**P. V. Príncipe Lien**
Seguimos conversando e dando boas risadas, e o tempo foi passando e ficando mais frio aqui fora. Por mais que eu quisesse que a nossa conversa continuasse, pude ver que Kiara estava com frio.
— Vamos entrar? — pergunto a ela, que assente e se levanta, dirigindo-se para dentro. Rolf e Mário já tinham entrado há horas, assim como os outros hóspedes. Estávamos tão concentrados na nossa bolha particular que nem percebemos a hora. Subimos para o nosso quarto e tudo estava silencioso. Entrei e fui arrumar o colchão para dormir quando Kiara me parou.
— A cama é grande, podemos dividir — diz ela, corando. — Vai esfriar mais de madrugada, não quero que apanhes um resfriado.
— Tens a certeza? — pergunto.
— Sim, é só por uma noite. — Fico meio sem graça. Em que lado eu devia deitar-me? Nunca dividi a cama com ninguém.
Ela vai até o lado direito da cama, senta-se, tira as botas e deita-se, virando-se de costas para mim. Aproximo-me e faço o mesmo, deitando-me ao seu lado. Eu estou perdido, esta vai ser uma longa noite. O objeto do meu desejo estava ao meu lado e eu não poderia fazer nada. As minhas mãos coçavam de vontade de puxá-la para o meu peito, aconchegá-la nos meus braços e inalar o seu perfume maravilhoso.
No meio dos meus devaneios, acabei por adormecer, mas acordei quando senti algo a tocar-me. Então lembrei-me de onde estava e com quem estava. Abri os olhos lentamente e vi Kiara a agarrar-se ao meu peito. A minha camisa tinha subido enquanto eu dormia, e ela repousava a sua mão no meu peito nu, com a cabeça nos meus ombros. Era reconfortante o contato da sua mão no meu peito. No início, não sabia o que fazer, mas, quando percebi que ela estava em sono profundo, aconcheguei-me a ela e acabei por adormecer novamente.
A luz do sol entrava lentamente pela janela do quarto. Levei alguns segundos para despertar totalmente. Olhei então para os meus braços e vi Kiara enroscada em mim, com uma das suas pernas sobre as minhas. Sorri com a visão. Era tão bom observá-la a dormir; o seu rosto era tão sereno. Lentamente, os seus olhos foram-se abrindo e fixaram-se nos meus. Aqueles lindos olhos azuis encaravam-me com tranquilidade e calma, até que ela percebeu que estava deitada no meu peito. Pude ver o espanto no seu rosto, e ela rapidamente se sentou na cama. Eu sorri com a visão.
— Desculpa — disse ela, corando e desviando os olhos do meu peito nu.
— Imagina, não tem problema — digo, encarando-a. Ela ficava fofa demais quando estava com vergonha. — Na verdade, foi a melhor noite da minha vida. Dormi muito bem — disse a ela, sorrindo, ainda deitado.
— Devias era estar com o ombro a doer, depois de teres servido de travesseiro a noite toda.
— Pois saiba que estou à tua disposição sempre que quiseres usar-me como travesseiro — digo, aproximando-me dela. Ela olha-me apreensiva, então levanto a mão e tiro uma mecha do seu cabelo do rosto. — Eu amo o teu cabelo, ele é lindo — digo, aproximando-me mais. Quando os nossos lábios estão quase a tocar-se, afasto-me e dou um beijo na sua testa. Posso ver a surpresa no seu rosto e, talvez, uma pitada de decepção.
— Vamos tomar o pequeno-almoço? — pergunto, sorrindo. Era bom saber que ela reagia a mim. Ela apenas acena com a cabeça. Saio do quarto e vou trocar de roupa na casa de banho para lhe dar um pouco de privacidade. Arranjamo-nos rapidamente, pegamos nas nossas coisas e descemos. Tomamos um pequeno-almoço rápido, pegamos algumas coisas para viagem e saímos rumo ao nosso destino final.
A vila que devemos visitar não fica longe desta, então temos esperança de terminar tudo bem cedo.
A estrada estava tranquila, o que fez com que andássemos um pouco mais rápido. Quando chegámos próximo à entrada da vila, tive a sensação de que alguém nos estava a observar. Diminuí o trote do meu cavalo, olhando com mais atenção à minha volta. Pude ver que Rolf também estava apreensivo. Trocámos um olhar silencioso e fizemos sinal para que Mário ficasse alerta.
— Cuidado! — grita Rolf, atirando-se sobre mim. — Mário, protege a princesa! — grita, levantando-se e puxando a espada. Então vejo uma flecha cravada nas costas da sua armadura. Estamos sob ataque. Formamos um círculo com a princesa no meio e preparamo-nos para o combate.
— Eu não sou tão indefesa como vocês pensam — reclamou ela, tentando sair do círculo.
— Melhor não arriscar — respondo, e posso ouvi-la bufar de descontentamento.
— Rendam-se! — grita uma voz de dentro da floresta. — Vocês estão cercados, não têm por onde fugir.
— O que queres? — pergunto, procurando qualquer coisa que me indicasse o paradeiro do inimigo.
— Só queremos dinheiro. Deixem tudo o que têm e podem ir embora, que nada vos acontecerá — responde. Então percebo que o som da voz vem da direita. Começo a observar com mais atenção e, de repente, vejo um brilho discreto do sol a refletir em algo. Faço sinal discretamente para Rolf acompanhar o meu olhar, e vejo-o acenar em concordância.
— Tudo bem, mas as coisas estão no cavalo. Vou ter que me mover para te dar o que queres — digo, já a planear os meus próximos movimentos.
— Tu, não — diz o inimigo. — O homem à tua esquerda — quer que Mário faça o serviço. Deve ter escolhido pelo tamanho, já que ele é menor, mas m*l sabe o inimigo que Mário é tão letal quanto eu e Rolf.
— Está bem — digo, encarando Mário. — O dinheiro está no alforje à direita e também há umas moedas de ouro brilhantes junto. — Percebo no seu olhar que ele entendeu a mensagem. Ele caminha lentamente com as mãos levantadas, vai até ao seu cavalo e retira um pequeno objeto do alforje. Num movimento rápido, vejo um disparo e o grito de dor do bandido.
Enquanto Rolf fica com Kiara, corro até Mário, que já caminha na minha direção com um homem preso.
— Aqui está, alteza, o nosso pequeno ladrão — diz ele com um sorriso, atirando o homem à minha frente. Inclino-me sobre ele e puxo-lhe o capuz, revelando o seu rosto. Era um rapaz que me olhava com assombro.
— O que foi? Não sabias que estavas a tentar roubar da realeza? — digo sarcasticamente e vejo o medo aumentar no seu rosto.
— Eu não sabia que eras da realeza — diz o rapaz, sentando-se no chão.
— Para mim, não faz diferença. Roubar é errado, seja de quem for.
— Então, alteza, o que fazemos com ele? — pergunta Mário. — Faz tempo que não esfolei ninguém, embora este aqui não durasse muito comigo, mas ainda é melhor que nada — diz Mário, sorrindo, e posso ver o pavor crescer no rosto do rapaz.
— Não se esqueçam de mim — diz Rolf, aproximando-se de nós. — Tenho uma técnica nova de tortura que ainda não tive a chance de testar. Agora seria uma boa oportunidade — Rolf abaixa-se, segurando firmemente o queixo do rapaz. Então ouvimos um barulho na floresta e uma jovem entra como um furacão, atirando-se aos meus pés.
— Por favor, senhor, poupe a vida do meu irmão!