ll. Eric

2588 Words
Chicago, 2010. Inspira pelo nariz e solta pela boca, repito o meu mantra enquanto faço a minha caminhada matinal. Preciso recorrer a ele quando começo a sentir um leve incomodo ao respirar. Ter asma é realmente uma droga. Sei que preciso pegar mais leve comigo e maneirar com os exercícios, mas tenho que melhorar o meu condicionamento se quiser que o treinador me libere para competir. Detesto ser apenas o garoto reserva e mascote que está na equipe apenas de enfeite. Sei que posso ser mais do que isso e vou mostrar para eles que sou capaz no próximo treino de nado livre. Diminuo o ritmo dos passos conforme me aproximo de casa para regular minha respiração. Não quero deixar meus pais preocupados em pleno domingo. _ Voltando da caminhada? - Tio Logan questiona quando passo em frente a sua varanda. Ele esta sentado em um dos degraus, usa sua roupa de corrida e a julgar pelo suor que ainda ensopa suas roupas e rescorre por seu rosto também acaba de fazer a sua rotina de exercícios. _ Sim. - Digo sentando ao seu lado para observar a rua pouco movimentada de uma preguiçosa manhã de domingo. - Também estava correndo? - Ele assente secando o suor do bulso com a manga do casaco. - Tudo bem, tio? - Pergunto ao notar o seu olhar um tanto perdido e o ar de procupação. - Aconteceu alguma coisa com o Andy ou a tia Chloe? _ Não. Eles estão bem. - Garante com um meio sorriso. _ Então você está pensando na irmã do Andy. _ Estou sempre pensando nela. - Diz com ar abatido. - Penso tanto que as vezes até perco o sono. _ Por que não procura por ela, tio? - Pergunto curioso. _ Já estou fazendo isso. - Conta voltando sua atenção para mim. - Tenho um amigo que trabalha no departamento de polícia da cidade onde morávamos, mas ainda não conseguimos muita informação. Ela e a mãe parecem ter sumido do mapa depois que a minha Ex voltou a se casar. _ Ninguém some assim. - Digo o que ele já deve saber. - Talvez elas tenham se mudado para uma nova cidade e por isso seu amigo não conseguiu encontrar elas. _ Não acho que seja isso. - Fala deixando um suspiro escapar. _ Seu sexto sentido de policial tá dizendo que tem alguma coisa errada? - Pergunto o fazendo sorrir. _ Mais ou menos isso. - Diz apertando de leve meu ombro. _ Relaxa, tio. Sei que você vai conseguir encontrar as duas e logo terei o prazer de conhecer a sua famosa Amélia. _ É o que espero. - Diz ao mesmo tempo que ouvimos a voz de tia Chloe falando ao telefone com a minha mãe. _ Melhor a gente entrar ou elas irão servir guisado de Eric e assado de Logan no almoço. - Brindo ao me levantar sendo imitado por ele. - A gente se vê daqui a pouco, tio. - Me despeço dele antes de atravessar o pequeno gramado que separa nossas casas. Meus pais estão terminado de arrumar a mesa para o café da manhã quando chego. Vou direto para o banho antes de me juntar a eles. Depois de comer um café da manhã bem reforçado ajudo a retirar a mesa e cuidar da louça já que meus pais tiveram o trabalho de preparar o café e montar a mesa. Quando termino com tudo me junto aos meus pais que conversam na sala e fazem planos para a viagem de segunda lua de mel que pretendem fazer para comemorar mais um novo ano de casamento. Mamãe estava falando sobre o roteiro de viagem que pretende fazer quando a nossa campainha toca frenética. _ Eu atendo. - Papai fala já deixando o seu lugar no sofá. - Chloe, aconteceu alguma coisa? - O tom preocupado dele nos faz levantar e seguir até onde estão. _ O Andy pode ficar e passar a noite com vocês hoje? - Pergunta e percebo a agitação em sua voz. _ Claro que pode. - Mamãe fala abrindo espaço para que o pequeno confuso entre. - O que houve, amiga? _ Sim, mas não posso falar agora. Prometo que depois falamos e conto tudo. - Diz antes de descer os degraus da varanda correndo e entrando no carro de tio Logan que arranca logo em seguida. _ Foi a minha irmã. - Andy fala quando papai fecha a porta. - Parece que ela está com problemas e o papai precisa ajudar. _ Tenho certaza que o seu pai vai conseguir ajudá-la. - Papai fala bagunçando os seus cabelos castanhos. _ Eu sei que ele vai conseguir. - Diz com toda a sua certeza e confiança no pai. - Vamos jogar um pouco, Eric. - Chama praticamente me arrastando para a sala. Sem escolha sento ao seu lado ligando o jogo. Andy é um garoto muito maduro para a sua idade, mas ainda é um garoto e não demora a se destrair entre a histórias dos personagens na tela e os comandos do controle. Papai e mamãe sumiram na cozinha para se ocuparem do almoço e aposto que ligaram para os meus tios para saber melhor o que aconteceu de tão grave para eles sairem daquela maneira. Mas pelo modo agitado da minha mãe acho que não recebeu boas notícias. O nosso domingo passa com as horas arrastadas e um clima de tensão no ar. Ao anoitecer tio Logan liga para falar com Andy e o tranquilizar. Depois mamãe pede para falar com a minha tia seguindo para a cozinha em busca de privacidade e papai leva Andy para tomar um banho antes do jantar, que deve ser uma pizza com bastante queijo para distrair o garotinho. Mesmo sabendo que é errado caminho a passos lentos e cuidadosos até a entrada da cozinha e uso a parede como esconderijo para poder ouvir a conversa delas. _ Pobre garota. - Sua fala me faz acender um alerta de que as coisas não estão boas. - Como ela está agora? - Questiona e fica em silêncio esperando a resposta. - Imagino. - Diz seguida de mais uma pausa. - Não precisa se preocupar com ele. O Kevin e eu temos tudo sobre controle. Fiquem o tempo necessário para resolverem as coisas. Corro de volta para a sala quando ouço seus passos se aproximarem. Me jogo no sofá e finjo mexer no celular no exato momento que ela surge em meu campo de visão e Andy desce as escadas correndo com os cabelos ainda úmidos pelo banho recente. Mamãe me manda pedir a pizza antes de subir dizendo que ia ajudar meu pai a preparar a cama de Andy no meu quarto, mas sei que foi apenas uma desculpa para poder conversar com ele sem que eu e Andy escutemos. Faço o pedido enquanto meu amiguinho escolhe o filme da noite. O que significa que teremos filmes de heróis para a nossa pequena sessão de cinema. Leva alguns minutos até que ele decida que vai assistir Homem de Ferro 2 pela centésima vez essa semana. Esperamos meus pais descerem para darmos o play. A pizza chega no meio do filme e nos espalhamos no chão da sala para comer e assistir. Quando o filme termina o lugar está uma bagunça. Me ofereço para ajudar a limpar, mas recebo a missão de subir com Andy para nos prepararmos para dormir. Depois de uma pequena guerra fictícia de escovas e pasta de dentes nós seguimos para o meu quarto. Tem um colchão inflável forrado ao lado da minha cama que é completamente ignorado por ele que pula direto na minha cama. _ O que vamos fazer agora? - Pergunta ainda cheio de energia. _ Dormir. _ Ah, não. - Diz ficando de joelhos na cama. - Ainda é muito cedo e não estou com sono, Eric. _ E o que você sugere que a gente faça? - Questiono cruzando os braços. _ Vamos assistir mais um filme no seu notebook. - Fala com um leve dar de ombros. _ Vai dormir depois do filme? - Ele balança a cabeça em afirmação. - Certo. Desenterro o meu notebook debaixo da bagunça de desenhos e esboços espalhados sobre a minha escrivaninha e apago as luzes tomando cuidado de deixar o abajur ao lado da minha cama ligado antes de deitar ao seu lado. Escolhemos uma animação dessa vez. Mas o que era para ser apenas um filme se torna uma pequena maratona que acaba por volta das 2h da manhã quando Andrew finalmente se deia vencer pelo cansaço. A hora de levantar para iniciar mais uma semana de aulas é uma pequena tortura. Nos arrastamos pelo quarto enquanto nos arrumamos para a escola. Durante o café Andy quase cai de cara na tigela de cereal quando sentamos em volta da mesa para tomar o café da manhã. Na hora de sairmos de casa é uma pequena bagunça para decidir quem vai levar quem para a escola, mas no final da tudo certo. Chego a escola ao mesmo tempo que Jane guarda sua bicilceta no bicicletário. Ela está distraída ouvindo sua música que salta de susto quando me nota ao seu lado. _ Está tentando me matar, Fisher? - Questiona levando a mão ao peito em tom dramático. _ Não seja exagerada. - Digo empurrando seu ombro de leve. _ O Dylan não está com você? - Pergunta olhando para os lados procurando nosso amigo. - Ele está escondido para me assustar também? _ Quem está escondido? - Dylan pergunta confuso ao chegar no meio da conversa. _ Esquece. - Bufa arrumando a mochila nos ombros estressada e começa a andar em direção a entrada e a seguimos. Dylan começa a fazer suas palhaçadas e Jane logo desiste de ficar irritada com a gente. Pegamos nossas coisas em nossos armários e depois vamos direto para nossa aula de história com a senhora Hill, a professora mais chata de todo ensino médio. Quando chegamos a sala o quadro já está cheio de anotações e a professora está senta sentada em sua mesa esperando que todos estejam em seus devidos lugares para poder começar a explicar o conteúdo e nos encher de lição. Preciso lutar contra a vontade de dormir enquanto a senhora Hill fala sobre a guerra dos sete anos e quase grito em comemoração quando o sinal toca e finalmente somos liberados. As aulas seguintes são mais tranquilas e até que as horas passam depressa. _ Vocês entenderam aquele exercício de física que o senhor Morton passou? - Dylan pergunta quando nos sentamos juntos no refeitório na hora do almoço. _ Eu não entendi nada. - Digo abrindo a garrafinha de suco de laranja. - Você entendeu, Jane? _ Claro que entendi. Sou um gênio da física. - Brinca antes de mordiscar seu sanduíche natural. _ As vezes sua humildade me comove, gatinha. - Dylan fala em tom de brincadeira dando uma piscadela para ela que dá de ombros como se não desse a mínima para a opinião do nosso amigo. A brincadeira e o clima leve continuam até o sinal tocar novamente nos lembrando das nossas obrigações acadêmicas. Jane é a primeira a se despedir antes de seguir apressada para o seu treino com o time feminino de futebol. Já Dylan e eu caminhamos sem a menor pressa pelos corredores e nos despedimos nas escadas quando ele sobe para a sala de música e eu sigo para o vestiário masculino para me trocar para o treino com a equipe de natação. Quando chego ao ginásio toda a equipe está em torno do treinador, que dá um de seus discursos motivadores antes de nos liberar para cair na água. Primeiro vem o aquecimento e exercícios de tecnica de respiração, depois ele nos divide em duplas e marca nosso tempo no cronômetro que sempre carrega no pescoço. Minha dupla é Charle, um dos nossos titulares no estilo livre na prova dos 50 metros. Ficamos em fila aguardando nossa vez de pular na piscina. _ Prontos? - O treinador pergunta quando nos posicionamos nos blocos para a saída. Assinto enquanto arrumo os óculos e assumo a posição correta no bloco. Saltamos ao som do apito. Limpo minha mente de qualquer pensamento que não seja a minha respiração e minhas braçadas. Busco manter meu ritmo, mas acabo perdendo velocidade quando faço a volta e fico alguns centímetros atrás de Charle. Mesmo sentindo meus pulmões comessarem a reclamar por conta do esforço não paro até ultrapassa-lo no ultimo segundo e bater na borda antes dele. _ 22.5 segundos. - Avisa o treinador quando deixamos a piscina arfando. - Seu melhor tempo. - Seu melhor tempo, Fisher. Parabéns. - Apenas assinto com um movimento de cabeça enquanto tento controlar a minha respiração. - Mas por hoje é só para você. - Fala me estendendo uma toalha e apontando o banco com o polega. _ Certo, senhor. - Consigo dizer antes de me afastar dos meus companheiros de equipe que esperam a segunda rodada de treino. Mesmo a contra gosto preciso usar o inalador para conseguir me recuperar do recente esforço. Assisto ao resto do treino com atenção em todas as instruções que o treinador e seu assistente gritam em torno da piscina. Antes de encerrar o treinador reune todo o grupo novamente na borda da piscina para repassar o aviso que nesse final de semana temos a primeira prova do campeonato intercolegial de natação e passa as escalas dos titulares. E, como o esperado, fico como reserva de Charles na prova dos 50 metros livres. No vestiário, os titulares comemoram e se gabam por serem escalados. Os veteranos com um ar de superiores e os novatos com o peito estufado de orgulho. Espero o grupo sair para comemorar mais essa conquista na lanchonete que fica perto do ginásio para só então sair para me encontrar com Dylan para irmos juntos para casa. _ Treino pesado? - Pergunta quando nos encontramos no corredor. _ Mais ou menos. - Digo andando para que ele me siga. - Saiu a escala para as eliminatórias do campeonato intercolegial desse final de semana e fiquei de reserva outra vez. _ Que droga. - Fala passando o braço direito sobre meus ombros em um meio abraço enquanto tenta equilitrar a guitarra em seu ombro esquerdo. - Mas não fica triste. O treinador não sabe o peixinho que está perdendo. - Não consigo evitar sorrir da sua fala. - Podemos passar no shopping e assistir aquele filme novo de terror para te fazer esquecer. _ Eu até gostaria, mas o Andy tá lá em casa e preciso ajudar meus pais com ele até meus tios voltarem. _ Fica para a próxima, então. - Diz quando descemos as escadas da entrada e caminhamos até o pequeno estacionamento para os alunos. O seu carro é um Chevrolet Malibu 2009 prata, que ele ganhou do avô quando conseguiu a habilitação. Sendo o primeiro do trio a ter seu próprio carro e se tronando o nosso motorista em muitas ocasiões. O que significa ser o responsável as vezes. Coisa que não faz parte dos hábitos do meu amigo. O caminho até a minha casa é feito ao som de Bruno Mars com direito a karaokê e muito riso. Até mesmo esqueço por um momento o sentimento de fracasso que estava sentindo quando deixei o vestiário a pouco. Esse é um dos efeitos que Dylan causa nas pessoas que o rodeam. Com ele não existe tempo r**m.
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