06 - Serena

1038 Words
SERENA NARRANDO Cheguei no portão da casa da minha avó com meu pai na minha cola, e ele já estava com aquela cara fechada, típica quando estava prestes a dar alguma ordem. Nem precisei perguntar o que ele queria. Assim que Tony apareceu, ele chamou o cara com um aceno e já mandou a sentença: — Serena, vai pra boca com o outro segurança e você vamos trocar uma ideia. Sem enrolação. Não discuti, só segui o que ele mandou. Obedecer é automático. Fui pra boca e, como sempre, comecei a trampar na moral, Mas, do nada, o rádio chiou em cima da mesa. Era Zeca, e pelo tom da voz, já vi que era BO. "Serena, desce aqui, tá rolando uma confusão" Sem perder tempo, fui até onde ele estava. Quando cheguei, me deparei com duas mulheres no meio de um barraco, aos gritos, trocando ofensas de tudo quanto era tipo. A treta era por causa de um vapor que, pelo visto, deixou de pagar a pensão do filho. A ex-mulher foi tirar satisfação e deu no que deu. Tava tudo virando um circo, com as duas quase se estapeando. Respirei fundo e fui pra cima. — As duas, parando agora! — eu gritei, a voz firme cortando o barulho. Elas pararam na hora, mas o ódio no olhar de cada uma me dizia que aquela história não ia acabar tão cedo. — Se eu tiver que desenrolar essa porr@ com bala, vai ser do jeito que vocês gostam? Vou ter que atirar na cara de vocês pra parar com essa palhaçada? — ameacei a mão já indo de leve na arma. Era o suficiente pra calar qualquer uma. As duas, ainda ofegantes, me encararam. Eu fiz sinal pra elas entrarem no barraco. — Bora pro barraco agora, que essa merda vai ser resolvida aqui e agora! — mandei. No rádio, chamei o maluco, o vapor que tinha dado início a tudo aquilo. "Cola aqui agora, se vira, senão vai ficar feio pro teu lado" A minha voz não deixava dúvidas sobre a seriedade do que estava por vir. Não demorou muito e o vapor apareceu, o medo estampado no rosto. Assim que ele entrou, olhei pra mãe do moleque e dei a ordem. — Fala o que tá pegando, quero ouvir. Ela, meio relutante no começo, começou a falar, despejando toda a indignação de não estar recebendo a pensão do filho. Quando ela terminou, encarei o vapor com o olhar afiado. — E aí, por que você não tá pagando a pensão? Vai me dizer que tá quebrado? — provoquei. Ele engoliu seco, demorou um pouco, mas soltou: — Não tá sobrando, Chefa. Aí foi a minha vez de ficar püta. Como assim não tá sobrando? Pra outras coisas deve tá sobrando, pensei. — Ah, não tá sobrando? — repeti, com ironia. — Então deixa eu te explicar como vai ser: tu vai acertar toda a pensão e vou descontar da tua cota, entendeu? Sem papo, sem choro. Antes que o vapor pudesse responder, a atual mulher dele, que até então tava calada, decidiu se meter. — Mas isso não é justo! — ela gritou, a voz aguda me irritando ainda mais. Nem pensei duas vezes, saquei a pistola e botei na cara dela. — Cala essa boca agora! Da próxima vez que tu gritar ou tentar se meter em um assunto que não é teu, tu vai pra vala, entendeu? Ela se calou na hora, os olhos arregalados de medo. Abaixei a arma e fiz sinal pro vapor e pra ex-mulher dele voltarem pra boca comigo. Não ia deixar essa situação passar em branco. Assim que chegamos na boca, já vi Tony sentado na frente, de olho em tudo. Ele me olhou, mas nem dei moral, passei direto e fui resolver o que precisava. Peguei o rádio e chamei o contador. Quando ele chegou, dei as instruções. — Faz a conta de quanto esse mané tá devendo de pensão e quanto vai ter que pagar todo mês. Tô de saco cheio desse tipo de desculpa. O contador, eficiente como sempre, fez as contas rapidinho. Assim que ele terminou, abri o cofre do comando e tirei o dinheiro necessário pra cobrir as pensões atrasadas. — Tá aqui — eu disse, entregando o dinheiro pra mãe do garoto. — Tu vai vir pegar todo mês diretamente com o contador, e se ele não pagar, me avisa. Ela pegou o dinheiro, agradeceu e saiu. Antes que o vapor pudesse fazer o mesmo, eu cortei. — Onde você pensa que vai? Volta aqui! Ele parou, visivelmente nervoso. Eu cheguei mais perto, o encarei de frente. — Tu vai virar homem ou vai continuar sendo moleque? Pensa que é bonito deixar o teu filho sem o que ele precisa? Tu acha que é isso que a gente faz aqui? Ele baixou a cabeça, sem conseguir me encarar. Eu não terminei. — Tu tá achando que não tem consequência? Se tu não tem responsabilidade com o teu próprio sangue, como eu vou acreditar que tu tem responsabilidade com o trabalho? Com a boca? Minha voz era fria, cortante. — A partir de agora, a tua cota vai ser O que sobrar, Vou descontar o que eu passei agora e a pensão do mês. E se tu não resolver essa tua vida de vez, pode esquecer teu lugar aqui. Ele acenou com a cabeça, sem dizer nada, mas eu sabia que a mensagem tinha sido dada. — Agora vaza — ordenei. — E vê se cria vergonha na cara. Eu vi ele saindo, ainda de cabeça baixa, mas com uma postura diferente. Sei que ele entendeu o recado, e se não tivesse, a próxima conversa ia ser muito mais complicada pra ele. Depois que ele saiu, voltei pro meu posto, sem dar muita importância pro que tinha acabado de acontecer. No fim do dia, era só mais um entre tantos problemas que eu tinha que resolver. Mas cada um desses problemas servia pra reforçar a responsabilidade que eu tenho nas mãos. E ninguém, nem mesmo o vapor mais atrevido, vai duvidar disso. Quando saí da minha sala, o Tony, pediu para falar comigo. — Queria levar um papo sério com a Sra.
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