CAP 1 "Só não vale se apegar e nem se apaixonar"

2417 Words
ALGUMAS SEMANAS ANTES... Triana Müller Ruschel... A vida não é fácil para quase ninguém, a minha ficou um pouco mais difícil, quando meu pai faleceu e minha mãe resolveu voltar para o sul com meus irmãos. Apesar de eu ter nascido no Rio, toda a minha família é do Sul. O custo de vida para minha mãe em Bagé, seria muito menor que no caríssimo Rio de janeiro. Eu resolvi ficar, aqui estava construindo minha vida. Apesar de não ter gostado da ideia, em me deixar sozinha na segunda metrópole do país, minha mãe concordou. Ela sabia o quão focada eu estava em me organizar financeiramente na vida. Sendo assim, não iria me deixar dominar pelas futilidades da vida. Claro que se divertir faz parte e é saudável, não da forma que Alexei e Rachel se divertiam. Meus amigos saiam quase todo santo dia, Alexei puxava plantão comigo e nem sei como tinha disposição para passar a madrugada na pista e enfrentar 24hs de trabalho. Rachel não trabalhava, estudava direito na Fundação Getúlio Vargas em tempo integral, família rica para bancar ela só tinha que se preocupar com as notas. Por isso ela me acordava ao meio dia no sábado, quando fui dormir as sete da manhã. — Sabia que um ser humano necessita ao menos de seis horas mínimas de sono? — Reclamei. Rachel faz um muxoxo — Para de reclamar, você dormiu cinco horas, depois dorme mais. — Simples assim, muito fácil não é mesmo. O que quer sua chata? — Pergunto impaciente. — Alexei ofereceu o apartamento dele para gente, estava dividindo com o namorado, mas o boy dele voltou para Minas. — O ap dele é bacana, o problema é que vai aumentar o orçamento. — Não vai aumentar muito, só 200 reais, a gente se muda para Copacabana. — 200 a mais pode ser só para você, para mim é muita coisa. E não vejo tanta vantagem em sair da Tijuca para Copa, a única vantagem é que o ap do Alexei é excelente. — Para de história Tri! Você cansa de reclamar quando tem jogo do Mengão que o bairro vira um caos. — Rachel contesta. — E os eventos que acontecem em Copa, também irei reclamar. Ainda tem o Rio e seu verão eterno lotando a praia e o bairro. Contudo, o maior motivo é que não vai dar para pagar esse valor a mais. — Posso pagar esse valor a mais. Gasto esse valor com um balde 6 brejas importadas. — Não seria justo. — Tento fazê-la entender. — Seria sim orgulhosa. Eu que quero me mudar. Pensa com carinho, vai ficar mais perto do hospital. Diz que sim, vai. — Vou pensar. — Rachel dar um gritinho e beija minha bochecha. — Tem mais uma coisinha. — Quando pensei que iria me livrar dela e voltar a dormir, ela volta falar. — Hoje é o dia do baile light la no Faz Quem Pode. Alexei mandou te lembrar. — Eu sei sua chata, prometi a vocês que irei conhecer esse baile, mesmo não tendo a mínima vontade de curtir diversão em favela. — Sei que esse seu preconceito irá acabar. O baile ligth é maravilhoso, filezinho. — Ok! Eu duvido muito, mesmo assim irei. Agora sai mala, me deixa dormir. Ela finalmente saiu fechando a porta e eu me cobri até a cabeça com o edredom. (...) — Ah não, Mona! No baile de favela tem que chegar lacrando, você não vai vestidas como alguém que acabou de sair do convento. — Discorre Alexei, assim que me ver pronta para sair com eles. Olho para o meu vestido e seguro o tecido da saia em minhas mãos. — O que tem com a minha roupa? — Nada Tri, está linda! — Rachel ameniza. — Ah é mesmo. — Alexei põe as mãos nas cadeiras. — Então porque não vai igual a ela para o bailão, vestida de virgem beata. — Você é uma bicha má Alexei. — Ah Mona, só estou sendo sincera. Ok, você está bonita, mas essa roupa não combina para o lugar que a gente vai, entende? — Então não terei como ir. — Ai deixa ela Alexei! — Rachel dispara. — Daqui a pouco a Tri desiste de ir. E finalmente ele entendeu que não iria a lugar algum vestida diferente do que sou. (...) Funk era algo que tinha se acostumar, a batida é super boa para movimentar o corpo, o que na maioria das vezes não gostava são as letras. Até que o ambiente era legal. Muita gente de óculos escuro a noite, devia ser moda. As caixas de som eram tão potentes que faziam meu coração bater junto com elas. Alexei ia abrindo caminho, Rachel no meio e eu era última. Procurávamos um lugar para parar. Achava divertindo quando via um grupo sincronizado fazendo passinho, o r**m era passar e ter seu cabelo puxado, não com violência, mas com sexismo. Nós paramos próximo ao bar, assim facilitava a vida dos meus amigos biriteiros. Rachel e Alexei sabiam todos os passos das danças modinhas, eu era bem mais discreta. Não do tipo travadona, mesmo porquê o funk nem deixa a pessoa ficar parada. Balançava o esqueleto, sem muita empolgação. Ao nosso lado tinha um grupo de meninas que não deviam ter mais que treze anos. Estavam todas de shortinhos e mega saltos, com uma garrafa de ice na mão. A tal bebida é bastante consumida pelos jovens, e tem um teor alcoólico bem elevado. As meninas eram legais e se enturmaram com a gente, entretanto aquela situação me deixava triste. Os rapazes do baile a tratavam como mulheres feita e por mais que se arrumassem como tal, só conseguia ver crianças. No hospital, via muitas com problema no parto, pelo útero ainda não ser apropriado para gestação. Um corpo infantil, com outro dentro. Em um certo momento fiquei sozinha com elas. Rachel foi ao banheiro, logo depois Alexei foi a caça de um boyzinho que ele estava paquerando desde que chegou. Eu fiquei tomando conta do balde e me divertindo com as meninas. Dançando, fazendo até o tal quadradinho. — Aí na moral, tu é uma mina muito engraçada! — A menina n***a de olhos castanhos expressivos que usava trança afro loira, fala ao pé do meu ouvido. — Porquê me acha engraçada? — Ah sei lá! Você vem para cá vestida como se fosse para igreja aos domingos e começa a balançar a raba direitin. Tá ligada! Só me restou a rir de toda aquela espontaneidade. Iria falar com ela, que não tinha a ver com religião, aquele simplesmente era meu estilo. Não pude, um homem corpulento, tatuado, vestindo calça jeans e colete aberto também jeans, saiu arrastando a menina. Fazendo com que a expressão dela fique apavorada. Todo mundo via a menina ser arrastada e ninguém fazia nada. Falei para outras duas que estavam com ela, tomar conta da bebida dos meus amigos, pois iria tentar ajudar a amiga dela. — Não! Tu é louca mesmo, não pode se intrometer. — Elas gritam e falam quase a mesma coisa para mim. — Fiquem tranquila, sei me dar com situação de conflito. — Claro que toda minha experiência estava em torno de pacientes descompensado e de seus parentes m*l educados. As meninas tentaram me impedir falando algo de monstro, não dei atenção, não queria que eles fossem para longe e a garota tivesse um baita problema. Sim, talvez estivesse louca, estava dentro de uma das favelas mais perigosas do Rio e iria me meter em algo que poderia me trazer sérios problemas. Contudo, meu lado social e humano. Era incapaz de fazer como essas pessoas daqui. Ver uma menina ser arrastada por um adulto e fingir que não viu. Fui andando o trajeto que eles fizeram no meio do baile, tinha uma grade que foi afastada, com certeza eles passaram por ali. Só poderiam ter ido por um beco a frente, ou entrado em uma das casas ao redor. Se ele a levou para essas casas, só teria como rezar por ela. Nada além disso eu poderia fazer; Tentei que os deuses conspirassem ao meu favor no beco, para minha sorte eles estavam lá. O homem apontando o dedo para ela de maneira agressiva, a menina totalmente coagida na parede, parecia está amedrontada. Corri quando o vi, sacolejar ela pelos braços e me aproximei. — Talvez tenha uma melhor maneira de lidar com essa situação. — Falei pelas suas costas, O homem demorou a responder, quando fez, sua voz grave fez eco na viela. — Na moral! Mete o pé. — O corpulento falou de maneira agressiva sem olhar para mim. — É melhor você ir. — A menina fala assustada, com a voz embargada. — Não. — Insisto. — É melhor falar com seu... seu... — Me dava até vergonha em dizer que um galalau desse é namorado ou ficante de uma menininha, não era um velho, mais tinha uns 22 anos enquanto ela uns 12. — É melhor falar com seu amigo em outra hora, prometi a sua mãe que lhe deixaria na porta de casa. — Aquela foi a história que me veio a cabeça e inventei de forma inesperada, talvez não fosse a melhor. A menina assim que me ouviu falar, arregalou os olhos e balançou a cabeça efusivamente. — Não Max! — Ela o segurou pelo colete, não adiantou, sem fazer esforço ele soltou as mãos dela e se virou para mim. Tinha uma cor linda, canelada. Seus olhos eram de um castanho muito claro, boca carnuda e uma cara de m*l. "Tão bonito e papa anjo". — Então a Galega conhece a mãe dela? Sua expressão era demais de enfezada, de certo sabia que eu mentia e comecei a gaguejar. — Conhecer, conhecer não. Mas prometi que a deixaria em casa. — Não esquenta para ela Max. É louca. Moça vai embora! — Fala exasperada. — Só vou se vier junto. — Mantive minha postura. — Parabéns pela coragem! Porquê noção você não tem. — O homem joga na minha cara. Engoli em seco. — Desculpa me meter e mentir, é que ela é só uma menina. Sei que as meninas estão crescendo muito rápido, só quero saber se ela vai ficar bem. A expressão dele mudou totalmente, saiu da raiva para curiosidade. — Está pensando que eu e a Marcela estamos saindo e veio aqui proteger a garota? — Ele é meu irmão, sua doida! — Ela desabafa. — Já pode ir agora, sabe que não é o que pensou, agora mete o pé sua doida. — Fala fazendo um gesto com a mão, querendo que eu me vá rapidamente. Não iria embora assim, pensei errado, agora nada mais justo que eu me redimisse — Irmão! Meu Deus me desculpa, que vergonha! Eu só... —... Só queria proteger ela. Achei maneiro. — E no mesmo instante sua irmã olha para ele com as sobrancelhas eriçadas, pelo visto estranhando a postura que o homem tomou. — Marcela fugiu, não quero ela aqui no baile. Tem que isxxtudá sacô? — Saquei! — Estiquei minha mão em cumprimento. — Prazer Triana Müller! — E no mesmo instante que me apresentei ele começou a rir. — Falei alguma coisa engraçada? Tentando controlar o riso ele fala. — Ai, foi m*l! Mas seu nome é engraçado. — Ele aperta minha mão, sou Maxsuel, pode me chamar de Max. — Então Max, o que tem de engraçado no meu nome? — Melhor eu não falar o que pensei. — Agora eu quero saber. — Insisti. — Tá bem, Trianta Mula. E nós dois começamos a ri. — Isso foi maldade. — Falo rindo. — Maldade foi quem te deu esse nome. — Meus pais são do Rio Grande do Sul, o nome é herança européia, já que eles colonizaram por lá. Meu celular começou a tocar dentro da bolsa, peguei para atender. "Oi, Rachel! Já estou indo! Que! A Marcela está ai!" Olhei para o Max que balançou a cabeça, a menina fugiu que não vimos. "Já estou indo, estou bem" Voltei meus olhos para o Max assim que desliguei. — Sua irmã voltou para as amigas dela, entendo sua preocupação ela bem danada, — Vai vendo hein! Num tô dizendo! Vou até lá pegar ela e levar para casa. — Porquê não fica com a gente um pouco? — Pô, na moral, né boa ideia não, tá ligado! — Ele Tinha um jeito malandreado para falar, que não gostava de ver nos homens, no Max era diferente, combinava. — Poxa só um pouco, assim a Marcela se diverte mais. — Tu é engraçada pra c*****o! — Devo está de nariz vermelho. — Falo um pouco indignada. — Todo mundo está me achando engraçada hoje. Ele ri, com seus dentes alinhados e boca grande. — Foi m*l de novo, é que pensei que tu saiu de um culto, tá ligado! E tu tá no bailão. Pelos vistos todos faziam questão de me passar na cara que eu não estava vestida adequada para ocasião. — Ok, já entendi! Vou voltar para a quadra, meus amigos estão preocupados. Prazer em conhecer Max. — Espera! — Max me puxa, segurando meu braço deslizando até a minha mão onde ele encaixa a dele. O arrepio na minha pele, foi instantâneo. — Não quis te zoar. — Você quis sim, mas fica frio que não estou chateada. — Quem está te esperando na quadra são só amigos mesmos? — Porquê a pergunta? Quer saber se pode ficar com a mão na minha como está fazendo agora. Os carinhas daqui são bem atrevidos, passam a mão no nosso cabelo, seguram na mão. Ele deu um sorriso recheado de maldade, nem sei porquê, mas me aqueceu o ventre. — Fala sério que tu acha atrevimento, nós pegar na sua mão. Nem isso aqui é atrevimento se nós sabe que a Mina quer — Max me puxou colando meu corpo no dele, no meio daquela viela. O homem olhava para minha boca como se fosse algo que ele quisesse degustar. Ele percebeu que a vontade dele, também era a minha. Se aproximou mais, curvando um pouco a cabeça para alcançar minha boca, em seguida pressionando os lábios nos meus. Sem reservas, me encostou na parede esmagando seu corpo no meu. Sim, estava dando uns pegas em um desconhecido. Claro que já havia feito isso outras vezes, mas nunca em uma viela de morro. Hoje eu enlouqueci.
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