Me assustei com a entrada daquele homem; não esperava que Asher tivesse aceitado um novo aluno. Os seus olhos, como duas esmeraldas, me olhavam fixamente, como se penetrassem a minha alma e enxergassem através de mim. Ele era alto, de pele morena e cabelos escuros.
— Me desculpe, não sabia que você estava com visita — disse ele, desviando o olhar.
— Me trocou tão rápido assim, foi? — não pude evitar. Confesso que fiquei com ciúmes.
— Vai me dizer que a minha querida aluna está com ciúmes? — desvio o olhar do dele, n**o até a morte, mas não admitiria estar com ciúmes.
— Não.
— Como se eu não te conhecesse bem o suficiente para saber a verdade, não é mesmo?
— Chato!
— Deixe-me apresentá-los! Kiara, este é Roger. Ele é um parente da minha falecida esposa. Um tempo atrás, fui a outro vilarejo e o encontrei lá. Desde então, ele tem aprendido comigo.
— Muito prazer, Roger. Eu sou Kiara — disse, estendendo a mão. Ele a pegou e me cumprimentou.
— O prazer é meu. O mestre sempre fala muito bem de você.
— Ai desse velho ranheta se não falar bem de mim!
— Pelo que vejo, a sua língua continua afiada, hein, minha aprendiz? — ri do que ele disse.
— As coisas boas não podem morrer — tomo um gole do meu chá e o olho séria. — Estou com problemas, mestre. Vim hoje porque preciso da sua ajuda.
— Vou deixá-los conversar com mais privacidade. Foi um prazer, Kiara — disse Roger antes de sair. Quando ele se retirou, virei-me novamente para Asher.
— Eu sabia que tinha algo errado com você. Já faz tempo que venho sentindo isso.
— Eu também sinto, mestre. Algo muito grande está para acontecer, e não é algo bom.
— Eu sei. Infelizmente, não poderemos evitar o curso das coisas que acontecerão. Você lembra daquela árvore que plantamos e regamos com o seu sangue na floresta?
Eu me lembrava bem do que ele dizia. Quando ainda era sua aprendiz, para me conectar à floresta e ao espírito dela, como o mestre explicava, plantamos uma árvore nativa. Durante um ano, ela foi regada com algumas gotas do meu sangue para estabelecer essa conexão.
— Sim, me lembro muito bem. Mas o que tem ela?
— Faz um tempo que venho sentindo a energia daquela árvore oscilar. Ultimamente, as folhas estão secando e caindo, enquanto as outras ao redor permanecem verdes. Isso me diz que algo muito r**m está para acontecer e não vai demorar muito — olhando-me nos olhos, ele segurou as minhas mãos com firmeza. — Isso está ligado à sua vida, Kiara.
— O que exatamente você quer dizer?
— Por mais doloroso que seja para mim admitir isso... — ele parou, olhou-me nos olhos e vi tristeza e desespero no seu olhar. — Se aquela árvore morrer, Kiara, você morre. Ela está ligada à sua vida, à sua energia vital. Pelo que tudo indica, você enfrentará uma situação muito difícil, algo que colocará a sua vida em risco.
— Eu sei do que você está falando. Até sei quando essa árvore começou a secar — ele me olhou intrigado. Então, abaixei a manga da camisa e mostrei o meu ombro. Ele se aproximou e passou a mão pelo local.
— Quando exatamente isso aconteceu?
— Há alguns meses. O príncipe Lien sofreu um atentado, e eu o salvei. Infelizmente, fui atingida por uma flecha.
Lentamente, ergui a camisa e mostrei a cicatriz na minha barriga. Pavor encheu os seus olhos enquanto examinava o local. Uma lágrima solitária desceu por seu rosto. Ele parecia paralisado diante de mim.
— Quando foi isso? — perguntou com voz rouca.
— Faz quase dois meses. Estava visitando um amigo. No caminho, vi que o príncipe Lien sofria uma emboscada, então fui ajudá-lo. Infelizmente, acabei me ferindo no local.
— Deixe-me te perguntar: quem é esse príncipe Lien? O que ele é para você?
— O príncipe Lien é meu noivo. Daqui a um mês e pouco, nos casaremos. Eu o amo muito — vi um suspiro escapar dos seus lábios. Sabia que as notícias não seriam boas.
— Agora vejo com clareza o que está acontecendo. Kiara, você está roubando o destino dele.
A minha expressão demonstrava que não entendi o que ele quis dizer.
— Não entendo. Como assim, "roubando o destino dele"?
— Veja bem, Kiara. Como estou sempre conectado à natureza, frequentemente vou até a sua árvore. Lá, limpo em volta e faço oferendas ao espírito da floresta. Sempre que fazia isso, o destino que via para você era o mesmo: uma vida longa, governando. Isso nunca mudou até uns meses atrás, quando acredito que vocês se conheceram. A partir de agora, os seus destinos estão interligados. Todas as vezes que você o salvou, roubou o destino dele. Algo que era para acontecer com ele acabou acontecendo com você.
— Isso não pode ser possível. Tem que ser outra coisa — eu estava frustrada e aterrorizada. Jamais poderia imaginar que Lien deveria ter morrido nos atentados anteriores. Mesmo que isso me ferisse, não permitiria que ele deixasse este mundo.
— É perfeitamente possível, Kiara. Se você quiser, posso provar isso.
— Então prove! Me recuso a acreditar que o destino de Lien seja morrer neste mundo.
— Tudo bem. Ao entardecer, faremos a cerimônia da fogueira. Ela revelará o destino de vocês dois.
Parecia que o meu mundo havia acabado. Só de pensar que Lien poderia morrer, o meu coração se enchia de desespero. Não havia outra palavra que expressasse o que eu sentia. Saí da cabana e fui até o jardim. Sentei-me em um banco e esperei que o entardecer trouxesse as respostas que eu desesperadamente precisava.
A angústia tomava conta do meu peito. Eu estava em torpor, tentando impedir que a mera possibilidade da morte dele me afetasse. Mas, infelizmente, me afetava profundamente. Não saberia dizer o que faria neste mundo se o perdesse.