**P. V. Princesa Kiara**
Esperamos com paciência que eles comecem, para então decidirmos o que fazer.
— Então, o que fazemos com estes dois? — pergunta Mário, aproximando-se de mim e de Lien.
— Vamos levá-los — digo, sem desviar os olhos dos dois. — Seja lá o que for que estão escondendo, só vamos descobrir se ficarmos de olho neles.
— Você tem razão — diz Lien, olhando para mim. — Por mais que eu não goste de colocar você em risco, tê-los por perto é o melhor no momento.
Nós nos viramos e caminhamos em direção a eles, vejo a apreensão nos seus olhos.
— O que vão fazer conosco? — pergunta Elisa, de cabeça baixa.
— Vocês vêm conosco — digo. Vejo ela levantar a cabeça rapidamente, e os seus olhos brilham de pavor. — Mas sua alteza disse que não iria fazer m*l a nós — ela já estava à beira das lágrimas ao dizer isso.
— E não vamos. Vocês precisam de um lugar para ficar, e nós sempre precisamos de funcionários no castelo. Então, estamos oferecendo a vocês um emprego e um teto sobre as suas cabeças — digo sorrindo. Vejo a surpresa no seu rosto e, logo depois, um sorriso se formar nos seus lábios.
— Não vamos mais precisar morar na floresta? — pergunta ela, ainda incrédula.
— Não. Temos quartos para funcionários no castelo e damos comida também. Então, não vão precisar roubar — digo, observando a sua reação. Vejo ela se jogar aos meus pés, chorando.
— Obrigada, princesa! Mesmo depois do que fizemos, você ainda é tão generosa. Não merecemos o seu favor — diz ela, segurando os meus pés. Abaixo-me e a levanto do chão.
— Não faça isso. Todos merecemos uma segunda oportunidade. Vocês não são diferentes — ela parece se tranquilizar um pouco com as minhas palavras.
— Sempre estaremos em dívida com você, princesa — diz Alder, fazendo uma reverência.
— Não quero que tenha dívidas comigo. Quero apenas conquistar a sua lealdade, para mim ela é mais importante que qualquer valor — digo com sinceridade. Espero que eles possam recomeçar.
— Mário, vá com eles até o acampamento para buscar as suas coisas — ordena Lien. — Vocês têm cavalos?
— Sim, senhor — responde Alder.
— É "vossa alteza" para você, rapaz — diz Rolf.
— Perdão, eu não sabia — diz Alder, fazendo uma reverência.
— Não tem problema, eu não me apresentei — diz ele, sorrindo. — Eu me chamo Lien, príncipe do Sul — vejo o espanto crescer no rosto de Alder. O reino do Sul é bem conhecido e também muito poderoso.
— Sei o que você está pensando, rapaz: que azar tentar roubar os herdeiros dos dois maiores reinos — diz Mário, caindo na risada. Eu também não aguento e acabo rindo com ele. Somos seguidos por Rolf e Lien, enquanto Alder e Elisa nos observam chocados.
— Não se preocupem, isso é passado agora — digo, tranquilizando-os.
— Enquanto vocês vão buscar suas coisas, nós vamos vistoriar a vila. Nos encontramos aqui mais tarde — Lien explica o que faremos, e seguimos nossos caminhos. A ida até a vila é rápida. Conversamos com vários moradores, e ficou comprovado que os únicos roubos foram feitos por Alder, o que nos poupou tempo. Voltamos, e Mário e os outros já nos esperavam. Nosso retorno foi muito tranquilo; passamos a noite na mesma pousada e, no outro dia, no fim da manhã, já estávamos no portão do castelo. Pude ver o espanto de Alder e Elisa ao entrarem no castelo. Era uma bela construção, com várias torres, um belo jardim, estábulos; realmente surpreendia quem o via pela primeira vez. Deixamos os cavalos nos estábulos e seguimos para a sala do trono, onde papai nos esperava.
— Finalmente! — diz ele, levantando-se com um sorriso no rosto. — Já estava com saudades da minha filha.
Corri e joguei-me nos seus braços, apertando-o com força.
— Também senti a sua falta, papai — ele bagunça meu cabelo e me dá um beijo na testa.
— É só do seu pai que sentiu falta? — Mamãe olha para mim com o rosto sério e os braços cruzados. — Filha ingrata!
— Não fica com ciúmes — digo-lhe, abraçando-a. — Também te amo, mamãe — ela me abraça e me dá um beijo.
— Bem, agora que estão aqui, podem me contar como foi a viagem — meu pai se senta novamente, e contamos a ele tudo que aconteceu em detalhes. Vejo a apreensão no rosto de Alder e Elisa e, assim como comigo, eles se desculpam com meu pai pelo ocorrido.
— Bem, acredito que tomaram a decisão certa. Vocês serão bem acolhidos no nosso reino — vejo o clima ficar mais leve com as palavras do meu pai. — Então, vamos escolher um lugar para vocês trabalharem.
— Papai, pensei em deixar a Elisa ajudar a Nana na cozinha e me servir de dama de companhia nas horas vagas — vejo que ele aprova minha decisão.
— Por mim, tudo bem. É bom Nana ter ajuda — diz ele, sorrindo. — E quanto ao rapaz?
— O que você fazia antes, Alder? — pergunto.
— Eu era ajudante de ferreiro, alteza — responde.
— Então vou enviá-lo para ajudar na ferraria aqui do castelo, e nas horas livres quero que você vá treinar com os outros soldados. No nosso reino, todos fazem treino militar; é importante saber se defender — explica papai a eles. — Você também, minha jovem, nas suas folgas, desejo que vá treinar com as outras mulheres do reino.
— Como ordenar, majestade — responde Elisa, de cabeça baixa.
— Não estou ordenando. Aqui, todos têm direito de escolha, mas é bom que você aprenda. Não desejamos que fique sem saber se defender — vejo admiração nos olhos de Elisa ao olhar para meu pai. — Em caso de um ataque ou outra situação, você não seria uma presa fácil se souber se defender.
— Irei fazer o treino, majestade — diz ela. — Sei que está certo no seu ponto de vista.
— Ótimo, Pedro irá mostrar os seus quartos e explicar como funcionam as coisas por aqui — papai gesticula, e Pedro se aproxima com uma reverência.
— Elisa, sei que não tem muitas roupas, então depois vá até o meu quarto que arrumarei algumas para você — ela assente e acompanha Pedro com o irmão. Quando eles saem, contamos ao meu pai as nossas suspeitas e como decidimos agir.
— Acho que foi o melhor a se fazer. Vocês se saíram muito bem — diz ele, sorrindo. — Vou pedir para os soldados ficarem atentos a qualquer movimento suspeito.
— É bom termos cautela, majestade, não gostaria de colocar a Kiara em risco — encaro Lien com as sobrancelhas arqueadas, cruzando os braços.
— Eu não sou tão indefesa quanto você pensa — digo, caminhando em sua direção e colocando o dedo no seu peito.
— Não foi o que eu disse — diz ele, encarando-me.
— Foi o que pareceu. Não me subestime — digo, irritada.
— Por quê? Vai fazer algo a respeito? — Como ele era irritante às vezes! Ainda vou fazer esse sorriso b***a sumir do rosto dele, aí será obrigado a engolir as suas palavras.
Ouço meu pai e minha mãe rindo atrás de nós e os olho, sem expressão no rosto.
— Do que vocês estão rindo? — pergunto, séria.
— É bom saber que vocês estão se dando bem — fecho mais o rosto. — Mas deixe isso. Tenho uma surpresa para você — mudo minha expressão na hora.
— O que é?
— Você vai ver — diz meu pai, sorrindo. — Mande a surpresa entrar — diz ele a um soldado. Então vejo alguém entrar, alguém que não via há muitos anos, mas que povoou os meus pensamentos todo esse tempo. Alguém que eu amava profundamente.
— Você!