P. V. Príncipe Lien
— Como exatamente vocês encontraram a Elisa e o Alder? — pergunta Dylan.
— Fomos resolver um problema com roubos, e eram eles. Pelo que disseram naquele dia, estavam fugindo do reino do rei Sauron. Se me lembro bem, era devido às guerras.
— O rei Sauron morreu há alguns meses — diz Rolf, surpreendendo-me. — Foi assassinado, pelo que parece.
— Demorou. Ele era terrível. Era certo que acabaria assim — comenta Solomon.
— Então o filho dele assumiu? — pergunto.
— Sim, o i****a do príncipe Théo — responde Dylan.
— Ele foi um dos pretendentes de Kiara? — pergunto ao rei.
— Sim. Kiara nunca foi com a cara dele. Ela o jogou da escada — diz o rei, meio sem graça.
— Então foi ele que tentou agarrá-la à força?
— Sim, príncipe Lien. Depois disso, eu o bani do reino.
— Ele poderia ser o nosso homem — diz Dylan.
— Não vejo como. Ele não tem ligação com o príncipe Lien — argumenta Rolf.
— Verdade, estamos em um beco sem saída — diz Dylan, jogando-se em uma poltrona.
— Temos que conversar com a Elisa depois. Às vezes, ela sabe de alguma coisa — sugere Solomon.
— Duvido. Ela esteve o tempo todo com a Kiara. Não acho que saiba de algo.
— A única coisa de que tenho certeza é que tem alguém infiltrado entre nós — diz Rolf. — Esses ataques sempre acontecem em períodos específicos e em áreas difíceis de enviar ajuda. Alguém deve estar passando informações.
— Também acredito nisso — diz o rei, sentando-se.
— Vamos criar um sistema apenas entre nós que estamos aqui. Sei que todos são de confiança — sugiro.
— Concordo. Não podemos conversar nada fora de um lugar seguro. Não sabemos quem é confiável — diz Solomon.
O desânimo tomava conta de todos na biblioteca. Quebramos a cabeça por horas e não chegamos a lugar nenhum. O inimigo estava em vantagem, e nós estávamos no escuro. A única pista que tínhamos era que havia alguém passando informações — nada mais.
Os dias que se seguiram foram cheios de tristeza e choro. Elisa estava arrasada. No velório do irmão, ela acabou desmaiando, e Kiara e Sofia tiveram que ampará-la. Estávamos vivendo em constante apreensão, sem saber o que esperar no dia seguinte.
Após a morte de Alder, não tivemos notícias do inimigo, e isso me deixava apreensivo. Preocupava-me a cada dia com o próximo passo.
— Você está bem distante, né? — diz Kiara, sentando-se ao meu lado no jardim.
— Preocupado, para ser mais exato — digo, pegando em sua mão. — Às vezes, penso que a minha presença pode te colocar em perigo.
— Não vai. Todas as vezes que teve um ataque, eu nunca estava presente.
— Sim, mas as coisas podem mudar.
— Você sabe que eu não sou indefesa. Posso chutar alguns traseiros — diz ela, rindo.
— Não duvido. Tenho que me preocupar no futuro?
— Talvez. Vai depender do que você aprontar.
— Não se preocupe, serei um santo — digo, rindo. — A Elisa está melhor?
— Está conformada. Já tem uns dias que não a vejo chorar.
— Com o tempo, fica mais fácil.
— Também acho.
— Fico tão impotente nesta situação. Me sinto péssimo por tudo isso.
— Não é sua culpa. É culpa da pessoa que está fazendo isso. Você não tem que se sentir culpado — diz ela, me olhando. Então vejo um brilho surgir nos seus olhos. — O que acha de fugirmos um pouquinho?
— Fugir? — pergunto, surpreso. — Seria impossível.
— Não é. Conheço um lugar onde podemos passar o resto do dia e voltar amanhã — diz ela, sorrindo. Eu a olho, surpreso.
— Onde?
— A cabana de caça do meu pai. Fica longe daqui, mas conheço um caminho onde ninguém nos verá.
— Seu pai não vai ficar bravo?
— Não. Ele me conhece. Você topa?
— Com toda certeza.
— Pegue algumas roupas e me encontre na biblioteca daqui à meia hora — concordo, e ela sai correndo em direção ao castelo.
Arrumo uma bolsa pequena e desço com cuidado as escadas, mas encontro apenas os guardas que faziam a segurança. Chego à biblioteca e Kiara já me esperava. Ela carregava uma bolsa pequena e uma cesta com algumas provisões.
— E agora? — pergunto, curioso.
Ela vai até a estante de livros e puxa um, que imediatamente faz a estante se mover, revelando uma passagem secreta.
— Gostou da mágica? — pergunta ela.
— Muito.
— Vamos, antes que alguém chegue — diz ela, entrando na passagem. Sigo-a, e ela fecha a entrada novamente. O túnel estava muito escuro, então seguimos apoiados na parede para não nos machucarmos.
Após uma hora no escuro, o túnel começou a clarear um pouco, e, quando saímos, estávamos em uma pequena caverna na floresta. Sigo Kiara pela trilha; ela parecia bem familiarizada com o caminho.
— Você vem muito aqui? — pergunto a certa altura.
— Sei o que você está pensando — diz ela, voltando-se para mim. — Se já escapei com outras pessoas por aqui — completa, sorrindo.
— E você já fez isso?
— Não, seu bobo. Papai me ensinou esse caminho quando eu era criança. Poucas pessoas o conhecem.
— É interessante.
— Essa passagem foi feita pelo meu tataravô. Naquela época, eles viviam em guerra, então foi construída como uma rota de escape. Nesta área, não vamos encontrar ninguém. É considerado território de caça do rei, então ninguém mais vem aqui.
— Então é por isso que você não está preocupada com o seu pai? — ela assentiu, rindo.
— Assim que disserem que sumi com você, ele já vai saber onde estamos.
— Você não se preocupa que o seu pai fique bravo por estar sozinha comigo?
— Sei que somos muito conservadores, mas papai sempre foi mais tranquilo comigo. Ele viria correndo atrás de mim se não confiasse em você.
— Faz sentido.
Seguimos viagem em um ritmo leve, conversando e brincando pelo caminho. Não percebi o quanto eu precisava disso até experimentar. No castelo, o clima não era dos melhores, e ter esse tempo com Kiara era tão bom.
Já era de tardezinha quando chegamos a um chalé à beira de um lago. Um lugar encantador, com relva baixinha cobrindo tudo e pequenas flores nativas por toda a parte. O chalé tinha dois quartos, uma sala e uma pequena cozinha. Deixamos as nossas coisas e saímos para explorar o lugar.