Kátia Pietra
Seu olhar subiu até o meu rosto, quando iria pronunciar algo a porta foi aberta por uma morena muito elegante, exibindo longos cabelos cacheados. A atenção dos homens da casa se focaram nela.
Ruan se levantou, mas o seu pai apenas permaneceu sentado, tipo sem educação mesmo.
_ Olá. _ Se aproximou me fazendo levantar para falar com ela. _ Sou a Vanessa, mãe desse morenão aqui.
_ Oi, prazer em conhecê-la. _ Ruan voltou a me abraçar. _ Nota-se de onde meu namorado surrupiou a beleza.
_ E eu não tive nada haver com isso, não é mesmo? Pietra. Além do mais, falando dessa maneira fica parecendo que ele tem aparência afeminada.
O olhei braba.
_ Não coloque palavras em minha boca, senhor... Qual o nome mesmo? _ Pergunto com deboche fazendo todos rirem.
_ Sinceramente, vamos almoçar, estou varada de fome, e feliz por finalmente conhecê-la Kátia. _ Disse Vanessa com enorme simpátia, muito diferente do seu ex marido.
Fomos a cozinha, e nos sentamos à mesa, inclusive seu pai ogrão. Beti terminava de colocar os pratos quando me dei conta de algo.
Debaixo da mesa apertei a mão do meu moreno ao visualizar uma tigela gigante de macarrão parafuso envolvido pela terrível doadora de celulite. Engoli em seco ao constatar os grãos de milho e ervilha espalhados na massa, dizendo mentalmente que cataria eles, disfarçando o repúdio de espaguete com algo tão... gorduroso. Que nojo.
Infelizmente nesse exato momento olhei o Carlão, o cara não disfarçava o seu interesse, me incomodava o seu olhar durão, parecia querer arrancar minhas roupas com os dentes ou me desafiar num concurso de encaradas.
Quando mirei Ruan fui logo depositando um beijo na boca dele, só me esqueci de fechar os olhos. Seu pai via tudo, e mesmo assim se manteve lá, observando discaradamente.
Minha língua chegou a deslizar fora da sua boca e o seu coroa congelado permanecia.
_ Vocês querem pular o almoço e ir trepar no quarto? Meu filho tem bastante camisinha no pote. _ Ele se moveu pegando o prato. _ Fica a vontade Pietra. _ Comenta ironicamente.
Me afastei de uma vez.
_ Nossa amor, que beijo saboroso. _ Seu filho sussurou em meu ouvido com doçura.
Depois ele me serviu olhando nos olhos pra vê a quantidade que eu queria.
_ Pode por bastante salada? Sei que adora isso.
_ Sim, amor, obrigada.
Comemos em silêncio, quando foi servido o prato principal quase tive uma síncope ao assistir sua tia mexendo aquilo, chegava a fazer um som asqueroso. Novamente meu gato me serviu.
_ Amor, só uma colher, preciso manter a forma.
_ Que nada! _ Esbraveja seu pai na outra ponta da mesa. _ No mínimo umas três colheres dessa. Eu fiz suficiente para sobrar para a janta.
Típico dos da classe inferior, nada contra mas não era a minha praia comer comida requentada.
_ Amor, foi o paizão que fez e...
_ Tudo bem. _ Digo o olhando carinhosamente.
Vou encarar a gororoba do casca grossa. Vale-me Deus!
_ Sim, dengo. Pode colocar.
_ Hummm... meio sugestivo. _ Enfia a colher na boca. _ Não acha filhão? _ Pergunta mastigando com a boca aberta.
_ Minha Kátita é insaciável pai, eu amo essa mulher.
_ Te entendo. _ Aponta fazendo um chiado no dente. _ Desculpa os modos, a ervilha grudou.
_ Sem... detalhes da sua mastigação. Irmão.
Por fim acaba cuspindo.
Ruan obedecendo ao seu pai põe as três malditas colheres no meu prato. Ao abrir a vasilha do frango minha boca encheu dágua.
_ Nossa eu amo isso, acho que é a única coisa que sinto saudades de Rio Bonito.
_ Rio Bonito? Onde fica? Achei que sempre havia morado em São Paulo, amor.
Olho cada um naquele recinto, sabendo que havia entregado demais a respeito do meu passado... pobre.
_ Foi só jeito de falar...
_ Pra mim não foi.
Mirei o barbudo com tatuagens explicidas nos braços com raiva. Ele comia enquanto me mantinha presa no seu olhar investigativo.
_ Você não me conhece, e garanto que jamais vai descobrir qualquer relato ao contrário do que sou hoje.
Sua postura mudou, ficando mais sombrio.
_ Isto, por acaso é um desafio? Porque se for, Kátia Pietra, eu desvendarei. _ Volta a comer bruscamente, tanto que bateu o metal no dente.
_ Posso por o frango agora? Qual parte você gosta.
_ Coxa!!
Eu e Carlão falamos ao mesmo tempo. Deixando de lado esse fato, vejo meu amor arrumando com jeitinho o meu prato. Fico tão comovida com o seu ato que me obrigo a comer aquela mistura. Mas ao provar me deliciei, e o frango estava definitivamente... saboroso.