Dou um passo para trás, criando uma distância forçada entre nós. Mas é inútil. O desejo ainda arde dentro de mim, teimoso e incontrolável, queimando como uma chama que se recusa a ser apagada.
— Eu... preciso ir. — Murmuro, mais como um lembrete para mim mesmo do que para ela. Minhas palavras são fracas, mas carregadas da necessidade de escapar antes que eu faça algo que não possa desfazer.
Mas ela não me deixa partir.
— Não, não vá. — Sua voz é suave, mas há uma firmeza por trás que me atinge tão forte quanto suas lágrimas. — Vamos começar de novo. Amigos?
As palavras dela pairam no ar entre nós, pesadas, mas carregadas de esperança. Seu pedido é um apelo, um convite para reconstruir algo no meio das ruínas que nos cercam.
Ela me estende a mão. Fico ali, parado, minha mente dividida entre ceder e fugir.
Amigos?
A palavra soa estranha em minha mente. Não sei se consigo ser apenas isso. Há algo nela que torna essa ideia impossível, algo que ultrapassa o limite de uma simples amizade. Mas, quando olho em seus olhos, algo em mim cede. Eles têm uma força desarmante, uma sinceridade que me atinge como um golpe direto no peito. Ela precisa dessa chance. Ela precisa de mim... e talvez, só talvez, eu também precise dela.
Por um instante, hesito. O conflito interno em mim é quase insuportável, uma guerra entre o que quero e o que acho que devo fazer. Então, quase como um reflexo, seguro sua mão. Meus dedos apertam os dela com firmeza, mas também com cuidado, como se eu temesse quebrar algo frágil.
— Amigos. — Digo finalmente, mas a palavra carrega um peso maior do que deveria. Forço-me a soltar sua mão rapidamente, antes que a proximidade me consuma novamente, antes que eu ceda ao que realmente desejo.
Dou um passo para trás, tentando colocar espaço entre nós, mesmo assim não consigo afastar a intensidade de sua presença. Uma parte de mim se rebela contra a ideia de amizade. Essa mulher... Ela é diferente.
Ela é luz, e eu sou a mariposa que inevitavelmente é atraída para ela.
Não é só pela beleza evidente, embora seus olhos, seus lábios e as curvas de seu corpo sejam hipnotizantes de uma maneira que qualquer homem notaria. Não, é mais do que isso. Há algo nela, algo intangível, algo que nenhuma outra pessoa jamais teve. É uma mistura de força e fragilidade, de dor e esperança, uma profundidade que me assusta tanto quanto me atrai.
E isso me consome.
Cada vez que estamos juntos, sinto que estou sendo puxado para um abismo que não sei se quero ou posso evitar. Ela é diferente de tudo que já conheci, e essa diferença me assombra, me confunde e, ao mesmo tempo, me fascina.
E então, por um breve momento, antes que ela diga qualquer coisa, fico parado, me perguntando se realmente serei capaz de ser apenas um amigo para ela.
— Bem, agora vou pegar as malas. — Digo, desviando os olhos dela. Preciso me afastar, preciso de ar. Ela tem um jeito de roubar meu controle, como se nem percebesse o estrago que causa apenas com sua presença.
Sigo até o carro, mas a figura dela me persegue como uma sombra, ocupando minha mente mesmo quando não está fisicamente perto. É impossível não visualizá-la: o vestido branco moldando suas curvas, o movimento suave de suas pernas longas e elegantes, os s***s arredondados que desafiam a lógica sob o tecido fino.
Para! Ela foi noiva do meu irmão!
Repito isso mentalmente, um mantra desesperado para tentar conter a onda de desejo que me atinge. É como tentar apagar um incêndio com as mãos nuas. A irritação começa a ferver dentro de mim, mas não é com ela. É comigo mesmo.
Acelero o passo, o som das minhas botas batendo contra o chão ecoando como um reflexo da minha frustração. Cada batida parece gritar o que não quero admitir: ela me afeta de uma forma que ninguém mais consegue.
O que há de tão diferente nela?
A pergunta martela minha cabeça enquanto destravo o porta-malas do carro. Tento racionalizar, encontrar alguma explicação lógica, mas é inútil. Sacudo a cabeça com força, como se isso pudesse espantar o desejo que grita dentro de mim.
Com movimentos bruscos, puxo as malas, uma em cada mão, e começo a caminhar de volta para o chalé. Cada passo é pesado, ecoando a confusão e a tensão que só crescem dentro de mim.
E se eu fosse Jake?
A ideia surge sem aviso, paralisando-me no meio do caminho. Não seria natural sentir isso por ela se eu fosse ele? O pensamento é como um soco no estômago, deixando-me sem ar.
Minha mente luta contra a lógica c***l que esse raciocínio apresenta. Meu corpo reage a esses pensamentos como um golpe físico, um baque s***o que faz minha respiração se agitar.
— Não, não, não! — Sussurro, minha voz rouca e quase suplicante.
Eu não posso. Não posso pensar nisso. Não quero.
Tiro as malas do carro com força desnecessária e essa ideia se arrastando como um fantasma, um peso invisível que parece colar-se a mim, desafiando tudo o que penso saber sobre mim mesmo, sobre ela, sobre Jake.
De repente, meu corpo cede ao peso da ansiedade. Paro no meio do caminho, as malas escorregam das minhas mãos e caem no chão com um baque abafado. Inclino-me para frente, apoiando as mãos nos joelhos enquanto tento puxar o ar que parece não vir.
Meu Deus... Estou tendo novamente uma crise de pânico.
— Você é tão cabeça dura como Jake.
A voz dela chega até mim como um choque. O som do nome "Jake" vindo dela causa uma estranha dor no meu peito. Meu olhar se ergue para encontrá-la, mas estou sem ar, incapaz de responder.
Ela vira-se para alguém ao longe, sua expressão firme, mas suave:
— Hernandez, leve as malas do senhor Rochelle para o chalé.