Sei que parecia irracional cuidar de alguém que eu nunca havia visto na vida, mas meu senso de dever não me permitia abandonar aquele homem naquele estado. De alguma forma, sentia que não deveria comentar sobre a sua presença com ninguém. Então, da mesma forma que cheguei, parti silenciosamente. Já era tarde quando cheguei ao castelo, e, para minha sorte, papai não brigou comigo desta vez.
Na manhã seguinte, cedo, separei tudo que acreditava que aquele homem poderia precisar: roupas, um lençol e um pouco de comida. Lembrei-me também de pegar um pequeno saquinho de moedas que eu tinha e não utilizava. Depois de selar o meu cavalo, parti.
Quando cheguei à cabana, o encontrei exatamente como o havia deixado, mas com uma pequena diferença. Quando entrei, o seu rosto se virou na direção em que eu estava, com aqueles mesmos olhos expressivos de antes.
Eu não entendia o que levava uma pessoa a viver daquela forma, isolada do resto da humanidade, em uma cabana no meio da floresta, em um lugar onde ninguém mais ia. Era um mistério que eu gostaria de desvendar.
— Bom dia! Eu te disse que voltaria — falei, aproximando-me dele. Coloquei a minha mão na sua testa para verificar se estava com febre, mas sua temperatura estava normal.
— Trouxe roupas de cama novas e também um pouco de comida. Dá para preparar algo melhor para você hoje.
Ele me observava atentamente enquanto eu ia até a pequena cozinha. Com os mantimentos que havia trazido, preparei um caldo e o servi. Ele não disse nada, como no dia anterior, mas comeu toda a comida que eu havia preparado.
— Sei o que você está pensando! — disse, olhando nos seus olhos enquanto limpava o seu rosto. — O que uma garota como eu está fazendo em um lugar como este, cuidando de um desconhecido? Pois é, não tenho uma resposta para isso. Talvez eu só me preocupe com o seu bem-estar, mesmo sem nunca ter te visto antes.
Naquele dia, com cuidado, troquei as suas roupas de cama e também a sua camiseta, que já era um trapo velho, substituindo-as por roupas novas. Ele havia recuperado um pouco de energia e já conseguia mover os braços lentamente. Após uma semana cuidando daquele homem em segredo, finalmente, em uma manhã fria, ao chegar à cabana, o encontrei sentado na cama. A suas feições haviam mudado: tinha ganhado um pouco de cor e até um pouco de carne nos ossos, antes grudados à pele. Com grande surpresa, ele disse a sua primeira palavra para mim:
— Não pense que vou te agradecer pelo que você fez! Não pedi a sua ajuda nem desejei a sua presença. Você entrou na minha casa sem permissão, mexeu nas minhas coisas, e fui obrigado a aceitar isso por causa da minha condição. Não queria que você salvasse a minha vida.
Ele tinha uma voz grave, uma entonação poderosa que eu nunca havia ouvido. Apesar de debilitado, aparentava ser alguém de porte nobre e firme. Os seus olhos, como antes, tinham sombras ao redor, como se ele vivesse um pesadelo na vida real. Eles pareciam tentar desnudar a minha alma, enxergar através de mim.
— Não espero um agradecimento seu. Nunca pedi isso. Faria o mesmo por qualquer outra pessoa que precisasse.
Talvez ele esperasse que eu me zangasse, que o acusasse de ingratidão por tudo o que fiz por ele, mas eu não sentia isso. Na presença daquele homem, via apenas uma pessoa amargurada, cuja razão para tal eu desconhecia. Ignorando o seu mau humor, aproximei-me e me sentei ao seu lado na cama.
— Olha, sei que talvez não seja confortável para você ser tratado por praticamente uma criança — disse, apontando para mim mesma. — Mas sou a única opção que você tem no momento. Aceitando ou não a minha presença, ficarei aqui até que você se recupere.
— Eu não preciso da sua ajuda.
— Vou fingir que você não disse isso. Até porque, você nem consegue ficar de pé.
Ele me olhou como se pudesse me matar. Para minha sorte, não tinha forças para isso. Dei risada da sua expressão, levantei-me e fui até o cavalo pegar os suprimentos que havia trazido.
— Trouxe mais comida, algumas frutas e um cobertor novo. O seu já está muito velho, não acha?
— Você é muito abusada. Ignora tudo o que eu digo. Não desejo a sua presença aqui. Vá embora!
— Então, façamos um trato! — disse, virando-me para ele. — Assim que você conseguir ficar de pé e andar pela cabana, eu irei embora e te deixarei em paz. O que acha?
— Por mim, você poderia ir agora. Não me faria a menor diferença.
— Que bom que temos um trato.
Mais uma semana passou na companhia daquele homem rabugento. Por mais que eu insistisse, ele não dizia o seu nome nem explicava por que estava naquela situação. Então, desisti de insistir. A cabana estava agora bem cuidada. Eu havia limpado tudo, organizado os frascos de remédios e deixado uma quantidade considerável de dinheiro para que ele pudesse se manter por algum tempo.
— Bem, acho que é aqui que nos despedimos. Tínhamos um acordo, lembra? Quando você conseguisse ficar de pé, eu iria embora. Agora que está praticamente recuperado, chegou a hora de dizer adeus. Espero que você encontre uma boa razão para viver.
Nunca esperei nada ao cuidar dele. Para mim, ele era apenas uma pessoa comum que queria viver em paz, longe de todos. Eu entendia a solidão. Às vezes, era melhor estar no meio da floresta com os animais do que no meio de pessoas que só queriam nos magoar.
— A partir de agora, venha aqui uma vez por semana. Não deveria, porque não pedi a sua ajuda, mas retribuirei o favor.
Com essas simples palavras, ele se virou e entrou novamente na cabana. Montei no meu cavalo e parti, desta vez com um sorriso no rosto.