Capítulo 47

1063 Words
— Não se preocupe, pai, não vou fazer besteira. Só estou fazendo isso por precaução. — Você tem uns gostos estranhos, minha filha. — Posso ver um sorriso se formar nos seus lábios. Ele vem até mim, me dá um beijo e se retira. Pelo menos ali, naquele lugar, eu me sentia útil. Trabalhar com plantas me dava a oportunidade de fazer novas descobertas, como criar um remédio. Havia tantas possibilidades! Termino a minha pesquisa e desço para a cozinha. — Oi, Nana, o que você está fazendo de bom? — Oi, menina. Estou preparando o jantar. E você, por que está com essa carinha desanimada? — Não era preciso dizer muito; Nana me conhecia. Mas, ainda assim, parte de mim só queria guardar aquele sentimento para mim mesma. — Saudades, Nana. — Ela vem até mim e me dá um abraço apertado. — Daqui a alguns dias, você já vai ser uma senhora casada. Então vai poder matar toda essa saudade — diz ela, dando uma piscadinha para mim. Já sabia a que ela se referia. Nana era malandra demais para minha personalidade. Podia sentir as minhas bochechas corarem violentamente. — Nana! Você está igual à Sofia. — Ela sorri, gargalhando. — Vai ver que é porque pensamos igual. — Não respondo, apenas saio de lá balançando a cabeça. Saio do castelo e vou para o jardim, que agora estava iluminado e cheio de soldados. Apesar de não termos muitas ameaças, papai mantinha os guardas. Vou para o meu banco de sempre e me sento. Após algum tempo, Solomon aparece e se senta ao meu lado. — Aproveitando a vista? — Algo assim. E você? Não deveria estar com a Sofia? — Estou de guarda hoje. E também precisava ver como você está sobrevivendo sem o amor da sua vida. — Era cômico o jeito como os seus cílios batiam. Não resisti e acabei rindo da sua expressão. — Você nunca aprende, Solomon. Devia estar aproveitando esse tempo para cortejar a Sofia, não para ficar falando sobre Lien e eu. — Infelizmente, a Sofia está brava comigo. Acho que pisei na bola desta vez. Prefiro ficar longe dela uns dias. Só assim consigo salvar a minha pele daquela mulher furiosa. — Dou um tapa no ombro de Solomon, e a minha expressão demonstra o quanto acho que ele está sendo infantil. Ele precisava de mais maturidade para lidar com Sofia; caso contrário, acabaria sem a cabeça antes mesmo de conseguir casar com ela. — O que você fez desta vez? — Ele coçava a cabeça e evitava o meu olhar. Sabia que não seria fácil ajudá-lo dessa vez. — Ela estava testando umas receitas novas lá na cozinha do campo de treino. Eu experimentei dois bolinhos e, para mim, eram iguais. Ela não gostou e me expulsou da cozinha. Agora não sei o que faço para que ela me perdoe. — Realmente, você pisou na bola. Ela é cozinheira; o mínimo que queria ouvir é que ambos estavam maravilhosos, e não que eram a mesma coisa. — Me ajuda, vai. Só desta vez. Prometo que não te encho o saco por uma semana — diz ele, segurando o meu braço e puxando a manga do meu vestido com olhos inocentes. — Uma semana é pouco por tudo que você já me fez passar. — Um sorriso curva os meus lábios ao ter uma ideia de como ele poderia me recompensar. — Está bem! O que você quer? Prometo que desta vez te ajudo sem questionar. — Me leve na sua próxima missão. Estou entediada de ficar aqui. Preciso de um pouco mais de emoção; vou enlouquecer! — Ele me olha como se eu realmente tivesse enlouquecido desta vez. Então me lembro de que, provavelmente, o meu pai não permitiria que eu saísse neste momento. Afinal, segundo ele, ainda existiam muitos perigos e ameaças. — Lamento, mas não vai dar. Ele jamais permitirá isso. — Eu sou mais forte do que você. O que poderia ser tão perigoso para mim? — Acho que você se esqueceu do fato de que, até tempos atrás, estava numa cama por ter levado um golpe profundo na barriga. E você ainda acredita que é mais forte do que eu? Lamento, maninha, mas é melhor você ficar. — Parece que você se esqueceu de que foi graças a esse golpe que o seu traseiro foi salvo. — Também não precisa jogar na cara, né? Sou muito grato por isso. — Não vejo você demonstrando essa gratidão. Só quero te acompanhar na próxima viagem. — Alguém já te disse que você está parecendo uma criança fazendo birra por um doce? — Você é muito sem graça! — Não, apenas realista. Se eu fosse você, me conformava. — Chato! Ele faz uma careta para mim, vira as costas e vai embora. Eu sabia que ele estava certo, mas, de certa forma, só queria sair um pouco. Explorar seria bom. Ou talvez eu estivesse apenas sendo teimosa e pensando em mim mesma, sem levar em consideração os sentimentos daqueles ao meu redor. Meu pai e, provavelmente, Lien se preocupariam caso eu saísse do castelo. Com esses pensamentos, entro novamente, subo as escadas e vou para o meu quarto. As últimas lembranças da presença de Lien ainda estavam ali, dos momentos que compartilhamos. Mas sei que, em breve, ele estaria aqui novamente, e poderíamos desfrutar de outros momentos juntos. Pensando nisso, deito-me e adormeço, tendo uma noite tranquila de sono. Acordo animada. Já sei o que faria hoje. Arrumo-me, desço as escadas e encontro os meus pais tomando café. — Bom dia! — Bom dia, querida. Você parece bem melhor hoje. Teve uma boa noite de sono? — Sim, tive uma boa noite de sono, papai. Obrigada. — Espero que não tenha marcado nada para mais tarde, Kiara. Afinal, a costureira real virá para tirar as suas medidas. Precisamos começar a fazer o seu vestido de noiva, e garanto, minha filha, que ele será o mais lindo que este reino já viu. — Seus olhos brilhavam enquanto falava. Eu podia ver a grande emoção emanando dela com a preparação do casamento, e isso era muito gratificante. — Claro! Podemos fazer isso agora de manhã. À tarde, preciso fazer algo. — E o que seria? — Papai sabia que eu aprontaria algo, mas não disse nada por enquanto. Eu lhe faria uma surpresa.
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