Visita
Marina sabia que era a pior estupidez que já havia feito em toda a sua vida, mas aquela estupidez significava a vida ou morte do seu irmão.
Fillippo fez uma dívida impagável com um antigo patrão, agora ela era o pagamen.to, mas tudo podia piorar, sempre podia, a vida dela tinha sido um eterno sofrimento desde que a mãe morreu e o pai não suportando a saudade da mulher, foi embora e a deixou com uma criança.
Os homens e suas fraquezas infinitas.
Na época ela era só uma adolescente, tentando suprir a falta da mãe e também a ausência do pai, ela fez tudo que podia, mas mimou demais Filippo e agora não podia culpá-lo exclusivamente pelos erros cometidos. Foi amorosa e esqueceu de ter pulso firme.
Filippo não cresceu, ou melhor, só ganhou idade e altura, porque passou a mão na cabeça dele mais vezes do que podia contar. Isso fez o irmão não aprender a ser responsável e trabalhador.
Marina estacionou ainda chorando na porta do presídio, nos lábios proferia o mantra de que era pela vida do irmão, repetiu isso várias vezes, para que a coragem surgisse.
Marina sentiu vontade de morrer, nunca tinha entrado em lugar como aquele, e agora entrava como mulher de um bandido, de um bandido. Justo ela que sempre correu de qualquer rapaz que ao menos fumasse um cigarro, justamente porque a apavorava aquele destino, de mulher de presidiário, nadou, nadou para longe e a correnteza a puxou de volta.
Nesse momento, ela era exatamente o que mais temia, a mulher de um marginal.
Ainda obrigada por Augusto, fez um contrato de união estável, e esse contrato garantia passe livre e redução da pena do homem que agora era seu marido, ou comprador. Marina não sabia nem como o classificar, não sabia também que tipo de crimes aquele homem horrível cometia, só sabia que pertencia a Augusto.
Era propriedade de Augusto Balder.
Depois de passar pelos portões da penitenciária, Marina esperou sentada no meio de algumas mulheres, se recusou a olhar para o lado, ficou com medo de achar problemas, pois os problemas sempre chegavam, não importava o quão longe corresse, e a ́ porta de entrada era sempre o irmão. Às vezes sentia vontade de sumir como o pai fez, sair para comprar um cigarro e nunca mais voltar,mas não tinha coragem de deixar Fefo, o abandonar não estava em seus planos, de qualquer forma nem fumava.
Felippo pediu perdão por fazê-la se juntar a Augusto Balder, mas o perdão não resolvia. Só resolveria se Augusto sumisse, mas sabia que aquilo era impossivel.
Amarrou os cabelos, pois de repente o calor a sufocou.
Uma mulher com um carrinho se aproximou
_ Quer fazer sobrancelhas e também uma maquiagem para ficar bonita para o seu homem??
Marina negou, não queria nem estar ali, não sabia como as mulheres faziam aquilo, gostava das sobrancelhas dela largas e com os pelos naturais, nunca tinha deixado uma pinça se aproximar. E não faria para ver alguém por quem não sentia nada, e a obrigava àquela visita pavorosa.
Notou perplexa, as outras mulheres sorrindo, achou que elas eram loucas, os homens pareciam não sofrer da mesma loucura, já que os homens visitantes podiam ser contados nos dedos da mão. Ou era o contrário, e ela quem estava louca, nem sabia mais o que pensar.
Quando o número da sua senha apareceu, ela segurou a pequena bolsa e entrou por uma porta de vidro, parecia um rato assustado em um lugar cheio de gatos.
O seu celular estava no carro, mas ainda assim a bolsa foi revistada, o policial olhou cada detalhe, tinha um absorvente lá dentro, e policial deu olhar sugestivo para ela. Queria morrer bem ali, era menos assustador ser enterrada.
Foi encaminhada para outra sala, só havia agentes do s£xo feminino.
Era timida, gostava de saia e vestidos, mas ficar nua na frente de uma pessoa que nunca viu e que não era médica ou algo parecido, era constrangedor.
Marina sempre via os relatos sobre as mulheres de presidiários,sobre se despirem na frente das outras mulheres e sobre todas as outras humilhações que sofriam para adentrar os muros dos presídios, agora poderia fazer um relato similar.
_ Eu.. preciso ficar nua?
A agente penitenciária feminina negou:
_ Não. Esse é bônus por ser a mulher de Augusto
Mulher… Odiava aquele homem com todas as suas forças, mas no fim as suas forças não era muitas, ou não estaria ali.
Marina passou pelo detector de metais.
Caminhou lentamente para a cela. O guarda do corredor a alfinetou:
_Vamos minha senhora, não tenho o tempo do mundo.
Ela se obrigou a andar mais rápido
Foi deixada na porta da cela, o agente sumiu, estava sozinha com quem mais temia
Havia uma cortina protegendo a visão da grade.
_ Entre..
A voz lá dentro ordenou, se lembrou do mito da caverna de Platão, no mito os acorrentados saiam para conhecer a verdadeira beleza do mundo, mas em seu mito particular, os presos não sairiam para descobrir o exterior da caverna, era ela quem entraria para descobrir o mundo lá dentro, e sabia que ele era f£io e doentio.
Segurou a sua bolsa de pano, lá dentro só tinha os seus documentos e um absorvente, a caneta, o lápis e alguns itens de cabelo foram retirados pelo agente, para a sua própria segurança.
Parecia uma piada de gente idiot@.
Ela não estava segura com aquele homem horrível e perigoso, mesmo que ela não soubesse o que ele fez, sabia que Augusto era terrível.
Os boatos diziam que Augusto havia matado um desafeto usando a ponta da caneta no pescoço do outro. Ela poderia ser a próxima vítima, passou para o lado de dentro da grade, se esforçou para não chorar.
E chorar era tudo o que mais queria.