Após o treino, vamos até a cozinha do acampamento para falar com as meninas. Espero que dê tudo certo hoje. Quando chegamos, Sofia e Elisa estão numa conversa agradável.
— Bom dia.
— Bom dia, alteza — dizem elas, fazendo uma reverência.
— Bom dia, meninas — diz Solomon, entrando sorridente. Ele pisca para Sofia, e vejo-a corar.
— Bom dia.
— Bom dia, senhor — responde Elisa.
— Onde está Kiara?
— A princesa está tendo aula com o curandeiro, alteza. — A resposta de Sofia surpreende-me; eu não sabia que Kiara fazia aulas com o curandeiro.
— Bem, estamos aqui para convidá-las para um piquenique mais tarde. — Vejo os seus rostos iluminarem-se com o convite.
— Iremos com prazer, alteza — responde Sofia.
— Avise a Kiara para mim, Sofia — peço-lhe.
— Claro, alteza.
— Passaremos aqui à tarde para levá-las.
— Vamos ficar à espera — vejo a animação nos olhos delas.
Despeço-me e saio da cozinha, seguindo para o campo, onde o treino continua. Hoje treinamos muitos grupos de guerreiros, e para minha surpresa, um grupo de mulheres da vila que desejavam aperfeiçoar as suas habilidades. Fiquei impressionado com elas; algumas tinham habilidades naturais para lutar, outras destacavam-se mais com armas. Faço uma nota mental de conversar com o rei a respeito delas, tanto talento não pode ser desperdiçado. Assim, a tarde chegou. Eu estava cansado, mas muito animado também, hoje seria uma tarde agradável na companhia delas.
— Alteza, devo pedir aos soldados para nos acompanhar? — pergunta Rolf, aproximando-se de mim.
— Acredito que não vai ser necessário. A cachoeira fica a menos de dez minutos do castelo, e o reino tem-se mostrado muito pacífico. — Aqui era diferente de outros lugares por onde já passei; a realeza andava com mais liberdade, sem as ameaças constantes que vi em outros lugares.
— Como desejar, mas vou à frente fazer uma vistoria primeiro. Apesar de ser pacífico, não devemos descuidar da sua segurança.
— Se isso te deixa mais tranquilo, tudo bem.
Rolf retira-se, partindo com alguns soldados para vistoriar o local. Eu monto no meu cavalo e vou até o castelo buscar as cestas que pedi para Nana preparar para nós. Encontro-a a cantarolar na cozinha do castelo.
— Oi, Nana — vejo-a assustar-se com a minha presença.
— Meu Deus, menino! Quase mata esta pobre velha do coração! — diz, com a mão no peito.
— Desculpe, não queria assustá-la.
— Não fale assim com o príncipe, mulher, tá querendo perder a cabeça — diz Berto, entrando na cozinha com alguns legumes.
— Não se preocupe, Berto, gosto dessa forma espontânea da Nana. E se arrancarem a cabeça dela, quem vai fazer os pratos que eu adoro? — vejo um sorriso formar-se no rosto de Nana.
— Esse menino bajulador! — rio com a sua fala.
— Aqui estão as coisas que pediu, alteza — diz Berto, entregando-me duas cestas.
— Obrigado.
— Não precisa agradecer. Aproveite o passeio — diz Nana, fazendo sinal para eu ir embora.
— Com toda a certeza — digo, saindo.
Quando volto aos estábulos, Rolf e Solomon já me aguardam lá.
— Pedi que Mário fosse vistoriar a área. Ele também vai ficar por lá com alguns soldados, mas de forma discreta, sem chamar atenção.
— Está bem, aqui — digo, entregando uma das cestas a Solomon. — Leva esta.
Amarramos as cestas nas garupas dos cavalos e partimos para o campo de treino para buscar as meninas. Elas esperavam-nos na entrada, mas Kiara não estava com elas.
— E a Kiara?
— Ela disse-me que precisava fazer algo e que nos encontraria lá, alteza — diz Sofia.
— Tudo bem.
— Vem, Sofia — diz Solomon, ajudando-a a subir no seu cavalo.
Rolf trouxe um cavalo para Elisa, pois não queria assustá-la forçando-a a dividir a sela com ele. Ele ajuda-a a montar, e seguimos rumo à cachoeira.
Deixo que eles sigam à frente para que possam conversar com mais privacidade. Vou distraído no caminho, pensando no que Kiara estaria a aprontar desta vez. Balanço a cabeça, sorrindo. Aquela mulher era um mistério para mim.
Os outros fazem uma curva para chegar à cachoeira, então algo começa a incomodar-me. Sinto os pelos da minha nuca arrepiarem-se. Paro e tento observar algum movimento na floresta. Parece estar tranquilo, mas a sensação não desaparece. Mais à frente, vejo três homens saírem da floresta e dispararem flechas na minha direção. Fiquei surpreso, perplexo, na verdade, com a situação. Preparo-me para desviar, mas antes de fazer qualquer movimento, vejo alguém saltar à minha frente, bloqueando duas flechas. A terceira crava-se no seu ombro. Vejo o soldado quebrar a flecha no ombro e correr em direção aos bandidos. Desço do cavalo, pego a minha espada e corro para ajudá-lo. Ele mata um rapidamente e fere o segundo, deixando-o desacordado. Avanço para o terceiro homem, que se lança na minha direção com golpes rápidos. Cravo a minha espada no seu peito, e ele cai no chão. Quando me viro para encarar o soldado, fico surpreso ao ver que era o mesmo do desafio no campo de treino. Ele podia ser pequeno, mas com certeza era muito habilidoso. Não entendia bem por que, mas sempre que olhava nos seus olhos, ele parecia-me muito familiar, mas não conseguia identificar de onde.
— Cuidado — diz ele, empurrando-me para o lado enquanto um bandido, que não tínhamos visto, vem na minha direção. Com movimentos rápidos, vejo a lâmina da sua espada cortar a garganta do bandido, matando-o.
Ouço o barulho de cavalos e sei que são Mário e os outros soldados. O meu salvador também percebe, pois, tão rápido quanto chegou, vejo-o correr em direção à floresta, montar num cavalo e desaparecer. Foi tão rápido que não tive tempo de agradecê-lo.
— Alteza, o senhor está bem? — pergunta Mário, desmontando do cavalo e correndo na minha direção.
— Sim, estou bem.
— Vimos rastros de cavalo e resolvemos investigar. Depois de certa distância, avistamos os animais presos. Dividimo-nos e seguimos os rastros a pé, por isso demoramos. Lamento ter chegado tarde.
— Não se preocupe, estou bem.
— Já mandei chamar o general Rolf. Ele deve estar a chegar.
— Certo. Um desses bandidos ainda está vivo, certifique-se de que ele seja interrogado.
— Farei isso, alteza.
Aquilo não fazia sentido. Andei por metade do reino e nada de incomum aconteceu. Agora que estou próximo ao palácio, há um ataque. Algo não está certo, e vou descobrir o que é.