A partir daquele momento, aquele homem começou a me ensinar tudo sobre venenos, especificamente todas as plantas das quais eu poderia extrair veneno, refiná-lo e as diversas formas de utilizá-lo. Quando completou exatamente um ano que eu estudava plantas venenosas com ele, numa tarde, ele finalmente me disse o seu nome.
— A partir de hoje, vou te dizer meu nome — aquilo me pegou de surpresa. Eu já estava acostumada a chamá-lo de mestre, até pensei que nunca descobriria o seu nome. — Mas ninguém mais pode saber.
— Prometo não contar a ninguém, mestre.
— Sei que você está curiosa para descobrir mais sobre mim e, por ter sido tão paciente, você merece saber.
— Obrigada pela confiança.
— Meu nome é Asher. Moro aqui há muitos anos e faço parte de um povo que cuida da floresta — eu o olhei intrigada, mas isso explicava o fato de ele morar tão no interior da floresta. — Não sou um bruxo ou mago, apenas sei muito sobre a natureza. Quando você me encontrou, eu havia perdido a minha companheira, a mulher que me acompanhou por muitos anos. Assim que ela se foi, eu não tinha mais razão para viver. Não queria estar em um mundo sem ela, então parei de me cuidar, de me alimentar. Eu estava mergulhado na minha dor e no meu luto — os seus olhos demonstravam uma tristeza profunda, algo que parecia marcado na sua alma. — Então você apareceu e, com esse seu jeito teimoso, me tirou de onde eu estava. Quando resolvi te ensinar, ganhei um novo propósito para minha vida. Você é muito especial, Kiara, e ainda vai realizar grandes coisas. Quero estar aqui para ver isso acontecer.
— Obrigada, mestre. O senhor tem me ensinado coisas valiosas. Nunca poderei retribuir esse favor.
— Eu te devo a minha vida, pequena. Hoje encerramos o seu treinamento. Venha apenas uma vez por mês — fiquei surpresa com o que ele disse. Havia tanto que eu ainda não sabia, tantas coisas que queria aprender com ele. — Você adquiriu muito conhecimento. A partir de agora, uma visita mensal será suficiente.
— Mas você vai ficar sozinho? — a minha voz não escondia a tristeza por não vê-lo com mais frequência. Preocupava-me que ele piorasse novamente.
— Eu ficarei bem.
— E se algo acontecer? Ou você ficar doente?
— Ficarei bem. Também sou um curandeiro, lembra? — fui até ele e lhe dei um abraço. Ele havia mudado muito com o tempo. Continuava esguio, mas agora estava saudável.
— Então se cuide, e eu sempre vou deixar algo para você na floresta.
— Você que tem que se cuidar — ele acariciava os meus cabelos enquanto falava. O carinho que sentia por ele era como o de uma neta para com o seu avô.
— Sabe onde me encontrar se precisar de ajuda.
— E você também. Sempre poderá vir até mim se precisar.
Era doloroso me despedir dele. A nossa convivência havia se tornado um laço de amizade mútua, mas eu sabia que ele ficaria bem e, uma vez por mês, eu viria vê-lo e aprender mais um pouco.
Fim do flashback
Ao chegar à parte mais sombria da floresta, pedi aos guardas que me esperassem naquele local. Eles hesitaram um pouco, mas garanti que era seguro. Então, ficaram aguardando. Cutuquei os flancos de Relâmpago, e ele disparou floresta adentro.
Não demorou muito para que eu avistasse a pequena cabana de Asher. Estava quase igual à última vez que a vi, com uma pequena diferença: agora havia vida ao redor. A cabana estava cercada por pequenas flores silvestres, e isso era lindo de se ver. Dava-me esperança de que, apesar de tudo o que havia passado, Asher continuava vivendo a sua vida.
Eu o encontrei no pequeno jardim que agora existia. Ele estava regando algumas flores. Desmontei e fui na sua direção.
— Eu sabia que você viria — ele não parecia ter mudado nada. A sua aparência era a mesma de alguns anos atrás, quando nos vimos pela última vez.
— Olá, velho amigo — aproximei-me e o abracei por trás. — Senti a sua falta.
— Pelo que vejo, você cresceu, mas continua a mesma criança de sempre — ele se virou e me deu um beijo na testa. — Venha, querida. Vamos tomar um chá e você me conta o que tem acontecido ultimamente. Sei que você não viria aqui sem um bom motivo.
Ele tinha razão. Asher me conhecia muito bem e sabia que eu só o procuraria em uma emergência.
— Isso é culpa sua! Você não me deixa mais vir aqui te ver — ele abriu um largo sorriso ao ver a minha tentativa de emburrar.
— Infelizmente, precisa ser assim. Se você continuasse vindo, logo o rei e os outros saberiam deste lugar, e eu não quero que isso aconteça.
— Às vezes, sair para ver o mundo é bom, sabia?
— Gosto da minha vida tranquila, Kiara. A agitação fica para vocês, os mais jovens.
— Mas você está realmente bem? Infelizmente, hoje vim correndo e não pude trazer nada para você. Ainda tem comida? E aquele dinheiro que eu te dei? Eu trouxe mais um pouco! — peguei a bolsinha de moedas que sempre carregava e a coloquei sobre a sua mesa, enquanto me sentava.
— Não sei se você lembra, mas graças a você, agora sou um homem rico. Já pensou no quanto de dinheiro você trouxe para mim ao longo dos anos? — realmente, sempre que o visitava, levava algumas moedas. Preocupava-me que ele passasse necessidade.
— Você é como um avô para mim, Asher. Jamais deixaria você passar necessidade — ele me olhou com carinho enquanto servia uma xícara de chá.
— Não preciso de mais, Kiara. Tenho o suficiente para o resto da minha vida. Lembre-se de que moro numa floresta. A maior parte do que preciso para sobreviver encontro aqui. Então, dinheiro, muitas vezes, é inútil para mim.
Levantei-me, peguei a bolsinha de moedas e a coloquei na sua prateleira.
— Prefiro prevenir. Afinal de contas, você fica aqui muito sozinho. Com esse dinheiro, sei que pode ajudar alguém também.
— Adianta discutir com você? — ele perguntou, divertido.
— Provavelmente, não!
Nesse momento, a nossa conversa foi interrompida pela chegada de um homem.
— Mestre.