**P.V. Príncipe Lien**
A minha alegria era tanta que eu não cabia em mim. O sorriso estampado no meu rosto provava isso, e sempre que me lembrava do meu beijo com Kiara, o meu coração disparava.
Queria criar o momento perfeito para o nosso primeiro beijo, mas acabou por ser mágico. Quantas vezes imaginei-me a beijar aquela boca travessa, quantas vezes desejei segurá-la nos meus braços, como hoje, e finalmente aconteceu. Só a mera lembrança dos seus lábios nos meus é suficiente para fazer o meu coração acelerar e os pelos do meu corpo arrepiarem-se.
Caminho em direção ao alojamento do meu general, sem sono. Uma boa conversa seria bem-vinda. Vejo ao longe ele sentado num banco, a conversar com Solomon.
— Alteza — diz, levantando-se e fazendo uma reverência. — Precisa de algo?
— Não, só estou sem sono.
— Se eu estivesse no seu lugar, também estaria — diz Solomon, com um meio sorriso. Não pude evitar retribuir. Eu mesmo não parava de sorrir.
— Bem, somos três homens apaixonados e só um está satisfeito — diz Solomon.
— Três? — pergunto, até que vejo Solomon a olhar para Rolf.
— Deixa disso — diz Rolf, emburrado.
— Não tem problema em gostar dela, Rolf. Ela é linda e parece ter passado por muita coisa — digo, com sinceridade.
— Verdade. E já tem algumas pessoas querendo uma oportunidade para se aproximar dela.
— Quem? — Rolf pergunta, irritado, com a mão no cabo da espada.
— Esta vendo? Admita que está apaixonado por ela — brinca Solomon, fazendo-me rir.
— Ele te pegou nessa — digo.
— Isso foi um golpe baixo — responde Rolf, olhando para Solomon.
— Só tem que admitir e investir nela, é simples — digo, dando-lhe um tapinha no ombro.
— Não sei se devo — responde, de cabeça baixa.
— Se não fizer, outro fará. Não estava brincando quando disse que tem gente de olho nela.
— Não custa tentar, meu amigo. O máximo que ela pode dizer é não — digo, vendo-o a pensar no assunto.
— E como foi a tua noite com a Sofia? — pergunto, curioso.
— Vou ter muito trabalho com aquela espevitada — eu e Rolf rimos ao ver a sua expressão desolada.
— Pelo que ouvi, você ficou fora muito tempo. Agora, vai ter de compensá-la — comenta Rolf.
— Verdade, acho que está na hora de ser criativo — digo a eles.
— Qual é a tua ideia? — pergunta Solomon.
— Aqui perto há uma pequena cascata, com bastante relva em volta. Que tal convidá-las para um piquenique? — Vejo como ficam entusiasmados com a ideia.
— Verdade, já nem me lembrava da cascata, mas pode funcionar — diz Solomon, sorrindo.
— Fica perto do palácio, podemos ir a cavalo amanhã à tarde — acrescento.
— Eu topo. Preciso encontrar uma maneira de amansar a fera — rimos do jeito como Solomon se refere a Sofia.
— E você, Rolf? — pergunto.
— Tudo bem, também vou.
— É isso mesmo, temos de nos unir se quisermos conquistar essas belas damas — diz Solomon, sorrindo.
Conversámos durante um bom tempo. Assim, conheci melhor Solomon e descobri que ele era uma excelente pessoa e um general incrível no reino onde vivia. Percebi também que o seu amor por Sofia era forte e verdadeiro, a ponto de ele ter desistido de uma vida de riqueza por ela. Estávamos todos no mesmo barco: apaixonados e a tentar cativar as nossas donzelas. Assim nasceu a amizade entre nós.
Quando já era bem tarde, fomos dormir. Voltei para o meu quarto a pensar no sabor da minha princesa, que ainda sentia nos meus lábios. Ela confiara em mim o seu primeiro beijo, e eu garantiria que seria o primeiro e o último homem a beijá-la nesta vida.
Com a perspetiva de uma tarde agradável com Kiara, adormeci profundamente.
No dia seguinte, acordei renovado. Desci, tomei o pequeno-almoço e fui ao encontro do rei na biblioteca. Bati à porta e esperei que me convidasse a entrar.
— Entre, Lien.
— Bom dia, majestade — disse, fazendo uma reverência.
— Sente-se. Já tomou o café da manhã?
— Sim, majestade.
— Ótimo. Chegou uma carta do seu pai — disse, passando-me um envelope.
— Obrigado — respondi, pegando na carta. Abri-a e li com cuidado. O meu pai perguntava quando voltaria e se estava tudo bem. Como sempre, ele era muito gentil.
— Ele está perguntando quando vou voltar.
— E já decidiu?
— Se não houver problema, gostaria de ficar mais um pouco — disse, receoso da resposta do rei.
— Pelo que vejo, a Kiara tem reagido bem a você — respondeu, com um sorriso.
— Sim, estamos nos dando bem. Ela é incrível.
— Verdade, a Kiara é um espírito livre, sempre envolvida em algo.
— Acho que estamos quase a chegar a uma decisão sobre o casamento — disse, e vi o rei olhar-me surpreendido, antes de um sorriso iluminar o seu rosto.
— Isso é uma notícia maravilhosa. Tenho o teu pai em grande estima, seria benéfico unirmos as nossas casas.
— Sim, o meu pai já me contou algumas histórias de quando eram mais jovens.
— Melhor notícia que me podias dar, rapaz. Com a união dos nossos reinos, nada mais será capaz de nos ameaçar. E o mais importante é o sentimento que tenho a certeza que vocês nutrem um pelo outro.
— Eu realmente amo a sua filha, majestade. E o senhor sabe que, se ela não tivesse sentimentos por mim, já teria dado um jeito de se livrar de mim.
O rei irrompeu numa gargalhada com as minhas palavras.
— Isso é verdade, ninguém conhece a minha filha melhor do que eu.
Conversámos mais um pouco, trocámos conselhos e depois fui para o campo de treino. Quem sabe, hoje tivesse sorte e encontrasse aquele soldado da última vez.
Quando cheguei ao campo de treino, Solomon e Rolf já treinavam com os soldados. Procurei entre eles aquele soldado que me intrigava, mas ele não estava no grupo que estavam a treinar. Ainda descobriria quem ele era, era só uma questão de tempo. Vi o general Rolf a aproximar-se.
— Bom dia, alteza — disse, fazendo uma reverência. — Perdoe-me por não o ter esperado, mas pensei que gostaria de descansar mais um pouco.
— Não tem problema, Rolf. Tive uma audiência com o rei, de qualquer forma, não poderia estar aqui tão cedo.
— Fico feliz que tenha corrido tudo bem.
— O meu pai enviou uma mensagem, quer saber quando vou voltar.
— Vossa alteza já tem uma data em mente?
— Assim que resolver o assunto do meu casamento com a princesa, retornarei. Apesar de tudo estar calmo, não é bom ficar afastado tanto tempo.
— Concordo, alteza. Há sempre conflitos entre os reinos menores, será bom tomarmos precauções.
— Está decidido. Assim que falar com ela, retornaremos.