Capítulo 3

1264 Words
Chego e me posiciono com os outros, esperando o general Rock. Não demora e avisto-o chegando, para o meu desespero, acompanhado do príncipe Lien. O meu dia não poderia estar pior. Já não queria pensar nele, agora tenho que vê-lo. Fantástico. — Soldados, hoje teremos no nosso treino a presença do príncipe Lien, herdeiro do Reino do Sul. Hoje, ele treinará connosco. Espero que possamos aproveitar as suas preciosas dicas de treino — diz o general, sinalizando para que o príncipe continuasse. — Vamos começar formando duplas, e cada dupla irá batalhar num círculo. Será uma luta sem armas, para vermos se têm preparação para um combate corpo a corpo. O melhor de hoje lutará contra o meu melhor soldado — diz ele, sério, com as mãos nas costas, o que fazia com que os seus músculos se destacassem. Eu tinha que admitir, o príncipe Lien era um homem lindo e com um físico impressionante. O seu modo de andar e falar era muito másculo, e a sua voz tinha um magnetismo que deixava qualquer um fascinado. Eu estava gamada nele? Não sei! Acho que não. Com certeza, não. Volto a minha atenção para as pessoas à minha frente. Preciso concentrar-me para não cometer nenhum erro. Observo o general Rock aproximando-se de mim. — Vai embora — diz ele, sério. — Não — respondo, cruzando os braços. — Não vou permitir que participe. É muito perigoso, e se o príncipe descobrir quem você é, teremos problemas — diz ele, olhando-me fixamente. — Não vou a lado nenhum, até parece que nunca fiz isto — respondo, séria. — Custa me ouvir uma única vez? — diz ele, desesperado. Já tivemos essa discussão várias vezes, então não era novidade ele colocar-me contra a parede, mas, como das outras vezes, a minha teimosia sempre ganhava. Infelizmente, quando ia responder, somos surpreendidos por uma presença imponente. Estávamos tão concentrados a discutir que nem percebemos a chegada do príncipe. — Algum problema, general Rock? — diz ele, encarando-nos. Por um momento, pensei que tivesse ouvido a nossa conversa. — Não, príncipe. Estava apenas dispensando este soldado do treino de hoje — diz o general com a voz um pouco mais suave. Eu encaro-o, contrariada, com os olhos cerrados. — Acredito que, se ele está no grupo especial, tem condições de participar no treino de hoje. O único motivo para dispensá-lo seria se ele fosse uma mulher, mas sei que não aceita mulheres no seu exército, certo? Quando ele termina de falar, gelo no momento. Por uma fração de segundo, achei que ele me tinha reconhecido, mas seria impossível, afinal, ele só me tinha visto uma vez. O general Rock ficou pálido, mas respondeu rapidamente: — Imagina, príncipe. Este rapaz é um soldado valoroso entre os outros. Apenas zelava pela sua integridade — respondeu o general, colocando as mãos nos meus ombros. Sei que ele queria matar-me por fazê-lo passar por isso. — Se não o deixar treinar, quando ele for morto em batalha, não haverá integridade para proteger — disse o príncipe, sério, encarando-nos. Não dava para argumentar contra isto. Quis rir na hora, mas contive-me. — Está bem, príncipe Lien — disse o general, derrotado. — Que seja feito conforme a sua vontade. Hoje, sua alteza é o professor deles. O príncipe apenas assentiu e voltou a sua atenção para mim. — Como ficou por último, vai lutar com um dos meus soldados. Acredito que não será um problema, certo? — perguntou ele, dirigindo-se a mim. Para não correr o risco de ele desconfiar de mim, apenas assenti. Apesar de ele nunca ter ouvido a minha voz, não queria correr esse risco. Vi-o fazer um sinal, e um soldado apareceu. — Em que posso ser útil, vossa alteza? — pergunta o soldado, fazendo uma reverência. — Vai ser a dupla deste soldado — diz ele, apontando para mim. — Acredito que não precisa pegar leve com ele, já que está num grupo especial. — Será como ordenar, alteza — responde o soldado com um sorriso de canto. Acredito que ele acha que sou fraco pela minha estatura e constituição física, mas irei fazê-lo arrepender-se. Pude perceber que o general Rock não gostou nada. Dava para ver o seu descontentamento, mas eu queria provar que ele me treinou bem. Ele deveria ter um pouco mais de confiança em mim. As lutas iniciaram-se rapidamente, e isso fez com que a minha adrenalina aumentasse enquanto aguardava a minha vez. Aqueles que perdiam a luta iam para outra área, praticar com um soldado do príncipe. Os que ganhavam ficavam em linha reta, esperando a primeira rodada terminar. A minha única vantagem é que conhecia os movimentos de cada soldado deste grupo; a desvantagem é que não iria lutar a primeira rodada com eles. Observei enquanto a penúltima luta terminava e o príncipe sinalizava para que nos posicionássemos. Entrei no círculo e esperei o comando do príncipe. As regras eram simples: quem saísse do círculo ou ficasse inconsciente primeiro, perdia. Vi o príncipe acenar para começarmos. Rapidamente, o soldado tentou acertar-me com um soco, mas desviei e chutei o seu joelho, fazendo-o cair dentro do círculo. Esperei que se levantasse e ele voltou a atacar-me, primeiro tentando chutar as minhas costelas, o que desviei, e depois prendendo-me num mata-leão. Rapidamente pisei no seu pé e dei-lhe uma cabeçada, fazendo-o soltar-me. Virei-me e dei-lhe um chute no peito, fazendo com que ele caísse desmaiado fora do círculo. Quando me virei, vi o olhar de alívio do general Rock, enquanto o príncipe me observava, intrigado. Não dava para pegar leve numa luta assim. Era tudo ou nada, e como eu tinha pouca força, precisava ser certeira nos meus movimentos. As lutas continuaram, e os vencedores lutavam entre si para ver quem se sairia melhor. Já tinha participado de quatro rodadas, estava suada e sem fôlego, mas tinha valido a pena. Ver os olhos de surpresa do príncipe não tinha preço. Todos pensaram que eu seria uma presa fácil, mas arrependeram-se no final. Faltava apenas uma luta para iniciar a penúltima rodada. Todos estavam exaustos. Finalmente, terminou a última luta e agora eu lutaria com o soldado vencedor. Não vou negar, estava exausta, mas já tinha chegado até aqui, não me renderia facilmente. O príncipe fez sinal para que entrássemos no círculo. Assim que estávamos em posição, ele sinalizou para iniciarmos o combate. Fui com tudo para cima do meu oponente, saltei e acertei um soco um pouco abaixo do seu pescoço, fazendo com que ele caísse desmaiado na hora. Fiquei parada, tentando recuperar o fôlego. Estava acabada de tão cansada, mas o general Rock fez um belo trabalho com o meu treino. Se eu não tivesse treinado duro, não teria chegado até aqui. Saí dos meus pensamentos estranhando o silêncio à minha volta. Olhei para o general Rock e ele tinha um meio sorriso orgulhoso na minha direção. Virei-me para encarar o olhar que mais temia, aquele que eu sentia a queimar nas minhas costas. Virei-me e encontrei o olhar do príncipe. Não sei dizer o que vi, se foi surpresa ou choque. O seu rosto não deixava transparecer nada. Não sabia o que ele estava pensando, e isso deixava-me inquieta. Oh céus! Não posso deixar que ele descubra a minha identidade, ou estarei em apuros. Saí dos meus devaneios com a chegada do mensageiro do castelo. — Príncipe Lien, sua majestade, o rei Elrick, deseja vê-lo neste momento — diz o mensageiro, fazendo uma reverência. — Diga ao rei que estou a caminho — disse o príncipe, desviando finalmente o seu olhar do meu.
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