Capítulo 11

1285 Words
**P. V. Princesa Kiara** Assisti, divertida, enquanto via os homens colocando medo no pobre rapaz. Só de olhar, dava para ver que ele não estava acostumado a roubar. Havia algum motivo para que ele estivesse fazendo isso, e tenho certeza de que descobriremos. Ele era jovem, provavelmente tinha os seus vinte e poucos anos. O seu rosto ficava cada vez mais pálido enquanto ouvia as ameaças dos meus colegas. Ele não era feio; sua pele era morena, com cabelos negros e lisos, olhos castanhos, que naquele momento estavam assustados, lábios cheios e nariz reto. Realmente, ele era bonito. Estava tão distraída que só percebi a presença de uma jovem quando ela já estava aos pés de Lien. Ela também era muito bonita, apesar do seu estado lamentável. Vi-a implorando por seu irmão em prantos, então aproximei-me, abrindo caminho entre os outros. — Ninguém aqui vai matar o seu irmão — digo-me aproximando e estendendo a mão para que ela se levantasse. Ela me olha com cautela. Vendo que não recolhi a mão, ela a pega lentamente, e eu a ajudo a levantar. — Não se preocupe, é apenas uma brincadeira deles. Ela me olha em dúvida, então se vira para olhar os outros. — Não somos bárbaros, moça — Rolf se pronuncia com um pequeno sorriso nos cantos dos lábios. — Mas foi divertido ver a cara dele. — Só mais um pouco e ele teria se mijado todo — diz Mário, rindo. Eu os encaro séria. — Vocês são crianças? — pergunto. — O que aconteceu com os meus letais protetores? Lien observa a nossa interação com um pequeno sorriso. — Ainda estamos aqui — responde Rolf, levantando o rapaz do chão. — Agora, o que vamos fazer com você, pequeno ladrão? Observo o rapaz tremer ligeiramente, então noto que ele estava com uma pequena flecha no ombro. — Faremos perguntas, mas primeiro vamos remover essa flecha do seu ombro — digo, já me movendo até os cavalos, onde havia medicamentos para emergências. — Bem, você ouviu a princesa — Lien se vira e pega o rapaz, conduzindo-o até uma árvore caída à beira da estrada. A sua irmã o segue em silêncio, segurando as suas mãos com força. — Princesa? — o rapaz pergunta, virando-se para me encarar. — O que você esperava? — pergunto, irónica. — Carruagens e coroa? — vejo ele corar um pouco com a ironia da situação. — Lamento decepcioná-lo, mas não gosto de chamar atenção — digo, dirigindo-me na sua direção com um bornal com os medicamentos. — Alteza, por favor, deixe que eu faça isso. Não precisa se incomodar — diz a moça, já tentando retirar o bornal das minhas mãos, mas eu não deixo e afasto a sua mão gentilmente. — Eu faço, não se preocupe — digo, sorrindo e me aproximando do rapaz. — Então, qual é o seu nome? — Meu nome é Alder, alteza — ele responde, de cabeça baixa, sem olhar para mim. Vejo que ele está preocupado com o seu destino. — Ok, Alder, pode olhar para mim quando falar. — Ele levanta o rosto, ainda hesitante, e posso ver o medo nos seus olhos. — Vamos esclarecer algumas coisas aqui: sei que o que você fez é errado, e também sei que deve ter os seus motivos, mas ninguém aqui vai fazer m*l a você ou à sua irmã. — Ele me olha confuso, como se duvidasse do que eu dizia. — Não sei de onde você veio, mas aqui no reino não costumamos executar alguém por esse motivo. Espero que seja sincero e me conte o que está acontecendo para que você tenha feito isso. — Ele acena com a cabeça, concordando com o que eu disse. — Ótimo, então, enquanto eu cuido do seu ombro, você me conta o que aconteceu. Vejo de longe Lien olhar-me com curiosidade e se aproximar de mim. Sei que ele não está confortável comigo perto de Alder, mas também vejo surpresa nos seus olhos enquanto me observa. Dou um pequeno sorriso para ele e vejo o seu corpo relaxar um pouco. — Vou ter que puxar a flecha, e vai doer. — Alder apenas assente. Então, agarro a flecha e puxo sem hesitar. Ele suspira de dor. Vejo uma camada fina de suor se formar na sua testa, mas ele não reclama. — Pronto, agora você fala enquanto eu cuido do resto. — Bem, como eu disse, alteza, o meu nome é Alder, e ela é Elisa — diz, apontando para a irmã, que aguarda em silêncio, de cabeça baixa. — Não somos daqui, não conhecemos o reino. — Então, como chegaram aqui? — pergunto, curiosa. — Não tivemos escolha. O reino onde morávamos vive em constantes guerras com os vizinhos. Já custou a vida de muitos, mas o rei de lá não se preocupa com isso. Ele só quer aumentar os seus territórios, nem que para isso custe a vida de todos. Então, um dia resolvemos fugir, e com muita dificuldade conseguimos. Mas tínhamos medo de que as pessoas aqui não nos aceitassem, e Elisa tem a saúde frágil, então resolvi roubar para poder cuidar dela. Ouvi tudo em silêncio. Pelo que vejo, o rapaz teve uma vida difícil, e saber que os seus governantes não se preocupavam com o povo era terrível. Não posso culpá-los pelo que aconteceu; ele pensava que seria tratado com tirania aqui também. — Vocês nunca pensaram em pedir ajuda aos aldeões? — pergunta Lien. Vejo que ele está sério, a sua postura mudou de relaxada para firme. Percebo que ele pensa o mesmo que eu. — Imaginamos que o povo não ajudaria dois estrangeiros, ainda mais de um reino em guerra. — Seus ombros caem ao falar, e percebo que ele não esperava coisas boas das pessoas. — Bem, vocês dois estão errados. — Viro-me de lado para encarar os dois, que me olham com atenção. — Neste reino, as pessoas são boas, de bom coração. Se tivessem pedido ajuda, teriam sido atendidos, independentemente de onde moravam. Não somos ensinados a odiar, mas sim a acolher. — Sinto muito, princesa. Nunca quis lhe fazer m*l, apenas queria comprar comida para Elisa. Faz dois dias que não comemos nada. Não vi outra alternativa a não ser roubar para que ela não passasse fome. Dou um pequeno suspiro. Era triste ver a situação dos dois. Dava para perceber que estavam magros, com roupas sujas e rasgadas. — Esperem um pouco, tem comida nos cavalos. A princesa não se oporia se compartilharmos — diz Mário, encarando-me um pouco sem graça. — Pode dar-lhes. Tomamos um café reforçado, estamos bem. — Com a minha confirmação, ele se vira, vai até os cavalos e volta com um saco de comida e um cantil de água. — Pronto, terminei. A flecha não estava profunda, então vai sarar logo. — Coloco a sua camisa de volta no lugar e guardo os medicamentos no bornal. — Aqui! — Mário entrega o saco com comida a Elisa. Ela se senta ao lado do irmão, e os dois começam a comer. Viro-me e vou em direção a Lien. — O que você acha de tudo isso? — pergunto a ele. — Não acho que estejam mentindo. Com certeza não são ladrões, e realmente estão com fome — diz ele, apontando com a cabeça para os irmãos, que comiam apressadamente, sem se preocupar com quem os estava observando ou com a forma como comiam. — Mas também não acho que contaram a história toda. Tem algum detalhe faltando. — Ele fica pensativo, observando os dois. — Também acho. Seja o que for que eles estejam escondendo, vamos descobrir. Tenho a sensação de que não vou gostar.
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