Musgos cresciam em cada pedra naquele lugar. Havia ali uma neblina suave que dominava todo o local, dificultando a visão. Mas, mesmo assim, minha curiosidade era maior. Avancei, sem importar onde estava, até que avistei uma pequena cabana.
Curiosa, desmontei do cavalo e, com muito cuidado, puxando a minha adaga da cintura, adentrei a cabana, empurrando a porta lentamente. O som que ela fez me lembrava um lamento, como se dissesse para eu não dar mais nenhum passo. Lá dentro, tudo estava escuro e frio. Havia pequenas prateleiras na parede, cheias de frascos diversos. Pude identificar algumas ervas.
Adentrei um pouco mais. No canto, havia um fogão apagado e uma pequena cadeira de balanço perto da lareira, que deveria estar acesa, mas, pelo que via, não queimava há muito tempo. A minha curiosidade foi ainda mais atiçada e continuei. Notei uma pequena porta nos fundos. Quando a abri, soltei um grito de pavor.
Era um quarto pequeno, com uma cama e uma janela que há muito tempo não era aberta. Deitado naquela cama, havia um homem magro. Os seus cabelos estavam longos e embaraçados, e ele aparentava não ser cuidado há muito tempo. A sua barba também estava longa, e a sua fisionomia era fantasmagórica. A sua pele estava grudada aos ossos, mas, ao que tudo indicava, ele ainda estava vivo.
Quando me aproximei, ele abriu os olhos lentamente. O olhar daquele homem era terrível. Não transmitia dor pela sua situação, mas ainda havia uma força inexplicável nos seus olhos. Senti medo. Nunca tive medo de desbravar ou de sair sozinha, mas, naquele momento, tive medo do olhar daquele homem. O seu olhar parecia desnudar a minha alma, indo até o mais profundo do meu coração. Lentamente, aproximei-me dele. Ele continuava a me olhar fixamente. A sua respiração era difícil, mas ele não demonstrava medo de mim. Pela sua expressão, parecia descontente com a minha presença ali, o que eu não duvidava. Afinal, eu estava invadindo o seu recinto de descanso. Apesar da sua situação deplorável, ele não parecia feliz com a minha presença, nem mesmo para ajudá-lo.
— Não se preocupe — digo, olhando nos seus olhos. — Eu vou te ajudar.
Um sorriso, ou a tentativa de um sorriso, curva os seus lábios ressequidos. A sua pele, até então murcha e grudada aos ossos, adquiriu um aspecto estranho enquanto ele tentava sorrir para mim. Não entendi o motivo do seu sorriso e o olhei com curiosidade.
Deixando a porta aberta, fui até a cozinha. Acendi o fogão, que há muito tempo não via a chama crepitante do fogo. Com muita dificuldade, mas com uma vontade maior de salvá-lo, comecei a procurar entre as ervas algo que pudesse ajudá-lo.
Pela sua aparência, ele não demonstrava querer ajuda, mas eu considerava aquilo o preço pela minha invasão. Ele claramente não desejava companhia. Afinal, estava isolado em um canto onde ninguém passava. Mas, mesmo assim, ali estava eu, uma estranha que entrou sem ser convidada. O mínimo que eu poderia fazer era ajudar com a sua doença, mesmo que ele não desejasse.
Havia algo curioso no seu olhar: não demonstrava medo, mas desprezo. A minha presença era indesejada. Mesmo assim, ali estava eu, teimando com a minha sorte numa cabana no meio da floresta com um homem desconhecido, que, de certa forma, me dava tranquilidade.
Sem saber qual era sua doença, a primeira ideia que me veio à mente foi preparar um tônico para fortalecer o seu corpo, algo como uma vitamina que pudesse ajudá-lo a se recuperar ao menos para falar, assim poderia entender o que ele tinha e tratar a sua doença.
Quando terminei de preparar a vitamina, fui até o quarto e, com uma pequena colher, comecei a dar o remédio a ele. Ele apenas me observava com os mesmos olhos de antes.
— Lamento invadir a sua casa — digo, enquanto lhe dava o remédio. — Fiquei curiosa com o lugar, mas foi algo bom. Assim, posso ajudá-lo a melhorar.
Enquanto eu conversava, ele permanecia em silêncio. A princípio, acreditei que fosse por causa de sua fraqueza. Contei um pouco sobre a minha vida e quem eu era. Em nenhum momento ele demonstrou surpresa ou interesse. Quando terminei de lhe dar o remédio, voltei à cozinha. Peguei uma tigela com água morna e voltei ao quarto. Com um pequeno trapo que encontrei em um canto, limpei o seu rosto o máximo que consegui.
— Será que posso cortar os seus cabelos? Estão um pouco embaraçados. Seria melhor para você. — Novamente, ele me encarou com os mesmos olhos.
— Que tal assim? Vou pegar a sua mão. Se eu puder cortar o seu cabelo, você aperta levemente a minha mão. — Peguei a sua mão, que aparentava descuido. A pele estava grudada nos ossos. Não era uma visão agradável e eu nem sabia se ele teria força para apertar a minha mão. Mas mesmo assim, fiz o teste.
Senti um movimento mínimo de força que ele fez na minha mão. Era tão fraco que m*l dava para perceber, mas entendi que ele estava me dando permissão para cortar os seus cabelos. Cortei os seus cabelos com o maior cuidado. Afinal, ele estava muito frágil. Aproveitei para aparar a sua barba.
— Vou até a floresta encontrar alguns cogumelos para preparar algo para você — digo e me retiro.
Não entendia por que estava ajudando, mas algo na sua aparência doente fazia-me sentir m*l e despertava em mim o desejo de ajudá-lo. Voltei uma hora depois com alguns cogumelos. Para minha sorte, consegui abater uma pomba com o meu arco. Assim, preparei algo para ele comer. Fiz um caldo simples e voltei ao quarto para alimentá-lo.
— Amanhã, trarei algo melhor para você. Então, não se preocupe. — Para minha surpresa, ele comeu tudo. Antes de partir, coloquei mais lenha no fogo e deixei a porta do quarto aberta para que ele se aquecesse.