**P. V. Princesa Kiara**
O meu rosto iluminou-se. Pude ver um sorriso se formar lentamente antes de sair correndo e me atirar nos braços daquele que tanto me fez falta. Eu não acreditava que ele estava ali, tanto tempo desejando o seu retorno, esperando sentir esse abraço, e agora ele estava aqui, diante de mim. Eu o amava profundamente e estava tendo a oportunidade de estar nos seus braços de novo. Eu estava em êxtase enquanto ele me girava nos seus braços. Quando os meus pés tocaram o chão novamente, segurei o seu rosto, ainda duvidando se era ele mesmo.
— Solomon — lágrimas cobriam o meu rosto enquanto eu o observava. Ele abriu um lindo sorriso para mim, exatamente como eu me lembrava.
— Olá, minha noite estrelada — ele acariciou o meu rosto com carinho. — Senti a sua falta.
— Como você faz uma coisa dessas comigo, Sol? Nem se despediu de mim e da Sofia! Eu devia chutar o seu traseiro por isso — ele gargalhou descaradamente enquanto eu fechava a cara.
— Essa é a minha garota. Não sabe como senti falta desse seu espírito agressivo — disse ele, bagunçando meu cabelo.
— Para com isso, não esperei tanto tempo para você voltar a fazer isso — me afastei dele, mas ele envolveu os seus braços ao meu redor, me prendendo.
— Eu não perderia essa oportunidade. Já faz anos que não a irrito — ele continuou me segurando. Então, fiz um movimento para tentar escapar e acabei derrubando nós dois no chão. Olhamos um para o outro e desatamos a rir.
— Olhem para vocês dois — disse o meu pai ao longe. — Nem parece que ficaram tanto tempo longe um do outro.
— Verdade — disse a minha mãe. — Continuam duas crianças briguentas.
Levantamos e, então, percebi que todos no salão estavam olhando para nós, espantados. Quando encontrei os olhos de Lien, vi que ele estava rígido, seu corpo tenso, e os seus olhos transmitiam uma raiva m*l contida. O que houve com ele? Vou lembrar de perguntar mais tarde.
— Bem, todos estão convidados para o jantar esta noite. Mandei chamar Sofia também, tenho certeza de que ela vai adorar revê-lo, Solomon — disse o meu pai, se aproximando de nós com a minha mãe.
— Obrigado, majestade.
— Não me agradeça, rapaz. Sabe que é como um filho para mim — meu pai se aproximou e colocou a mão no ombro de Solomon. — Tenho grandes planos para você aqui no reino.
— Ficarei feliz em ajudá-lo, majestade. Espero estar à altura de suas expectativas.
— Mas é claro que está — o meu pai sorriu e virou-se para acenar para Lien e os outros. — Príncipe Lien, deixe-me apresentá-los. Este é Solomon, filho do general Rock — o meu pai apontou para Solomon, que se aproximou, fazendo uma reverência.
— É um prazer conhecê-lo, alteza — vi Lien estender a mão para cumprimentá-lo. Ele apenas apertou a sua mão e assentiu.
— Vocês terão tempo para conversar no jantar — o meu pai se virou para Mário e Rolf. — Vocês também devem vir.
— Sim, majestade, será um prazer — disse Rolf, se curvando.
— Agora, se me derem licença, tenho algumas coisas para resolver — assim, o meu pai se retirou com a minha mãe.
— Vejo vocês mais tarde — disse aos outros. — Vou matar a saudade do meu amigo um pouco — disse, já puxando Solomon pelo braço. Então, não vi a expressão dos outros, mas podia jurar que havia um par de olhos fixos em mim.
Solomon havia crescido, literalmente. Estava mais alto, havia ganho músculos por todo o corpo, mas seus olhos azuis ainda me olhavam da mesma forma de sempre, com muito carinho.
— Você está incrível, Sol. Cresceu bastante — disse, puxando-o para se sentar ao meu lado num banco do jardim. Adorava esse lugar; o cheiro das flores era maravilhoso.
— Você diz isso porque continua uma tampinha — ele riu. Olhei para ele com as sobrancelhas arqueadas.
— Você não cansa dessa piada?
— Não — disse, rindo.
— Sabia que agora posso chutar o seu traseiro? — perguntei, com um sorriso de canto.
— É, papai já me disse. Você venceu o meu velho pelo cansaço — então ele começou a gargalhar. — Imagino o quanto você o perseguiu para deixá-la treinar — também comecei a rir com a lembrança.
— Sim, não lhe dei sossego, mas valeu a pena — ele me olhou com um ar desafiador. — O que foi?
— Precisamos testar isso um dia.
— A hora que você quiser — disse, sorrindo. — Mas me diz, por que foi embora sem se despedir? Você nem voltou para nos visitar — vi ele suspirar e passar a mão pelos cabelos, sem jeito.
— É uma longa história — disse, por fim.
— Tenho tempo.
— Tudo bem — se rendeu, por fim. — Você sabe que perdi a minha mãe muito jovem — apenas assenti. — Mas eu ainda tinha uma avó que morava em outro reino, aquele do rei Alexandre Mandrack.
— Sim, sei qual é. O rei Alexandre parece ser muito justo.
— Ele é. Gosta das coisas certas e cuida muito bem do povo — ele me encarou novamente. — O filho dele não veio te conhecer?
— Veio. Ele é um bom rapaz, mas não daria certo entre nós — ele me olhou, surpreso.
— Por quê?
— Em primeiro lugar, ele não faz o meu tipo e, em segundo, ele já tem alguém que ama — ele pareceu chocado. O príncipe Dylan era incrível. Eu poderia ter me apaixonado por ele. Era alto, forte, tinha a pele clara, olhos azuis, um rosto másculo com lábios grossos. Mas não foi isso que me encantou nele, e sim a sua personalidade. Ele era gentil, sempre atento às necessidades dos outros e muito inteligente também. Quando nos conhecemos, ele foi sincero ao dizer-me que já havia alguém no seu coração. Então, combinamos de ser amigos, e eu prometi que não contaria a ninguém. Afinal, ela era uma serviçal no seu castelo e ele estava esperando o momento certo para conversar com o seu pai. Assim, nos tornamos bons amigos.
— Sério? Não sabia.
— Sim, mas não conte a ninguém, é um segredo — ele continuou surpreso. — Apenas fingimos quando ele veio, para que o rei Alexandre não descobrisse. Então, eu o rejeitei, assim o rei não desconfiaria.
— Entendo. Mas vocês ainda se falam?
— Claro! Ele é um amigo muito querido, sempre trocamos correspondência.
— Que bom, pelo menos resultou em algo bom — confirmei com a cabeça. Eu e Dylan rimos muito juntos; ele é um bom amigo. — Então, minha avó era de lá e, quando ela ficou doente e não tinha ninguém para cuidar dela, papai achou melhor eu ir fazer-lhe companhia.
— Ela está melhor agora? — perguntei.
— Ela faleceu há três anos — ele suspirou e me olhou com pesar.
— Sinto muito por isso.
— Não tem problema, já faz um tempo, então já me acostumei a ficar sem ela, mas ainda sinto a sua falta.
— Imagino que sim.
— Quando fui para lá, ela ainda estava bem. Fomos bem tratados, e o rei Alexandre sempre nos ajudou. Ele enviou uma serviçal para ajudar e assumiu a responsabilidade de me treinar. Todo o tempo livre eu passava ao seu lado. Era uma rotina confortável. Então, a doença dela piorou e não pudemos fazer nada. Ela faleceu, e eu não voltei antes porque tinha obrigações com o rei. Fiquei para deixar tudo em ordem. Agora que finalizei o que precisava, voltei.