Capítulo 4

1503 Words
Não sei dizer se foi um alívio, mas seus olhos tinham algo que mexia comigo. Rapidamente, o príncipe sinaliza para os seus soldados, troca algumas palavras com o general Rock e sai acompanhado do mensageiro. Vejo o general caminhar rapidamente na minha direção. — Dê o fora agora — diz ele, sério. — Pode admitir, Rock, eu fiz um bom trabalho — digo sorrindo. — Você nunca pensa nas consequências, não é mesmo? — diz, balançando a cabeça e passando as mãos pelos cabelos. — Você sabe muito bem que não é isso — digo, olhando fixamente nos seus olhos. — Vou ser dada em casamento, tudo na minha vida gira em torno do reino. O máximo que posso fazer para me proteger é lutar. — Fico com raiva ao pensar nisso. Não saber com que tipo de pessoa vou lidar me assusta, e não quero passar pelo que tantas princesas passam, casando-se com maridos abusivos, que, em vez de amá-las, fazem de tudo para destruí-las de todas as formas possíveis. — Olha, sei que não é fácil — diz o general, colocando as mãos nos meus ombros. — Mas confio em você. Sei que está com medo, mas nada lhe acontecerá. O rei nunca te arrumaria alguém em quem ele não confiasse. Você é o bem mais precioso dele. As suas palavras me comovem. Só não lhe dou um abraço porque ficaria estranho um soldado abraçar o general. — Mas não se esqueça: se ele aprontar qualquer coisa, me avise, porque, quando ele perceber, o exército estará na porta dele. Você é como uma filha para mim, e, enquanto este velho general estiver vivo, sempre vou proteger você. As suas palavras me comovem. Rock era maravilhoso e muito leal. — Obrigada, Rock. Também gosto muito de você — digo com os olhos turvos pelas lágrimas que não derramei. — Agora vá, senão o rei vai sentir a sua falta. — Claro, até mais — digo já correndo em direção à floresta. Era raro ter essas conversas com Rock. Ele era como um pai para mim, um amigo querido. A sua história não era fácil. Ele perdeu os pais muito jovem e teve que viver nas ruas, roubando para sobreviver, até que foi pego e tiveram misericórdia dele. Então, o treinaram e deram a ele uma razão para viver, e ele se tornou o melhor no seu grupo. Ele foi crescendo aos poucos na hierarquia, lutou incontáveis guerras até chegar ao posto de general. Hoje, ele faz um ótimo trabalho com os soldados. Apesar do seu jeito duro, ele tem um grande coração. Corro rapidamente até Relâmpago, troco de roupas ali mesmo, monto e disparo em direção ao castelo. Deixo os meus pensamentos vagarem enquanto galopo em direção ao castelo. O meu mundo está literalmente virando de cabeça para baixo. É horrível a sensação de não ter controle sobre a própria vida, mas não devo desanimar. Tenho que ser forte pelo meu povo, que depende desta aliança. Vou cumprir com as minhas obrigações, mesmo que sofra os piores martírios. Perdida em meus pensamentos, chego rapidamente ao castelo. Vou direto para os estábulos, desmonto e deixo Relâmpago com um dos serviçais. Entro devagar pela cozinha. — Pelo que vejo, alguém está atrasada de novo — diz Nana, sorrindo. — Você não vai me dedurar, né, Nana? — digo, fazendo bico. — Claro que não, menina — diz ela, sorrindo. — Você não cansa de mimar esta menina, Nana. Uma hora vocês vão ter problemas — diz Berto, de longe. — Não seja chato, Berto — digo, indo até ele e lhe dando um abraço. — Também te amo. Você e Nana são meus amores. — Viu, velho ciumento? — diz Nana, cruzando os braços e provocando uma carranca em Berto. Berto era um funcionário antigo no castelo e era como um avô para mim. — Amo vocês, mas tenho que ir antes que papai me mate — digo, saindo. — Vai lá, que vamos atrasar uns minutinhos para lhe dar tempo — diz Nana, fazendo sinal para que eu me apressasse. Apenas virei e mandei um beijo para eles e segui o meu caminho. Mas, como estava com pressa, não percebi para onde estava indo, até esbarrar numa muralha. Mas muralhas não têm braços fortes que te envolvem. Naquele momento, um frio subiu pela minha espinha, e eu fiquei com medo de olhar para cima e encarar o olhar que tanto temia. Devagar, fui levantando os olhos, passando primeiro pelo peito musculoso contra o qual eu estava pressionada. Pude ver um queixo bem esculpido e lábios perfeitos, e, finalmente, os meus olhos encontraram os dele. Um par de olhos castanhos me encarava com curiosidade. Ele tinha um cheiro tão bom. — Você está bem? — perguntou o príncipe, com uma voz baixa que, de certa forma, me arrepiou por completo. Não entendo o poder que a sua voz tem sobre mim. — Princesa? — perguntou, preocupado, e então saí do meu torpor. — Desculpe, príncipe — digo, saindo dos seus braços. — Estava distraída, não percebi que estava aqui. — Minha cara quase caiu de tanta vergonha. Só eu para fazer uma cena dessas. — Está tudo bem, não se preocupe — disse ele com um meio sorriso. E que sorriso. Apenas acenei e segui em frente. Meu Deus, como era boa a sensação de estar nos braços dele. Acho que estou pirando, só pode! Ignorei os meus pensamentos e segui rapidamente para o meu quarto. Tomei um banho rápido, coloquei um vestido vermelho com fios de ouro bordados — era lindo —, calcei uma sapatilha confortável, fiz um coque frouxo e estava pronta. Não coloquei joias, afinal, menos é mais, e nunca gostei de andar muito enfeitada. Prefiro ser mais discreta e apenas realçar a minha beleza natural. Ouço uma batida na porta e vejo a minha mãe entrar. — Oi, querida, vim ver se está pronta — diz ela, posicionando-se atrás de mim, na penteadeira. — Está linda. — Obrigada, mamãe. A senhora também está muito linda. — Obrigada, querida. Vamos descer? — pergunta ela. Apenas aceno com a cabeça, levanto-me, pego na sua mão e descemos rumo à sala de jantar. A nossa família sempre gostou de fazer as refeições juntas, e eu amava. Era uma forma de conversarmos e dividirmos os acontecimentos do dia. Quando entramos, papai e o príncipe se levantam e esperam que nos sentemos. A mesa estava linda. Nana caprichou: arroz, salada e um carneiro assado que estava com um cheiro maravilhoso. — Bem, vamos nos servir — disse o meu pai, sorrindo. Nós nos servimos calmamente. Diferente de outros reinos, onde os serviçais trazem a comida, aqui, papai gostava de servir ele mesmo. Ele dizia que, assim, se você não gostasse de algo, não colocaria no prato. — Diga-me, príncipe, o seu general não quis juntar-se a nós? — perguntou o meu pai, e agora que ele mencionou, lembrei que havia uma comitiva acompanhando o príncipe. — Rolf é um homem simples, majestade. Ele prefere juntar-se aos outros soldados — disse o príncipe. — Claro, o importante é que ele esteja confortável — disse o meu pai. — E como foi com os soldados? — Foi muito interessante. — disse o príncipe, desviando o olhar para mim, o que não passou despercebido ao meu pai. — É mesmo? Como? — perguntou meu pai, parando de comer e encarando-o. — Pude perceber que o senhor tem um exército muito bem treinado e organizado, mas um soldado chamou muito a minha atenção. — disse ele, sério. — Mesmo? Qual deles? — Desculpe, majestade, mas não sei o seu nome. Tudo o que posso dizer é que ele luta muito bem e parece muito disciplinado. Parecia que cada palavra do príncipe era direcionada a mim, pela maneira como ele me olhava, mas era impossível. Eu treino há anos e nem mesmo os soldados nunca desconfiaram. Só pode ser coisa da minha cabeça. — Que pena, mas o general Rock realmente é ótimo com eles, além de ser um amigo querido — disse o meu pai. O resto do jantar decorreu tranquilamente, sem nenhum incidente. Quando fui me levantar para me retirar, papai me deteve. — Querida, por que não mostra o jardim ao nosso convidado? Aposto que ele vai gostar de ver, já que foi você que o planejou. — disse o meu pai, sorrindo. Mas eu conhecia aquele velho astuto e sabia o que ele estava a planejar. Infelizmente, não podia recusar. Afinal, o príncipe era nosso convidado. — É uma ótima ideia, querido — disse a minha mãe, sorrindo. — Papai, acho que o príncipe não se interessaria por flores — digo, sorrindo. Sabia que não havia como fugir, mas não deixaria de tentar. — Imagine, será uma honra conhecê-lo, afinal, sempre ajudei a minha mãe com as plantas — respondeu o príncipe, com um sorriso de canto. Ele havia percebido o meu truque, corei só de imaginar. _ Ótimo! Então vamos? - perguntei a ele.
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