Capitulo 2

1414 Words
Bruna Medeiros Rio de Janeiro, aqui estou eu novamente.. Confesso que depois de alguns anos morando na Bahia achei que nunca mais fosse voltar aqui e muito menos pro Morro do Alemão. Já faz sete anos desde a última vez que estive nesse lugar, com um filho recém descoberto na barriga e acabado de ser expulsa de casa. Mas agora tudo estava diferente, eu tive meu filho e refiz minha vida lá junto com ele. Henrique era a coisa mais valiosa da minha vida, o meu mundo era ele. Meu menino era inteligente e tinha muito do sotaque do Nordeste, educado mas muito, muito marrentinho. Seus cabelos eram cacheados como os meus, a única diferença é que desde meus 15 anos eu tinha eles lisos. Henrique era muito parecido comigo, mas não podia negar que tinha alguns traços do pai e principalmente o gênio forte. Faz quase um mês que soube da morte de minha mãe e Felipe me pediu para voltar pelo menos por um tempo. Ele só havia visto Henrique três vezes desde que ele nasceu, depois que meu irmão passou a ser procurado pela polícia as coisas desandaram. Eu não gostava da idéia dele ser um traficante, eu tinha muito medo por ele. Henrique: Mãe, vamos logo tô com fome. - abraçou minha perna. Ele batia na altura da minha cintura. - Seu tio já tá chegando meu amor, calma. - toquei seus cachinhos. - Olha ele lá. - apontei na direção. Júlia: Mulher, ele tá ainda mais gato. - sussurrou para mim me fazendo dar risada. Júlia era filha da conhecida de Felipe que ele disse que me ajudaria. Ela havia vindo ao Rio duas vezes e sempre teve vontade de morar aqui por um tempo, quando eu disse que viria ela ficou doida querendo vir junto e agora está bem aqui. Em uma das idas de Felipe a Bahia logo que Henrique nasceu, os dois dormiram juntos mas foi apenas aquela vez. - Pode ir esquecendo, pelo que sei ele tá namorando agora. - sussurrei de volta enquanto observava meu filho abraçar o tio na maior felicidade do mundo. Júlia: Ô véi. - resmungou. Enquanto os dois se aproximavam. - Que saudades! - abracei meu irmão apertado, faz quase 2 anos que a gente não se via. Felipe: Eu também, neguinha. Tá suave? - se afastou para poder me olhar. - Sim. Felipe: Coé, Ju. - abraçou minha amiga. Era meio esquisito a situação, mas tudo bem. - Júlia: Oi, Lipe. - sorriu. Felipe: Bora, tá pronta? - se voltou para mim. - É, acho que sim. - sorri sem ânimo. {...} Felipe não estava morando mais na nossa antiga casa, ela estava velha e ele preferiu deixá-la. Sua nova casa era humilde como todas as outras, mas muito confortável. Havia um quarto em que eu, Júlia e Henrique usariamos juntos, já que o outro era dele. Voltar a esse lugar me trouxe muitas lembranças, algumas quase me fizeram chorar. Eu havia passado por muita coisa nesse Morro e com certeza pisar aqui novamente depois de um tempo me deixaria emotiva. Henrique estava encantada com tudo, ficou um tempão na varanda olhando a rua movimentada e doido querendo ir jogar bola. Felipe: Tá feliz por voltar? - sentou-se ao meu lado no sofá. - Eu acho que sim. Tá tudo tão igual, mas ao mesmo tempo tão diferente. - dei uma risada abafada. - Cadê sua namorada? Quero conhecer ela, vê se eu aprovo. Felipe: Deve tá chegando já. Ela é um amor, Bruna. - parecia um adolescente apaixonado. - Irmã do chefe. - O tal Cobra? - ele assentiu. - Apelido b***a. Felipe: Você fala m*l de todo mundo, né? Cê é doido. - se levantou quando alguém bateu na porta. - HENRIQUE VEM COMER! - gritei sem me importar que tinha gente chegando. Pelas fotos que Felipe me mandava eu tinha certeza que aquela era a namorada dele. Ela era bonita e parecia um pouco tímida com a minha presença. Meu irmão se aproximou com ela enquanto eu colocava a comida de Henrique, larguei o prato na pia para cumprimenta-lá. - Você deve ser a Ana. - sorri educadamente. - Satisfação em te conhecer, o Lipe fala muito de você. Ana: Eu mesma. Ele fala muito de você também. - disse enquanto me abraçava. - Eu tava doida pra te conhecer logo. Henrique: Tô aqui, mãe. - todas as atenções foram para ele. Henrique cumprimentou a nova tia e depois nós quatro almoçamos juntos, já que Júlia estava dormindo e talvez tenha sido até bom porque pelo visto a namorada do meu irmão é bem ciumenta. A tarde eu e Henrique dormimos um pouco também depois que Felipe foi pra boca, quando acordamos já eram três da tarde e deixei que meu filho fosse brincar de bola na frente de casa um pouco. Júlia estava preparando um lanche e eu havia acabado de me trocar depois de sair do banho. A porta da sala foi aperta bruscamente me deixando assustada, Nathan passou por ela com um fuzil atravessado nas costas. Talvez ele não me reconhecesse, mas eu me lembro dele, me lembro muito bem pra falar a verdade. Nathan: Qual foi, Bruna, tu precisa vir comigo. - me olhou e então tive certeza que ele se lembrava. - Ir aonde? - me levantei do sofá confusa e Júlia apareceu na sala comendo um pão. Nathan: Quando chegar lá tu vai saber. - Eu não vou em lugar nenhum não, caraí. - bati o pé. Júlia: O que tá acontecendo? - quando ela perguntou, Nathan notou sua presença e a olhou de cima a baixo. Nathan: Facilita aí pra mim, Bruna. - bufou. - É rapidão, p***a. - Tu passa o olho no Henrique pra mim? - perguntei para minha amiga que me olhou com reprovação, mas assentiu. - Bora logo, tenho a vida toda não. Nathan me fez subir numa moto e subimos o morro devagar, mas não demorou muito para chegarmos a uma das bocas de fumo que havia na favela. Desci da moto e apenas segui ele em silêncio, eu estava curiosa para saber o que ele queria com tanta importância. - Já pode falar o que é agora? - parei no meio do caminho e cruzei meus braços irritada. Danilo: Eu posso.. - eu reconhecia aquela voz, era meio difícil esquecer eu confesso. Senti uma calafrio por todo meu corpo e demorei algum tempo para me virar. Quando encarei os olhos frios de Danilo meu coração disparou no peito. Ele estava um pouco diferente, cabelo mais baixo, tatuagem na perna e algumas no braço e atrás dele também havia um fuzil. - Eu te conheço? - fingi que não me lembrava dele, eu nem sabia se ele se lembrava de mim. Danilo: Não sei, mas se não, já vai conhecer. - abriu a porta de uma das salas e me senti enojada quando aquele monte de homem me olhou com malícia. - Entra aqui. - Pra que? Danilo: Entra logo. - sua voz era firme e autoritária. Depois que passei por ele, a porta se fechou e ele me olhou. - Temos uns bagulho pra desenrolar ai. - Não faço idéia do que está falando. - senti um medo me percorrer, não tinha como ele saber, ninguém sabia além de mim. Danilo: Eu já tava quase mandando ir te buscar, sabia? - É o que? - franzi a testa estranhando aquilo tudo. - O que tu quer meu irmão? Danilo: Bom, antes da tua mãe morrer ela tinha uma dívida bem alta comigo. - coçou o queixo fazendo mistério. - Ela não me pagou, mas deixou uma coisinha top na minha mão. - E quem disse que isso é problema meu? Danilo: Nera mermo não, até ela te vender pra mim. - falou de forma séria, mas aquilo me fez dar risada. - Ai, gato, você deve tá muito chapado. - tentei acalmar o riso, mas ele permanecia sério. - Você tá brincando né? Danilo: Tá vendo eu rir por acaso? - ergueu as sobrancelhas, ato que me deixou quieta. - Que p***a é essa? - dei um passo para trás. - Vendida? Eu não sou um objeto! Danilo: Mas parecia que pra sua mãe era e agora você pertence a mim. Eu estava atônita, as palavras dele ecoavam em minha cabeça me deixando tonta. Minha mãe não poderia ter feito uma coisa dessas comigo, ela não podia ter destruído minha vida desse jeito.
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