08 - Marcos

1107 Words
MARCOS NARRANDO Fala tú, meu nome é Marcos Bocaiuva, tenho 18 anos e sou o sub do Morro do Rodo. A dona da quebrada é a minha prima Serena. Para a minha família, eu sou o Marquinhos; para o resto do mundo, eu sou o MC. Minha família perdoa o tráfico que vem passando de geração em geração aqui nessa quebrada. Primeiro foi o pai do vô Pajé, passou para ele, depois passou para o meu tio Cauê, que a geral conhece como Índio, e o tio Cauê passou para Serena. Trampar com Serena é firmeza. Ela é de boa; é só entrar no ritmo da música dela que tu não sai mais do bailão. Serena é o tipo de mulher que gosta de comandar, tem tudo na linha. Eu sou o tipo que gosta de obedecer para não sofrer retaliação, porque com aquela dali não tem perdão. Ela tem a cara de uma menina inocente, mas na verdade é o cão chupando manga, não n**a de quem é filha. Já o meu primo Avaré, que a gente chama de Guerreiro, ele é o gerente e é irmão da Serena. Para você ter noção de como essa garota é, ela não passa a mão nem na cabeça do próprio irmão. Se ele errar, vai ser cobrado do mesmo jeito. Então, deixa eu te contar um pouco sobre a minha irmã mais nova, a Maísa. Ela tem apenas 16 anos, O lance é que ela é totalmente diferente de toda a nossa família. Enquanto eu e o resto da galera tentamos manter os pés no chão e nos preocupar com o que realmente importa, ela tá sempre no mundo dela, perdida e fazendo escolhas questionáveis. Minha mãe, a Betina, não é muito chegada em se envolver nas questões da família. Mas ela fica sempre ao lado do meu pai, que já tá aposentado há um tempo. Mas, quando o bicho pega, ele não hesita em entrar no meio. É tipo um descanso só de aparência, porque ele ainda é o primeiro a se meter quando a coisa fica séria. Agora, voltando à Maísa. Ela é o oposto de tudo que a gente valoriza, ela vive como se estivesse numa novela de patricinhas. A verdade é que a gente mora numa favela, e ela parece uma estranha no ninho. Ela se veste como se tivesse saído de um desfile de moda e anda com uma turma de playbas, que são o tipo de cara que vive pra ostentar e mostrar que tem mais do que os outros. Não que eu tenha algo contra esse estilo de vida, mas os playbas com quem a Maísa anda não são exatamente a melhor companhia. Já dei um toque no meu pai, e ele tá de olho. Já a minha mãe do falta arrancar os cabelos dela, Maísa apanha pra caralhø, já ameaçou fugir de casa, mas a minha mãe mandou ela fugir e disse que quando encontrasse ela, ia passar a zero, dar umas madeirada e botar ela pra descer o morro pelada. Rapidinho a garota se calou nessa parada. Eu estudei até o terceiro ano, igual aos meus primos, eu não sou muito dessa parada aí de deus da força nem do trovão. Mas vou falar pra tu, o bagulho fica insano, quando o deus da força, sei lá quem. Incorpora no tio Cauê, Caralhø é de se cagår todinho. O vento começa a ficar forte, do nada o céu escurece e começa os raios e o trovão. Os olhos do meu tio vira, para sinistra compadre. Eu me cagö todinho. A avó Yara diz que Serena é filha do trovão, mas nunca rolou essas paradas aí com ela, só com o tio. E a única pessoa que controla ele, é a minha avó, a minha tia Lua e a Serena. Vou mandar o papo reto: namorar não é pra mim. Deixo essa parada pra quem tá afim de se amarrar, porque eu tô longe dessa vida. Tenho muito chão pela frente pra ficar me prendendo a alguém, cheio de sonhos e ainda por cima novo demais pra essas responsabilidades de namoro. Eu gosto é da vida que eu levo, sem cobrança, sem ninguém pegando no meu pé, e, principalmente, sem compromisso. E olha, vou te falar, nessa vida de solteiro, eu faço a festa. Quem aparece na minha frente, se estiver na disposição, eu não penso duas vezes. A parada é direta, do jeito que tem que ser. Pediu pra sentar? Sentou. Eu não faço distinção, não. Pra mim, tanto faz se é mina da favela, do asfalto, ou de qualquer canto. Alta, baixa, se me chamou e me atraiu, já era. Eu não tenho essa de ficar escolhendo muito. Claro que tem que ter atração, tem que rolar aquela química, mas se ela tiver no pique, a gente mete e pronto. Sem complicação, sem essa de ficar enrolando. Eu sou simples. A mulher chegou, a gente se curtiu, a noite foi boa, cada um pro seu lado no dia seguinte. Sem encanação. Vida que segue. Agora, tem uma coisa que eu deixo clara: mulher comprometida, comigo não rola. Não sou talarico, respeito o relacionamento dos outros. Essa parada de ficar se metendo em relação dos outros é fria, coisa de quem não tem moral, e eu tenho a minha. Prefiro ficar na boa, com as solteiras, que também querem só curtição. Esse é o meu lema. Não vou mentir, a vida que eu levo me faz feliz pra caramba. Tô no comando, faço o que quero, com quem eu quero, na hora que eu quero. Meu tempo é meu, minhas escolhas são minhas, e ninguém vem dar pitaco. Já vi muito mano aí se enrolando com mulher, perdendo tempo e se amarrando. Se desgastando com briga, ciúme, essas coisas. Aí não dá pra mim, não. Eu sou livre, faço minhas escolhas e, por enquanto, a escolha é viver na pütaria. Eu curto essa liberdade, essa adrenalina de não saber o que vai rolar na próximo bailão, na próxima festa. É o desconhecido que me atrai, a surpresa da próxima mina que vai cruzar meu caminho. E cada uma é uma história diferente, uma vibe nova. Isso é o que faz a parada ser interessante. Não tem monotonia, não tem mesmice. Falam que eu sou desapegado demais, que essa vida de curtição uma hora cansa. Pode até ser, mas, por enquanto, não tenho do que reclamar. Tô aqui, vivendo um dia de cada vez, curtindo o que a vida tem pra oferecer. E tem muita coisa boa por aí, muitas minas que ainda quero conhecer, e muitas experiências pra viver.
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