**P. V. Princesa Kiara**
Termino de me arrumar e desço para a sala. Vejo que quase todos já estão lá; faltavam apenas Sofia e os meus pais. Lien levanta-se e vem na minha direção.
— Você está maravilhosa esta noite — diz, pegando a minha mão e dando um beijo. Coro com o gesto.
— Vivi para ver a minha garota corar — diz Solomon, rindo. — E pensar que te chamam de "coração de pedra".
Cruzo os braços e encaro-o com desafio.
— Inveja dói, não é, Sol? — digo, provocando.
— Foi m*l, mas ele não faz o meu tipo — os outros explodem em risadas na sala.
— Você é um i****a.
— Mas você ama este i****a.
— E isso é a única razão para não chutar o teu traseiro agora.
— Não ligues para ele — diz Lien, tentando disfarçar o sorriso.
— Quem vai chutar o traseiro de quem? — surpreendo-me com a chegada de Sofia. Vejo quando o sorriso no seu rosto some, dando lugar à surpresa e incredulidade. — Solomon!?
— Olá, coração — diz Solomon, aproximando-se de Sofia com um belo sorriso no rosto. — Não me vais dar um abraço?
Vejo quando ela fecha a pequena distância entre eles com um abraço apertado.
— Tu realmente estás aqui? — pergunta ela, com lágrimas nos olhos, enquanto acaricia o seu rosto.
— Sim, e não vou a lugar nenhum — dava para ver o carinho que um tinha pelo outro; a forma como Solomon segurava Sofia nos seus braços era linda. — Vamos conversar um pouco depois do jantar. Vou contar-te tudo — ouço-o dizer enquanto limpava as lágrimas que rolavam no rosto dela.
— Com certeza, tens muito a explicar — diz ela, fingindo estar brava.
— Parece que todos estão aqui — diz o meu pai, chegando com a minha mãe. Todos se curvam, cumprimentando-os. — Vamos jantar então — diz ele, indo à frente e assumindo o seu lugar com a minha mãe à sua direita.
Vejo que os assentos foram organizados de forma estratégica. Eu e Lien estávamos à esquerda do meu pai. Sofia e Solomon estavam ao lado da minha mãe, assim como Mário e Alder. Já Elisa e Rolf estavam ao nosso lado. Assim que nos sentamos, os serviçais trazem a comida. Era um verdadeiro banquete, havia muitos pratos diferentes.
— Não se acanhem, sirvam-se — diz o meu pai, já se servindo.
Não resisto e coloco um pouco de batata, salada e um pedaço de carneiro assado. Observo enquanto os outros se servem. Vejo Rolf servir Elisa, que cora enquanto ele fala com ela. Os outros estão bem à vontade e a conversa começa a fluir tranquilamente à nossa volta.
Estava tudo tão tranquilo, todos conversando e rindo, enquanto apreciávamos aquela refeição. Era bom ter a mesa cheia, principalmente de pessoas queridas.
— Kiara, lembra daquela vez em que passámos a perna no meu pai? — pergunta Solomon em certo momento.
— Lembro muito bem. Ele ficou à nossa procura durante um tempão — gostava dessa lembrança. Queríamos tomar banho no riacho e o general Rock não deixou, então disfarçámo-nos e fomos escondidos.
— Nunca vou esquecer os tapas que levei aquele dia — diz, sorrindo. — Tudo por tua causa.
— Por minha causa? A ideia foi tua.
— Talvez, mas foste tu que insististe.
— Fico pensando no que mais vocês aprontavam — pergunta o meu pai, encarando-nos com um sorriso de canto.
— Muitas coisas, nem imagina, pai. Éramos duas pestes — vejo a careta no rosto da minha mãe, enquanto ríamos da conversa.
— Eu sei de muita coisa, mocinha. Nunca andaste desprotegida, nem na infância.
— Está bem, pai. Conta-nos algo que não sabemos.
— Sei que vocês... — Vejo que ele se interrompe ao olhar para a minha mãe. — É melhor deixar quieto.
Todos rompemos em gargalhadas com a sua reação.
— Vejo que é um homem sábio, pai.
— Aprende-se algumas coisas com o tempo — diz, rindo.
A nossa noite foi tranquila, cheia de risadas e brincadeiras. Era tão bom ver todos a divertirem-se. Esse era o espírito de família que eu amava.
— Vou retirar-me com a rainha, mas fiquem à vontade e divirtam-se — diz o meu pai, levantando-se e segurando a mão da minha mãe. Fazemos uma pequena reverência enquanto eles saem.
— O que achas de uma volta no jardim? — pergunta-me Lien.
— Claro — respondo com um sorriso e viro-me para Sofia e Elisa. — Mais tarde, no meu quarto, meninas. Vamos fazer uma festa do pijama. — Elas assentem e saio de braços dados com Lien.
— Tens algum motivo para este passeio?
— Só queria ficar mais um pouco contigo — responde Lien, enquanto caminhamos em direção ao jardim.
— Vais acabar por enjoar de mim.
— Isso nunca vai acontecer — responde ele, olhando-me e sorrindo.
Chegamos ao jardim e tudo está iluminado pela lua. É uma bela vista; adoro estas noites de céu limpo e estrelado.
— Me dá a honra desta dança? — pergunta Lien, com a mão estendida na minha direção. Dou risada.
— Mas não temos música — digo, pegando na sua mão.
— Não precisamos, só esta noite maravilhosa já é o suficiente.
Ele puxa-me para os seus braços, colocando uma das suas mãos na minha cintura. Movemo-nos como se uma valsa suave estivesse a tocar. Era tão bom. Lien tinha um perfume delicioso, e acabo por me aproximar mais dele. Quando percebo, a minha cabeça está no seu peito. Levanto a cabeça um pouco e vejo-o a observar-me com um sorriso.
— Você é tão linda — diz, passando a mão pelo meu rosto. Não sei o que responder, sinto as minhas bochechas corarem, então desvio o olhar, enterrando o rosto no seu peito.
— Não precisa ficar envergonhada, apesar de eu amar te ver corar — diz, erguendo o meu rosto para me encarar.
— Quando me olha assim, me dá vontade de te beijar.
Olho para ele, surpresa, com uma ideia a surgir na minha mente.
— Talvez eu deixe — digo, vendo a surpresa no seu rosto. Então empurro-o e saio a correr. — Só precisa me pegar antes!
Saio a correr, rindo. Posso ouvir os seus passos pesados atrás de mim. Quando ele quase me apanha num canto do jardim, solto um gritinho e corro mais rápido.
— Não vai conseguir fugir de mim, Kiara! — diz ele, próximo de mim. Corro em direção ao lago, esquecendo-me de que não havia saída. Sinto então o seu corpo chocar-se contra o meu e caímos os dois dentro do lago.
A minha pele arrepia-se na hora por causa da temperatura da água. Sinto as mãos de Lien firmes na minha cintura, enquanto ele me puxa para a superfície.
— Seu maluco! Nos derrubou no lago! — digo, tirando os cabelos molhados do rosto.
— Mas eu ganhei, te peguei — diz, com um grande sorriso no rosto. Eu amava esse jeito de Lien, leve, sem preocupações, alguém que sabia aproveitar o momento. Um príncipe encantador.
— Vou poder pegar a minha recompensa? — pergunta ele, aproximando-se mais de mim, passando a mão delicadamente pelo meu rosto.