**P.V. Princesa Kiara**
Acordei cedo e fui para o campo de treinamento com Sofia e Elisa. Seria a primeira vez de Elisa no campo. Quando chegamos, deixei Elisa com Sofia na cozinha e saí, pois hoje eu tinha aula com o curandeiro, então precisava apressar-me.
Quando cheguei à sua choupana, ele me esperava com uma caneca de chá.
— Bom dia, curandeiro — digo e faço uma pequena reverência para demonstrar o meu respeito por seus serviços.
— Bom dia, menina — diz, entregando-me o chá.
— O que vamos fazer hoje?
— Se tudo der certo, um parto. — Meus olhos arregalam-se; já tinha aprendido muita coisa com ele, mas nunca havia ajudado em um parto antes.
— Sério? Mas isso não é algo que podemos fazer quando quisermos — digo, questionando sua escolha do dia.
— Me chamaram hoje de madrugada, mas ainda não estava na hora, então vim buscar algumas coisas e tomar algo.
— Sério que você está tão tranquilo assim?
— Já examinei a mãe. Ela está bem e o bebê também. É seu primeiro filho, então pode demorar um pouco. O corpo está se preparando para o nascimento.
— Não sei se quero fazer um parto.
— É bom saber algumas coisas. Afinal, você vai se casar em breve. Daqui a uns meses pode ser você em trabalho de parto — faço uma careta com a sua resposta.
— Vocês já planejaram tudo, hein. — Ele dá risada.
— Um dia isso vai acontecer.
— Sim, um dia bem distante.
— Vamos indo, não podemos deixá-los esperando. Vai que o bebê resolve vir ao mundo mais cedo.
Juntamos tudo que precisávamos e fomos para a casa da mulher que estava em trabalho de parto. Quando chegamos e fomos vê-la, ainda faltava um pouco de tempo para que ela tivesse a dilatação adequada para a criança nascer. Fui para a cozinha preparar um chá de ervas para a mãe.
Quando chegou o momento, foi bem rápido. A mãe não teve complicações e trouxe ao mundo uma linda menina.
— Você foi muito bem hoje — diz o curandeiro, quando já estávamos de volta à sua casa.
— Obrigada, não imaginava que fosse conseguir, mas deu certo.
— Sim, você tem sido uma boa aluna, menina.
Passo mais um tempo com ele, depois do almoço me despeço e vou encontrar-me com os outros no campo de treino.
— Oi, meninas — digo, entrando na cozinha — voltei.
— Como foi o treino de hoje? — pergunta Sofia.
— Foi bom, ajudei em um parto hoje... — vejo o espanto em suas expressões.
— Sério? — pergunta Sofia.
— Deve ter sido uma experiência diferente para você — diz Elisa.
— Nem me fale, Elisa, acho que estou repensando os meus conceitos sobre ser mãe no futuro. — Elas riem da minha resposta.
— Já está pensando nisso, hein, danadinha — diz Sofia, me cutucando. Vejo Elisa rir.
— Quer parar? Acho que a sua proximidade com um certo alguém está afetando a sua cabeça.
— Te garanto que não é só a cabeça — responde ela, abanando-se. Eu não aguento e caio na risada, sendo seguida por Elisa.
— Não ria, você acha que eu não vejo os olhares de um certo general para você? — diz Sofia para Elisa, e vejo-a corar.
— Ele só é atencioso.
— Lamento te decepcionar, mas ele gosta de você, sim — digo a ela. — Dá uma oportunidade a ele. Você está começando uma nova vida, nada melhor do que alguém que cuide de você como você merece.
— Ouça ela, Elisa. Podemos brincar e tudo, mas isso é verdade. Desde que o general está aqui, ele se mantém distante das outras mulheres, mas com você parece ser diferente — diz Sofia.
— Bem, vou nessa.
— Espera, Kiara!
— O que foi?
— O Príncipe Lien esteve aqui. Chamaram a gente para um piquenique na cachoeira à tarde.
— Que legal, adoro aquele lugar.
— Você vai? — pergunta Elisa.
— Claro, mas tem algo que não faço há um tempo — digo, olhando para Sofia. Vejo ela me lançar um olhar de quem entende. — Então encontro vocês lá.
— Beleza, toma cuidado — diz Sofia. Eu aceno para elas e saio.
Vou para onde deixei o meu uniforme de treino, coloco-o e vou procurar o general Rock.
— Você ainda não desistiu?
— Há quanto tempo você me faz essa pergunta? Já devia saber que não vou desistir. — Vejo ele balançar a cabeça e sorrir.
— Tudo bem, vou lutar com você hoje, e não vou pegar leve.
— É tudo o que peço.
A luta com Rock foi puxada. Ele realmente não facilitou para mim, mas foi bom sentir os meus músculos queimarem novamente. Quando me lembrei do piquenique, sabia que estava atrasada. Saí correndo, deixando Rock para trás.
— Aonde vai? — ouvi ele gritar ao longe.
— Tenho um compromisso.
Disparo em direção ao lugar onde deixei o meu cavalo. Monto e corro. Quando estou quase chegando, paro e desmonto. Pego a mochila para trocar de roupa, mas algo chama a minha atenção: alguns homens conversando perto de mim. Deixo o meu cavalo e, engatinhando, vou até um arbusto próximo deles.
— Vamos repassar o plano. Vocês vão atacar o príncipe. Pude ver que ele está sozinho mais atrás, então é o momento perfeito. Quando os outros saírem de vista, nós atacamos. Lembrem-se: o chefe quer ele morto, então façam um serviço rápido.
— Certo!
— Entendido.
— Vamos fazer.
Espero que eles saiam, então rastejo de volta para o meu cavalo. Monto, pego um caminho diferente e corro. Quando chego, vejo os três bandidos posicionados e prontos para disparar em Lien. Então, lanço-me no ar, bloqueando o corpo de Lien. Destruo duas flechas, mas, infelizmente, uma acerta meu ombro. Sinto o local queimar com o impacto. A minha sorte é que estava usando uma camisa de couro por baixo, o que diminuiu o impacto da flecha, mas ainda perfurou minha pele. Quebro a flecha e continuo lutando. Quando termino, vejo Lien me encarando sério. Tento não demonstrar emoções, mas algo chama a minha atenção: o último bandido sai da floresta em direção a ele.
— Cuidado! — grito em desespero, empurrando Lien e matando o bandido rapidamente. Então ouço o som de cavalos vindo na nossa direção. Corro para a floresta, monto no meu cavalo e saio galopando floresta adentro.
Quando chego a um lugar seguro, tiro a minha roupa com cuidado e examino a minha ferida. Não estava tão feia nem profunda. Preparo-me e puxo a flecha, deixando escapar um silvo de dor. Para a minha sorte, hoje eu estava com o curandeiro, então tinha tudo que precisava para fazer um curativo. Faço um curativo rápido, visto as minhas roupas e volto para a estrada, cavalgando lentamente.