07 - Anthony

1034 Words
Anthony Narrando Fiquei parado do lado de fora, em cima da moto, enquanto a Serena entrava na casa dos avós dela. O calor estava forte, e o sol fazia o dia parecer mais longo do que realmente era. Eu observava tudo ao redor, tentando me acostumar com o ambiente. Enquanto esperava, notei que os vapores estavam almoçando em duplas, de dois em dois. Não demorou muito até que fosse minha vez. Um dos seguranças apareceu no portão e acenou para mim, indicando que eu podia ir. — Sua vez — ele disse, de forma seca. Eu o segui até uma casinha pequena que fica na lateral da casa do pajé. Assim que entrei, notei que havia uma cama encostada na parede, um ventilador velho girando devagar no teto, e uma mesa arrumada com dois pratos já servidos. — Aqui que vocês almoçam? — perguntei, mais para quebrar o silêncio do que por curiosidade genuína. — É. A gente faz as refeições aqui quando tá de plantão. Me sentei e comecei a comer. A comida era surpreendentemente boa, muito melhor do que eu esperava encontrar nesse lugar. — Quem fez essa comida? — perguntei, de boca cheia, depois de alguns minutos. — Dona Yara, a mulher do pajé. Ela manda a empregada preparar e trazer pra gente — respondeu o outro vapor, sem levantar os olhos do prato. Balancei a cabeça em aprovação, mas não disse mais nada. Continuei comendo em silêncio, concentrado no meu prato e nos pensamentos que rodavam na minha cabeça. Quando terminamos, voltamos para frente da casa. Agradeci pela comida, mesmo sem saber se ele tinha algo a ver com ela. Quando cheguei na frente da casa, fiquei encostado no portão, esperando pela Serena. Não demorou muito até que ouvi o rangido do portão se abrindo. Levantei a cabeça e vi Serena saindo, já em cima de uma moto. Ela nem sequer olhou na minha direção, o que me deixou um pouco desconfortável. O índio apareceu, interrompendo meus pensamentos. — Você, entra — ele disse, com uma voz firme. — Serena, vai pra boca com o outro segurança. — Mas... — comecei a protestar, mas ele me cortou com um olhar severo. — Vai. Não é pra você, é pra ela. Serena nem pestanejou. Ela acelerou a moto e saiu, sem olhar para trás. Fiquei parado, sem entender direito o que estava acontecendo, mas percebi que não tinha escolha. O índio me fez um sinal para seguir. — Qual é a situação? — perguntei, tentando arrancar alguma informação dele enquanto entrávamos. — Você vai saber — foi tudo o que ele respondeu. Eu segui o índio até a entrada da casa do pajé, tentando me manter calmo, mas a tensão me fazia apertar os punhos. Vários pensamentos passando pela minha cabeça, Será que ele descobriu quem eu sou de verdade. Acho que não, se não ele não iria conversar comigo, ele ia me mandar conversar com Deus. Assim que passamos pela porta, notei que a casa é sofisticada, mas não tive tempo de observar muito os detalhes, pois todos os presentes estavam reunidos na sala, seus olhares fixos em nós. O índio à minha frente caminhou com passos firmes por um corredor estreito, sem dizer uma palavra. Quando chegamos ao final, ele abriu uma porta de madeira e fez um gesto para que eu entrasse. Respirei fundo, dei um passo à frente e cruzei a soleira, sentindo o peso do momento. Logo que entrei, o índio veio logo atrás de mim e fechou a porta. Ele se sentou atrás da mesa, Sem dizer nada, apenas apontou para um lugar vazio à sua frente, me indicando para que me sentasse também. Hesitei por um segundo, mas fiz o que ele mandou. O olhar dele penetrante como sempre, Ele foi direto ao ponto: — Qual é a tua intenção? — perguntou, com a voz carregada de desconfiança. Levantei a cabeça, um tanto confuso, e devolvi a pergunta: — Não entendi? Ele não hesitou, a expressão no rosto dele ficou ainda mais séria. — Não sou bürro e não nasci ontem — ele disse, as palavras saindo com firmeza. — Já sei que você pediu para trabalhar diretamente com a Serena. Quero saber o que você quer com a minha filha. Senti minhas pernas tremerem, e por um segundo, tive que me segurar para não vacilar. Os olhos dele pareciam chamas de fogo, uma mistura de raiva e proteção. A veia no pescoço dele pulsava intensamente, como se estivesse prestes a explodir. Na mesma hora, uma ventania começou do lado de fora, a janela do escritório estava aberta, e as cortinas balançavam violentamente com o vento. O Índio colocou as duas mãos sobre a mesa, se inclinando para frente, se aproximando ainda mais de mim. Ele me encarou diretamente nos olhos, como se quisesse penetrar minha alma. — O que você quer com Serena? — repetiu, dessa vez mais devagar, mas com uma intensidade que fez meu estômago revirar. Engoli seco, tentando manter a calma, mas o nervosismo estava à flor da pele. Respondi com a voz um pouco trêmula, mas sincera: — Eu só queria ficar perto dela. Serena é linda, inteligente... eu realmente acho que posso aprender muito com ela. O Índio estreitou os olhos, o olhar ainda mais afiado, como se estivesse tentando decifrar minhas verdadeiras intenções. Eu sabia que precisava tranquilizá-lo, então continuei: — Pode ficar despreocupado. Eu vou fazer a segurança de Serena, estou dando minha palavra de honra. Ele permaneceu em silêncio por alguns instantes, apenas me encarando, como se estivesse pesando cada palavra que eu disse. A tensão no ar era quase palpável, e eu me perguntava se ele realmente acreditou em mim. Finalmente, ele se endireitou, afastando-se da mesa, mas ainda com aquele olhar de quem não estava completamente convencido. Eu sei que ganhar a confiança dele, e ficar perto da Serena não vai ser fácil, mas também estou determinado. A ventania lá fora começou a diminuir, e o Índio fez um leve aceno de cabeça me mandando sair do escritório. Praticamente corri, e ele ficou lá sentado, peguei a moto e fui direto pra Boca. Não posso Vacilar, o índio está de olho em mim.
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