**P. V. Príncipe Lien**
Kiara sai, e fico no quarto aguardando que ela volte para que eu possa tomar banho. Estava separando os meus itens de higiene quando ouço o grito de Kiara. Nem penso, largo tudo e saio disparado para o banheiro. A porta estava fechada, e eu a abro com um chute, fazendo um enorme barulho. Olho para dentro e não vejo nenhum inimigo, apenas Kiara encolhida e gritando.
— Kiara, o que foi? — digo, desesperado.
— Tem algo na minha perna — diz ela, tremendo. Abaixo-me e olho as suas pernas para ver se encontro algo, mas não vejo nada.
Então, a realidade me invade: eu estava no banheiro com Kiara seminú, enquanto as minhas mãos estavam nas suas pernas. Deus! Que par de pernas... A sua pele era lisa e macia, a suas pernas eram firmes e femininas. A minha respiração ficou ofegante. Lentamente, olho para cima e me deparo com um par de olhos azuis me encarando firmemente.
— Lien! — grita Kiara.
Levanto-me, tentando explicar o que aconteceu, quando a porta se abre, me empurrando para cima dela. Para evitar que ela bata na parede, viro-me e a puxo junto comigo, fazendo com que quem entrasse visse eu encostado na parede com Kiara pressionada no meu peito.
— Ouvi um grito, está... — Rolf não termina a frase ao ver a posição em que estamos. Ele me olha, sem graça, antes de abaixar os olhos. — Me desculpem por atrapalhar vocês — diz ele, fechando a porta.
— Espera! Não é isso... — tento dizer, mas ele já havia saído.
Desvio o meu olhar para Kiara, que continua agarrada ao meu corpo. Vejo a suas bochechas corarem quando a olho. Ela desvia o olhar e cora ainda mais ao perceber que alguns botões da minha camisa estavam abertos, mostrando parte do meu peito. Ela me solta rapidamente, virando-se de costas. Não posso evitar um pequeno sorriso com a sua reação. Quando estou saindo, vejo um pequeno sapinho na parede do banheiro, provavelmente o que estava nas suas pernas.
— Veja, Kiara — digo, chamando a sua atenção. Ela me olha, segurando a sua camisa com força contra o corpo. — É um sapinho, deve ter pulado nas suas pernas e você se assustou.
Ela me olha, sem graça.
— Ai, que vergonha, tanto escândalo por um sapinho — diz ela, com as mãos no rosto, envergonhada.
— Não se preocupe, essas coisas acontecem — digo, saindo.
— Me desculpe — ouço-a dizer enquanto fecho a porta.
— Não foi nada — digo e sigo para o nosso quarto.
O sorriso não saía do meu rosto enquanto voltava para o quarto. Ela era muito fofa. Nunca vou me esquecer da sua expressão. O seu cheiro era maravilhoso, uma mistura de flores e chuva fresca, irresistível.
Se Rolf não tivesse entrado, acho que não resistiria à sua presença. E o meu sorriso ainda estava lá. Foi bom tê-la nos meus braços, ainda que por poucos minutos. Gostaria de negar, mas a verdade é que eu estava me apaixonando por Kiara.
— Pronto — diz Kiara, entrando no quarto. Ela estava com os cabelos soltos, ainda húmidos do banho, vestindo um vestido branco bem leve, que ia até os pés. Apesar de simples, ela estava linda.
— Então eu vou tomar banho — passo por Kiara e vou para o banheiro. Tomo um banho rápido, visto uma calça e uma camisa de flanela bem leve, aberta na frente. Dou um sorriso ao pensar em Kiara observando o meu peito. Sempre gostei de me exercitar, então tinha uma musculatura bem definida, afinal, eu sempre estava treinando os soldados ou envolvido em outras atividades que exigiam força e destreza.
Quando volto ao quarto, ela já havia descido, então desço também e saio à sua procura. A sala de jantar estava vazia, mas eu conseguia ouvir as conversas que vinham do lado de fora. Atravesso as enormes portas duplas que davam para o fundo da pensão e vejo várias mesas espalhadas e uma fogueira no centro, com vários bancos ao redor. Kiara está sentada numa mesa no canto, junto a Mário e Rolf.
— Vocês ainda não jantaram? — pergunto, aproximando-me.
— Estávamos te esperando — responde Rolf.
— Não precisavam.
— Precisava, sim — responde Kiara, sorrindo. — Vamos? — pergunta ela, se levantando. Nós a seguimos, nos servimos e voltamos à nossa mesa. A comida era ótima e o ambiente, agradável. Comemos num silêncio confortável.
Após o jantar, nos servimos de uma caneca de chá e sentamos em volta da fogueira, Kiara e eu. Pude ver Rolf e Mário sentados em um canto mais distante, conversando. Esses dois eram demais, estavam tentando nos dar um pouco de privacidade.
— A noite está linda hoje — diz Kiara, sonhadora.
— Verdade. Às vezes estamos tão atarefados que nem percebemos essas pequenas coisas — digo. Kiara faz um aceno, concordando.
— Que tal você me contar aquele segredo agora? — vejo a sua expressão mudar para um pequeno sorriso, com um levantar de sobrancelhas.
— Pergunte, vou responder com a maior sinceridade que puder — diz ela, levando a sua caneca de chá aos lábios.
— Qualquer coisa? — pergunto.
— Sim — responde ela.
— OK, então me diga, Kiara — inclino-me mais para perto dela, falando mais baixo. — Quem foi seu primeiro beijo?
Vejo os seus olhos se arregalarem e a suas bochechas corarem com a minha pergunta. Ela ficou sem graça.
— Você quer mesmo saber isso? — pergunta ela, ainda incrédula, me encarando.
— Sim, afinal, preciso saber quem foi para fazer melhor — vejo o seu espanto e aproveito o seu embaraço para colocar uma mecha do seu cabelo atrás da orelha. Vejo a sua surpresa e um pequeno sorriso surgir no seu rosto.
— Bem, se você quer mesmo saber, eu vou te responder — vejo ela se aproximar mais de mim para falar no meu ouvido. — Ninguém! — responde, fazendo um doce arrepio percorrer o meu corpo quando os seus lábios roçam a minha orelha esquerda. Fico sem reação enquanto ela se afasta.
— Ninguém? — pergunto, cético.
— Sim.
— Por quê? — Não conseguia entender como ela nunca tinha beijado alguém. Claro que eu estava feliz, até demais, mas ela era linda! O que havia de errado com os outros homens que a cortejaram?
Ela explodiu numa gargalhada, fazendo com que as outras pessoas se virassem para nós.
— Desculpe — diz ela, ainda rindo. — Mas se você me conhecesse melhor, não me perguntaria isso.
— Acredito que estou perdendo uma história — digo, sorrindo. Ela assente e continua:
— Assim como você, tive vários pretendentes. Alguns mais tranquilos, outros mais idiotas — diz, fazendo uma careta. Eu dou risada. — Em uma dessas vezes, teve um que achou que podia me beijar contra a minha vontade. Ele só não esperava que eu fosse reagir. Quando ele tentou me beijar, joguei uma jarra de água nele. Papai chegou bem na hora em que eu o estava empurrando escada abaixo — terminou ela, soltando outra gargalhada. — Depois que ele desceu a escada rolando, o meu pai o expulsou do reino por atentar contra a minha honra.
Fiquei sem reação e, logo em seguida, explodi numa gargalhada. Ri tanto que a minha barriga doeu.
— Isso deve ter sido incrível! — digo, me segurando para não cair. — Ele foi totalmente humilhado! Agora você já pode dizer que tem um inimigo.
— Ah, com certeza — diz ela. — Aposto que ele me odeia até hoje.
— Então, o motivo de você nunca ter beijado foi os idiotas que cruzaram o seu caminho?
— Eu acredito que, quando eu for beijar alguém, tem que ser alguém que eu ame, que me passe segurança, e porque eu quero, não um i****a interessado na minha coroa.
Posso entender os seus motivos. Eu passava pelas mesmas coisas: mulheres que não queriam me conhecer de verdade, apenas queriam a posição de rainha, queriam um título. A cada dia, Kiara me surpreendia mais.