Eric XIII

2746 Words
Acordei me sentindo um pouco fraco. A princípio achei que fosse consequência da ansiedade pelo parecer do juizado sobre a adoção de Olivia. Mas logo a garganta começou a raspar dando um sinal de que estou ficando resfriado. O que é uma droga para qualquer um, mas é muito pior para mim. Tentei não demonstrar fraqueza em frente aos meus pais e manter a naturalidade na escola mesmo tendo os meus amigos me perguntando como estava me sentindo a cada segundo. Mas tenho que admitir que treinar hoje foi uma péssima ideia. Além de não render muito comecei a me sentir pior enquanto esperava por mim no corredor próximo a saída da frente que ficava praticamente deserta a essas horas já que metade dos alunos já foram embora e a outra metade usava a saída de trás. O som aterrorizante dos meus pulmões ressoavam alto em meu ouvido enquanto procurava pelo meu inalador no bolso da calça. Tento usar, mas está vazio e me desespero ainda mais. Escoro na parede e tento fazer o ar entrar e encher os meus pulmões, mas o trabalho é inútil. O suor frio molha minha testa. Aos poucos perco as forças nas pernas e escorrego até está sentado no chão. _ Eric! – Ouço a voz de Mia gritando meu nome e então ela surge ao meu lado. – O que você tem? – Pergunta apavorada. _ Ajuda. – É tudo o que consigo dizer. _ Socorro! – Seu grito ecoa pelo corredor. – Alguém ajuda aqui! – Pede olhando de um lado para o outro em busca de alguém, mas ninguém aparece e as coisas começam a ficar mais difíceis. Seguro sua mão em desespero. – Fica calmo. Só respira. – Me pede o que parece ser impossível no momento. – Socorro! Pelo canto do olho vejo dois vultos correndo em nossa direção e em questão de segundos eles me erguem e me carregam até um carro. Mia vai comigo no banco de trás me pedindo para aguentar firme. O barulho em meu peito aumenta assustando a todos e faz o motorista acelerar ainda mais. Quando chegamos ao hospital me colocam em uma maca e me levam para a sala de primeiros socorros. Logo a equipe está toda sobre mim. Ele me aplicam uma injeção que faz o ar entra quase que de forma imediata em meus pulmões trazendo a sensação de alívio. Para me oferecer um conforto maior me deixam no oxigênio enquanto o soro pinga lentamente na fina mangueira ligada ao meu braço que encaro com desânimo. _ Como você está sentindo? – A voz trêmula de Mia me faz desviar a atenção do lento gotejar. _ Agora estou melhor. – Falo forçando um sorriso. – Só estou sentindo um pouco de sono, mas é por causa do remédio que me deram. _ O médico disse que você teve uma crise severa de asma. – Comenta se aproximando da maca. – Ele disse que por pouco você não... – Deixa as palavras no ar. _ Fazia tempo que não tinha uma dessas. – Comento olhando para as minhas mãos. – Avisou aos meus pais? – Pergunto me sentindo horrível. Tudo o que eu não queria era ter eles preocupados comigo. _ O diretor estava falando com eles. Acho que daqui a pouco estão todos aqui. – Afirmo acomodando a cabeça no travesseiro sentindo os olhos pesados. – Melhor te deixar dormir. – Diz fazendo menção de sair. _ Fica. – Peço segurando sua mão notando que a mesma está fria. – Suas mãos estão frias. _ É que hospitais não são os meus lugares favoritos. _ Nem os meus. – Brinco. – Mas pode ficar aqui comigo e esperar a trupe chegar. – Peço fazendo o meu melhor olhar de gatinho abandonado. _ Eu fico. – Diz puxando o banquinho ao lado da maca e sentando no mesmo. _ Se importa se eu dormir um pouco? – Pergunto já fechando os olhos. _ Vá em frente. – Ainda a ouço dizer antes de apagar. Quando meus pais e tia Chloe chegam ao hospital tem todo aquele momento confuso em que recebo carinho e broncas ao mesmo tempo. Então o médico que me atendeu vem falar com os meus pais para os tranquilizar a respeito do meu estado. Depois de se certificarem que estou bem tia Chloe vai embora levando Mia com ela. Preciso esperar que o soro termine e que o médico volte a me avaliar para só então irmos para casa. Estou com tanto sono que durmo durante todo o caminho para casa. Assim que chegamos tomo um banho para me livrar do cheiro do hospital e vestir uma roupa mais confortável. Mamãe me traz um caldo para que eu coma e então finalmente me deixa dormir. Como normalmente acontece depois de uma crise forte ganho o dia livre da escola e mamãe trabalha de casa para ficar de olho em mim. Passo toda a manhã largado no sofá da sala sendo mimado por ela. Meu pai também liga de tempos em tempos para saber se estou bem ou tive uma recaída. O almoço é algo leve que mamãe faz questão de preparar sem a minha ajuda. Como somos apenas nós dois comemos na bancada da cozinha mesmo. _ Alguma novidade sobre a adoção a Olivia? – Pergunto entre uma garfada e outra. _ Seu pai ligou para o advogado para saber se o juizado o havia contatado, mas até então não temos nada novo. – Diz com um suspiro pesaroso. _ Essa espera é horrível. – Falo remexendo a comida. _ Também não gosto nada da demora em notícias, mas procuro pensar que o resultado dela será a Olivia aqui conosco. _ Será que podemos ir visita-la hoje já que não podemos ir ontem porque precisaram ficar comigo no hospital? _ Posso tentar falar com a diretora. – Diz ao mesmo tempo que o seu celular toca sobre a bancada de mármore escuro. – Falando nela. – Diz antes de levar o aparelho ao ouvido. – Oi, Abby. – Atende com um sorriso que vai sumindo a medida que esculta o que está acontecendo do outro lado da linha me deixando apreensivo. – Aconteceu alguma coisa com Olivia? – A sua pergunta me faz ficar em alerta. – E onde vocês estão agora? – Faz uma pausa para ouvir enquanto deixa a cozinha e a acompanho apressado. – Estou a caminho. – Diz antes de desligar. _ O que aconteceu com a Olivia? Para onde a senhora está indo? – Pergunto enquanto a assisto calçar as botas de frio apressada. _ Houve um pequeno incêndio no orfanato. Algo relacionado ao aquecedor. Olivia e mais algumas crianças precisaram de atendimento médico. – Conta já pescando as chaves do carro sobre a mesinha de centro e pegando a bolsa na poltrona ao lado. _ Foi muito grave? – Pergunto me aprontando para seguir com ela. _ Abby disse que não muito, mas só vou estar tranquila quando ver que Olivia está bem. – Fala ao vestir seu pesado casaco e faço o mesmo. – O que está fazendo? _ Vou também. – Digo fechando todo o zíper da jaqueta. – Sei que vai dizer que preciso de repouso, mas juro que estou bem. Sem contar que também estou preocupado com a minha irmã. – Falo abrindo a porta. – Agora vamos logo que a Olivia deve estar bastante assustada. – Digo antes de deixar de sair e ela não tem outra escolha a não ser me seguir. Ligo para o meu pai avisando sobre o incêndio no orfanato e que Olivia foi levada para o hospital do centro enquanto ela dirige e ele fica de nos encontrar no hospital. Durante todo o caminho vamos em silêncio. Mamãe está tão tensa e aperta tanto o volante que tem os nós dos dedos brancos. Quero dizer alguma coisa para tranquilizá-la, mas não sei o que falar. O lugar está um mini caos quando chegamos. A diretora Abby está sentada em uma das poltronas da sala de espera com os cabelos úmidos e soltos e usando uma roupa que não parece em nada com as que costuma usar. Ao seu lado está a moça que costuma ajuda-la com a administração do lugar, mas está ainda tem um pouco de fuligem no rosto, roupas e cabelos castanhos. _ Como Olivia está? – É o cumprimento de mamãe quando nos aproximamos das mulheres. _ Se acalme, senhora Fisher. – Abby pede ao levantar. – Como disse a senhora por telefone. Foi apenas um grande susto e que por sorte ninguém saiu gravemente ferido. – Fala parecendo repetir o discurso pela milésima vez. – Olivia foi trazida porque inalou muita fumaça e teve uma pequena queimadura na mão. Achamos que foi tentar salvar alguns de seus pertences. _ Podemos falar com ela? – Pergunto segurando os ombros da minha mãe em forma de apoio. – Onde ela está? _ Na enfermaria pediátrica junto com as outras que também precisaram de atendimento. – Fala a moça que ainda está suja. – Mas não acho que seja uma boa ideia. Ela está bem e se recuperando. A senhora pode ficar tranquila. _ Como vou ficar tranquila se a minha filha estava num lugar que pegou fogo e sei que ela está machucada e com certeza está assustada? – Mamãe questiona com a voz um tanto alterada. _ Lina! – Papai a chama enquanto caminha apressado em sua direção. – O que está havendo? Olivia está bem? – Questiona encarando as duas mulheres ao mesmo tempo que abraça a esposa. _ Não querem nos deixar ver ela, pai. _ Por qual motivo? – Meu pai questiona diretamente a diretora. _ Entenda, senhor Fisher. Comuniquei a sua esposa do ocorrido porque vocês estão tentando adquirir a guarda da menor Olivia, mas o juizado ainda não apresentou nada concreto que dê a vocês o direito de exigir nada relacionado a menor em questão. – Pontua a diretora. _ Está enganada, senhora. – Papai fala afastando levemente mamãe. – O juizado recebeu a pouco um relatório positivo do assistente social a nosso respeito o que nos dá total liberdade de ver e estar perto de Olivia. _ Se estiver mentindo só para... _ Não preciso mentir. – Ele a corta. – Nosso advogado está agora mesmo a caminho da vara da infância para solicitar o pedido oficial de guarda provisória. – Diz de forma dura. – Onde Olivia está, querida? – Pergunta com doçura a mamãe. _ Enfermaria pediátrica. – Responde ainda atônita pela recente notícia. Ele assente e então começa a nos guiar pelos corredores ainda agitados em busca de Olivia. Quando chegamos a enfermaria nos deparamos com um pequeno aglomerado de crianças deitadas em macas separadas por uma grossa cortina, sendo monitoradas e usando máscaras de oxigênio. Algumas dormem enquanto outras conversam entre si. As mais velhas acalmar as mais novas. Olivia está encolhida em uma maca próxima a parede isolada de todos. Assim que nos nota começa a chorar. Mamãe é a primeira a apressar os passos e abraça-la com cuidado. A pequena ainda tem fuligem nos cabelos loiros, segura um pedaço de papel chamuscado na mão direita e tem a mão esquerda enfaixada. Espero que papai a abrace e só então a abraço e beijo a sua testa com carinho. _ Como você está se sentindo, coração? – Mamãe pergunta acariciando seu rostinho de feições assustadas. _ Se machucou? – Papai questiona ao ver o curativo em sua mãozinha e ela assente em um maneio de cabeça. – Dói muito? – Responde balançando mão boa em um mais ou menos. – Já vai ficar bem, pequena. – Garante beijando o topo da sua cabeça ao mesmo tempo que seu celular toca. – É o advogado. – Diz olhando para mamãe. – Vou atender lá fora para não incomodar as outras meninas. _ Vou com você. – Ela diz decidida. – Já volto, coração. – Fala acariciando o rosto de Olivia que assente. _ Podem ir tranquilos que eu vou ficar cuidando dela. – Garanto aos dois que assentem antes de saírem apressados com medo de perderem a ligação. – Foi uma bela aventura essa que você e o pessoal do orfanato viveram. – Comento puxando o banquinho para sentar ao lado da sua maca. – Por que não me conta como as coisas aconteceram. – Incentivo que fale, mas tudo o que consigo é que ela fique a me olhar. – Tudo bem. Não falamos sobre isso. Ela assente e ficamos em silêncio encarando o telão sem som a nossa frente onde passa um desenho animado qualquer na tentativa de distrair as crianças que passam por aqui. Não demora muito mamãe e papai estão de volta e pelo sorriso enorme que trazem nos lábios acabaram de recebe uma ótima notícia. _ O que o advogado disse? – Pergunto ansioso. _ Que conseguimos a guarda provisória. – Papai conta. – Que assim que o médico der alta a Olivia voltamos todos juntos para casa. – Diz olhando diretamente para Olivia que aponta a si meus e depois a cada um de nós antes de unir as mãos em uma tentativa muda de confirmar o que acaba de ouvir. – Sim, pequena. Vamos ficar todos juntos. _ Finalmente juntos. – Mamãe diz com a voz embargada antes de abraçar a pequena. Papai e eu também nos unimos ao abraço que é interrompido com a chegada do médico que vem avaliar o estado de Olivia. Depois de alguns exames ele a libera da máscara de oxigênio, mas ainda a deixa no soro e quando mamãe questiona sobre a alta ele afirma que por conta da quantidade de fumaça inalada ele prefere deixar minha irmãzinha em observação durante esta noite e poderá ser liberada amanhã se estiver bem. Volto para casa com papai depois que mamãe decidiu que ficaria com Olivia no hospital essa noite. Ansiosos e agitados demais para dormir ficamos boa parte da noite acordados maratonando a primeira temporada de Friends. E ainda assim salto da cama animado quando o despertador toca pontualmente as seis da manhã. _ Tudo bem por aqui? – Pergunto quando vejo papai perdido no quarto de Olivia encarando duas peças de roupas em suas mãos. _ Sua mãe me ligou pedindo que leve uma roupa limpa para Olivia, mas não sei o que levar. Qual acha que devo levar. – Diz erguendo as peças que ainda pendem nos cabides para que eu veja melhor. _ Acho que também não sei o que deve levar, mas sempre podemos bater na porta da tia Chloe e ela pode nos dá uma luz. _ É uma ótima ideia. – Diz animado. – Vamos logo, então. – Fala passando por mim apressado. – Daqui a pouco o médico vai ver como sua irmã está e não quero me atrasar para busca-las. _ Mas ainda nem tomamos café da manhã, pai. – Argumento pegando minha mochila quando passamos por meu quarto. _ Vou comer algo no caminho e acho que você pode comer na casa dos seus tios. – Fala enquanto tenta equilibrar as peças de roupas e sua pasta de trabalho nas mãos. – Sabemos muito bem que sou péssimo na cozinha em dias comuns. Devo ser pior ainda em dias que tenho que buscar minha filha e esposa no hospital. – Faz menção de abrir a porta, mas para com a mão na maçaneta. _ Algum problema, pai? _ Não. É que a ficha parece estar caindo agora. Sua mãe e eu temos uma filha de cinco anos. – Diz emocionado. _ E eu tenho uma irmãzinha, que deve estar ansiosa para sair daquele lugar. Hospitais não devem ser seus passeios preferidos. – Comento com um meio sorriso. _ Tem razão. – Fala estufando o peito. – Vamos logo resolver esse problema das roupas para que eu possa ir busca-las. Tomamos cuidado de deixar tudo fechado antes de irmos bater na porta dos nossos vizinhos. Quem atende é Mia, que ainda usa roupas de corrida e tem alguns fios de seus cabelos ruivos grudados na nuca e testa por conta do suor. Papai a cumprimenta, pergunta sobre tia Chloe e quando descobre que ela está na cozinha preparando o café da manhã segue ao seu encontro para pedir a sua opinião sobre o seu mais novo dilema. Enquanto eu fico no mesmo lugar. Preso a tempestade de sentimentos que são os olhos de Mia.
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