**P.V. Princesa Kiara**
A minha conversa com Solomon foi ótima, pude entender tudo o que ele passou e como ele valorizava a família.
O meu amigo havia realmente crescido e amadurecido também. Já não era mais o garoto que fazia travessuras comigo; ele havia se tornado um homem de verdade, responsável e ciente dos seus deveres.
Ficamos conversando por horas no jardim. Era fácil conversar com ele, nem vi o tempo passar.
— Você mudou muito, Sol — digo sorrindo, observando-o.
— Mas meu amor por você continua o mesmo — responde-me sorrindo.
— Não devia fazer juras de amor à minha futura esposa — levo um susto e dou um pulo do banco. Lien estava à minha frente com os braços cruzados e o rosto sério.
— Você me entendeu m*l, alteza — diz Solomon, levantando-se.
— Não foi a impressão que tive — responde Lien, ainda com o rosto fechado.
— Não me lembro de ter concordado em me casar com você — digo, olhando-o séria. Vejo-o levantar uma sobrancelha, como se duvidasse do que eu disse.
— Por favor, não briguem por minha causa — diz Solomon, passando a mão pelos cabelos. — Alteza, a Kiara para mim é como família. Não tenho nenhum interesse romântico nela, você me entendeu m*l.
Eu olho para Lien emburrada. Vejo que ele entende o que Solomon disse, mas ainda posso perceber que não está confortável.
— Chega! — digo. — Olha, Lien, Solomon é como um irmão para mim. Sempre fomos muito próximos, crescemos praticamente juntos, então é claro que ele me ama, assim como eu o amo, mas como família apenas — era tão stressante ficar me explicando.
— Me desculpe — diz Lien por fim. — Não quis ser rude, eu só estava...
— Com ciúmes — completa Solomon, sorrindo. — E quem não teria? Ela é linda, mas eu já tenho alguém no meu coração, alteza.
Lien o observa, surpreso com o que ele disse.
— Seria muito rude se eu te perguntasse quem é? — vejo Solomon corar com a pergunta de Lien.
— O nome dela é Sofia, crescemos juntos — diz ele, ainda sem nos encarar, envergonhado.
— Você sabe que ela te esperou todo esse tempo, né? — vejo ele me encarar e o seu rosto se iluminar. — Ela nunca saiu com ninguém, Sol. Sempre me dizia que você voltaria. Não é preciso ser um gênio para saber que ela estava te esperando — vejo os seus olhos brilharem com as minhas palavras.
— Sério?
— Sim, então não a faça esperar mais. Converse com ela hoje.
— Pode ter certeza disso — diz ele, sorrindo, me dá um abraço e um beijo na testa e sai correndo.
— Aonde você vai? — pergunto confusa.
— Me arrumar para encontrar o meu amor — grita ao longe, sorrindo.
— Esse maluco — resmungo. Então vejo Lien olhando-me, sorrindo.
— O que foi?
— Isso foi muito gentil da sua parte.
Dou de ombros.
— Vai ser bom ver os meus melhores amigos juntos, finalmente — viro-me para ele e finjo estar segurando um arco e flecha. — Pode me chamar de cupido.
Ele dá risada, vem na minha direção e me envolve nos seus braços.
— E será que esse cupido já foi flechado? — diz, sussurrando no meu ouvido. Sinto um arrepio subir por meu corpo, causando um frio na minha barriga.
— Você tem que parar de fazer isso — digo, encarando-o. Ele parece um pouco confuso. — Toda vez que você faz isso, eu tenho sérios problemas para raciocinar.
Ele sorri.
— Então, realmente esse cupido já foi flechado.
— Talvez — digo, apoiando a minha cabeça no seu ombro.
— Sei que convivemos há pouco tempo, mas parece que te conheço há uma eternidade — diz ele, abraçando-me mais apertado.
— Às vezes tenho a mesma sensação — digo.
Era tão bom estar nos seus braços. Era a primeira vez que ele me abraçava, mas parecia tão natural. Por mais que eu quisesse negar, estava apaixonada por Lien; ele havia conquistado o seu espaço no meu coração. Separámo-nos e seguimos os nossos caminhos. Encontro Elisa me esperando na porta do meu quarto.
— Alteza — ela faz uma breve reverência quando me aproximo.
— Vem, Elisa, entre — digo, abrindo a porta do meu quarto. Vou direto para meu armário e começo a tirar vestidos que não uso mais. A maioria está nova; mamãe era obcecada em mandar fazer roupas para mim.
— Estes que estão na cama são seus — ela me olha em choque. — Agora vamos ver algumas roupas íntimas — digo, indo até uma gaveta de peças novas. Retiro uma grande quantidade e coloco em cima da cama.
— Me deixe ver os seus pés, acho que devo ter algo que fique confortável em você — a faço se sentar na cama e vejo que sua sapatilha já está bem velha e com buracos. — Você realmente precisa de uma nova.
— Não tem necessidade, alteza. Você já me deu muitas coisas — olho para ela com uma sobrancelha arqueada.
— Eu não uso essas coisas, então não é prejuízo para mim. Agora deixe-me ver — viro-me e começo a procurar alguns pares de sapatos para ela. Separo três sapatilhas e uma bota. — Aqui.
— Obrigada.
— Não me agradeça. Vou pedir para a costureira vir tirar as suas medidas para fazer algumas roupas do seu tamanho. Afinal, eu tenho mais corpo que você.
— Não precisa, alteza.
— Não se preocupe, aceite como um presente de boas-vindas. Vou te dar também um vidro de perfume que acho que vai gostar — pego um vidro na minha penteadeira e entrego-lhe.
— Espero poder retribuir a sua gentileza — diz, sem graça.
— Não se preocupe com isso, apenas aceite — digo, sorrindo para ela. — Depois do jantar, você vai dormir comigo e com Sofia, uma noite de garotas — vejo surpresa no seu rosto.
— Me desculpe, mas acho que não seria adequado. Sou apenas uma serva.
— Elisa, você é minha dama de companhia, e também desejo que seja no futuro uma amiga. Não quero te pressionar, mas espero que você venha. Vai ser divertido.
— Eu nunca tive uma amiga — diz ela, sem graça.
— É sua oportunidade de fazer amizades.
Conversamos mais um pouco e chamo algumas pessoas para ajudar a levar as roupas para o seu quarto. Depois, tomo um banho e começo a me arrumar para o jantar. Hoje estaremos todos juntos novamente, como nos velhos tempos.