Me dê alguns dias e você verá como vou melhorar.

1120 Words
O homem, com o rosto marcado pelo trabalho e vestindo um macacão de jardinagem, pega as malas do chão sem pressa, como se não fosse nada demais. Enquanto o vejo carregá-las para dentro, minha mente continua em caos. Estou lutando para recuperar o fôlego, e a sensação de angústia só aumenta. O peso da crise de pânico continua a me engolir por dentro, mas o som do nome de Jake... o nome dela dizendo-o com tanta naturalidade, é ainda mais insuportável. É como se eu estivesse perdido em um labirinto, buscando algo que não posso encontrar. Não sou Jake. Não posso ser. Mas algo dentro de mim grita que, de alguma forma, há uma conexão que não entendo, um vazio que cresce mais a cada segundo. Sinto o toque dela na minha cintura antes de perceber. Jéssica me envolve, e, de repente, a pressão no meu peito diminui um pouco. A sensação do seu apoio me dá algum alívio, e não tenho forças para rejeitar. Ela me conduz até a varanda, me ajudando a me sentar com mais cuidado do que eu consigo dar a mim mesmo. Eu m*l consigo respirar, os olhos fechados, a cabeça baixa. O frescor da sombra e a brisa leve são um bálsamo para minha mente atordoada. — O que você tem, afinal? Está pálido, com aspecto de doente. Quase não se mantém em pé. — Sua voz, preocupada e suave, corta o silêncio. Eu a fito, e é impossível ignorar a preocupação genuína estampada em seu rosto. Seus olhos verdes, brilhantes e insistentemente fixos nos meus, esperam uma explicação. Há algo de profundamente familiar na forma como ela me observa, algo que me faz querer me abrir, contar tudo. Mas as palavras ficam presas. — E então? — A voz dela é suave, mas firme, como se ela precisasse de uma resposta, como se me conhecesse de alguma forma, mais do que eu mesmo. Ela continua ali, séria, observando cada reação minha com uma atenção inquietante. Respiro fundo, tentando reunir forças para falar, mas a verdade é que estou exausto. Não apenas fisicamente, mas emocionalmente, e isso parece me corroer mais a cada dia. Fecho os olhos por um momento, tomando o tempo que preciso para organizar meus pensamentos. Sei que preciso explicar, mas as palavras não vêm facilmente. — Eu... — Começo, a voz arrastada e baixa. — Não sei como dizer isso, mas... Eu estou… sobrecarregado. Ela me observa em silêncio, e isso me dá coragem para continuar. — Tenho estafa. — Digo, a palavra saindo como um sussurro. — E síndrome do coração hiperativo. Tudo isso causado pela ansiedade. A adrenalina está me consumindo. O excesso dela... Eu simplesmente não consigo controlar. Minhas mãos começam a suar. Eu me sinto mais vulnerável do que jamais imaginei, mas a verdade precisa ser dita. — A cada dia os sintomas pioram. O cansaço, os batimentos descontrolados, o aperto no peito... É como se meu corpo estivesse em um estado constante de alerta, sempre pronto para algo que não sei o que é. A pressão... É insuportável. Eu me inclino um pouco mais para frente, sentindo o peso da confissão. — Eu não posso continuar assim, Jéssica. Está piorando, e eu não sei como lidar. Eu… — Faço uma pausa, tentando respirar, mas o ar parece faltar. — Eu simplesmente não sei como parar. Sinto a pressão crescendo de novo, como se tudo estivesse prestes a explodir. Ela ainda me observa com atenção, sem interromper, esperando que eu continue. Mas, no fundo, a vergonha se mistura à dor. O que estou dizendo parece algo impossível de controlar, algo que não deveria estar acontecendo comigo. — Jason, eu vou ligar para Eleonora. Você não deveria ficar sozinho. A preocupação na voz dela é clara, mas a última coisa que preciso agora é mais pressão. — Não, por favor, Jéssica. Você só irá preocupá-la. E isso vai passar. Só preciso relaxar. Fitei-a com um olhar cansado, tentando transmitir algo que talvez eu mesmo não acreditasse. Era uma mentira, mas uma mentira que precisava ser dita. — Por que você não se hospedou na casa dela? — Ela me questiona. Passo as minhas mãos trêmulas pelos cabelos como se isso aliviasse meus sintomas. — Eleonora é uma ótima irmã, mas às vezes me sufoca. Eu só preciso descansar. O médico disse que tudo isso é devido ao estresse. Ela não parecia convencida. — Não sei não! Sorri para ela, tentando passar uma confiança que não existia. Ela me observava, imobilizada, seus olhos verdes ainda presos aos meus. — Me dê alguns dias e você verá como vou melhorar. As palavras saíram mais facilmente do que eu esperava, mas, assim que as disse, uma sensação de frio subiu do fundo do meu estômago. A ideia de passar o mês inteiro aqui, perto dela... Isso me assustava, mais do que eu queria admitir. Meu corpo reagiu de uma forma que eu não sabia controlar. Meu coração... Ele aguentaria? Fecho os olhos, fugindo da figura tentadora dela. Algo sem explicação, sem lógica. Apenas... eu. Arrebatado, cansado de tentar entender tudo isso, abro os olhos, respiro fundo e me levanto. Seguro a pilastra para me apoiar, buscando algo que me ancore. — Se não se importa, vou descansar. Ela olha para o relógio, o olhar ainda cauteloso, mas sem pressa. — São dez e meia. O almoço é às 12:30 em ponto. Se perder, ficará sem. Sorrio de leve, tentando afastar a tensão. — Está combinado. 12:30, eu me apresento para almoçar — digo, com um tom irônico, como se o chalé fosse um quartel-general. Ela não sorri. — Está certo. A curiosidade me pega, e a pergunta escapa antes que eu possa pensar. — Onde vocês servem o almoço? Na sua varanda? Ela me encara com uma expressão séria, sem desviar os olhos, e eu faço outra pergunta: — Geralmente sim, mas como você é conhecido nosso, mamãe com certeza vai querer que almoce conosco. Não faço ideia de quem é a senhora Williams. — Falando dela, ela saiu? — pergunto, tentando manter um tom simpático, como se fosse natural. — Sim, daqui a pouco ela chega. Foi aqui ao lado, numa feira livre, comprar frutas e verduras. — Entendi. Está certo. Bom dia para você. — digo, dispensando-a com um leve aceno de cabeça. Jéssica me observa por um momento antes de acenar levemente, e, antes que eu possa dizer mais alguma coisa, ela começa a se afastar, seguindo para a casa principal. A distância entre nós parece crescer à medida que ela vai embora, e a tensão no ar parece aliviar um pouco, embora o peso que carrego dentro de mim ainda esteja presente, me consumindo aos poucos.
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