de vento, e não seria obrigada a fazer visitas íntimas na cadeia.
Pela janela, Marina viu o dia amanhecer, e o domingo aconteceu de maneira fria, ainda chovia. E Marina desejou voltar para a sua cama, não porque ela queria manhosar debaixo das cobertas, o que ela não queria, era ver Augusto Balder. O jeito que ele parecia comandar tudo, mesmo dentro da cadeia, a assustava, ele era controlador e possessivo demais, e os segredos que ele escondia, eram piores ainda, Marina tinha certeza disso.
Ainda precisava enfrentar o frio tremendo que fazia. Até mesmo o dinheiro guardado para as roupas de inverno foi embora. A sua única blusa de frio estava rasgada, já havia mandado para costureira outras duas vezes e agora não dava mais para reformar, precisava voltar a trabalhar, não tinha dinheiro para comprar roupas nem mesmo em bazares sociais.
Vestiu uma camiseta do irmão e uma calça jeans clara, sentiria frio, e para completar não podia entrar de tênis no presídio, ali só se podia entrar de sandália. Trançou os cabelos porque não desejava que os fios pegassem nas paredes frias e horrorosas do corredor que era obrigada a passar.
Respirou fundo, secou as lágrimas, não tinha saída , ou enfrentava Augusto ou não via o irmão se tornar homem. E não morreria na praia, não agora.
Nunca dirigiu tão devagar em toda a sua vida, alguns carros até mesmo apertaram a buzina para ela. Ninguém sabia que ela veria Augusto Balder, ou teriam pena dela.
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Dessa vez, ela não olhou para o guarda que revistou a sua bolsa, mas notou um bilhete ser colocado lá dentro, o guarda ao lado também notou, e sorriu, como se presenciasse uma brincadeira de um colega de classe.
Mas Marina ficou aterrorizada, e também ficou sem saber o que fazer, se Augusto descobrisse ela pagaria e pagaria chorando, mas se ela contasse ele teria problemas com o guarda, ou o guarda teria problemas com ele, achava que já estava quase ficando maluca com tantos problemas. Não sabia quanto poder Augusto possuía, mas sabia dela, ela não possuía poder nenhum e não brigaria com Augusto, perderia sem direito a revanche no segundo tempo, quem diria prorrogação.
Pegou a bolsa novamente, entrou pela porta que levava ao detector de metais, passou pelo aparelho no automático, levava uma pequena tornozeleira de aço inox e precisou jogar no lixo, era isso, ou teria que voltar no carro para guardar, e se fosse até o carro, iria embora sem olhar para trás, mas as consequências iriam segui-la.
Andou para a cela, encontrou ele em pé só de bermuda, agora no lugar da cortina havia uma espécie de proteção móvel de PVC, pois assim teriam mais privacidade
_ Entre e feche o PVC. Tire a roupa
_ Augusto…
_ Eu tenho uma hora para comer você, o tempo é curto. Conversar eu converso por telefone.
Ela fechou o trinco, o PVC também.
_ Porque está tremendo?
_ Estou com frio
_ E porque não se vestiu adequadamente para o tempo?
_ Não tinha blusa de frio.
_ Por que?
_ Ou eu pagava a prestação do carro, aluguel , comida, água e luz ou eu comprava roupas, priorizei o necessário. Pagava as prestações dos móveis até o mês passado, preferia ter conforto dentro de casa do que andar arrumada.
Ela estava gelada.
_ Compre roupas adequadas para você, eu p**o.
_ Eu não quero que você me compre mais nada.
_ Eu não perguntei se você quer, está comigo e vou pagar. Sou seu homem e vou cuidar da mulher que é minha.
Ele puxou a camiseta dela
_ De quem é essa blusa?
_ Fefo
_ Não use mais.
_ Eu preciso de roupas claras para entrar aqui, e essa era a mais quente.
_ Pois compre tudo o que precisa para entrar aqui.
Despida por ele, ela se encolheu de frio.