P.V. Princesa Kiara
Após o café da manhã, a costureira real chegou e fomos para o meu quarto tirar as medidas do vestido. Realmente, elas se superaram nas ideias. O vestido que tinham em mente era simplesmente maravilhoso: um corpete justo ao corpo, com mangas curtas bordadas com lindas e pequeninas flores. A saia era longa, com uma linda cauda atrás. Realmente maravilhoso! Acredito que Lien ficaria impressionado quando me visse. Um véu curto estava sobre a minha cabeça, acompanhado de uma linda coroa.
Até então, não havia pensado em como seria meu vestido de noiva, mas amei o que elas desenharam. Queria que Lien me visse como a mulher mais bonita naquele dia e admirasse como eu estaria. Queria estar perfeita para ele, assim como tinha certeza de que ele estaria perfeito para mim.
Após algumas discussões, elas terminaram de desenhar o vestido e tirar as minhas medidas. Pronto, agora eu estava livre pelo resto do dia. Vou em direção à biblioteca procurando o meu pai. Gostaria de sair um pouco e sabia que a missão que Solomon tinha seria perfeita para isso.
— Olá, papai. Gostaria de te pedir algo. — Ele me olha com olhos desconfiados e, pela expressão que faz, sabia que ele não gostaria do que eu iria pedir. Mas fazer o quê? Eu precisava sair um pouco, precisava gastar energia e ocupar a cabeça com algo que me fizesse sentir bem.
— Pela sua cara, sei que não vou gostar do que vai dizer, Kiara. Mas vamos ser sensatos. Você sabe de todo o risco que temos corrido ultimamente e também sabe que, infelizmente, não conseguimos pegar o responsável ainda. Então, seja lá o que estiver planejando, pense bem antes de me pedir. — Realmente, papai me conhecia muito bem. Ele sabia que eu iria pedir algo que o deixaria incomodado, mas, mesmo assim, eu não desistiria da minha ideia.
— Papai, deixa eu ir com Solomon na próxima missão? Sei que o senhor está muito preocupado e com razão, mas prometo que vou me comportar dessa vez. Posso ir disfarçada junto com os outros guardas. Ninguém saberá que estou lá.
— Não é uma boa ideia, Kiara. Você tem corrido muitos riscos ultimamente. Seria bom se ficasse apenas no castelo.
— Por favor, só desta vez. — Apesar do bico que fiz e de olhar para ele implorando com as mãos juntas, o seu semblante me disse que eu não conseguiria convencê-lo desta vez.
— Filha, você tem noção do quanto me preocupei com você no seu último acidente? Tem noção de como me culpei por ter deixado você ir naquela viagem até o reino do rei Alexandre?
Infelizmente, não podia culpá-lo desta vez. Sei que ele se preocupou muito e, como um pai amoroso que sempre foi, ele sempre tentaria me proteger de qualquer jeito.
— Sei que você se preocupou, papai, e lamento por toda a preocupação e dor que causei.
— Entenda, Kiara: soldados eu tenho muitos, mas filha, só tenho você. Não posso arriscar te perder novamente.
Assim como fazia quando criança, vou até ele, me sento no seu colo e o abraço. Era o melhor lugar do mundo para se estar. Ele passa a mão sobre os meus ombros, acariciando levemente, e me segura forte contra o peito.
— Você nunca me perderá, papai. Eu sempre estarei com você.
Ele me embala mais um pouco nos seus braços. Conformada, levanto-me, dou um beijo na sua testa e saio. Sabia que não adiantaria insistir mais. Ele jamais permitiria que eu deixasse o castelo neste momento.
Resolvi, então, ir atrás de Elisa. Fazia dias que eu não a via. Ela estava muito reclusa ultimamente, e isso me preocupava. Acredito que a morte do seu irmão a abalou bem mais do que ela demonstrava. A encontro na cozinha, ajudando Nana. Dava para ver pelo seu semblante que ela não estava muito feliz.
— Olá, Elisa. Como você está ultimamente? Faz dias que não a vejo. — Ela me olha com os olhos baixos e responde:
— Obrigada por sua preocupação, Alteza, mas não precisa se preocupar comigo. Eu estou bem. Acredito que, com o tempo, essa dor que sinto no peito diminuirá.
— Realmente, lamento muito pelo que aconteceu. Não queria que as coisas tivessem terminado desta forma.
— Eu também, Alteza. Gostaria que o meu irmão estivesse aqui agora, segurando a minha mão e me guiando como sempre fez. Mas, infelizmente, isso não é mais possível. Só me resta conformar-me com meu destino.
— Não se preocupe, Elisa. Cuidaremos bem de você.
— Obrigada, Alteza. Realmente, sou muito grata por tudo que vocês têm feito por mim.
Elisa já não era mais a mesma de antes. Não havia mais aquele traço singelo de alegria no seu rosto. Agora só havia amargura e dor. Até as suas respostas não eram mais como antes: estavam ocas, desprovidas de qualquer sentimento. Ela havia mudado, e não era para algo bom.
Saio da cozinha e vou procurar Solomon. Precisava tirar uma dúvida com ele. O encontro no pátio, distribuindo ordens a alguns soldados. Chamo-o para conversar comigo.
— Diga, Kiara. Do que precisa hoje? Aproveite que estou de bom humor. — Pelo sorriso que cobria o seu rosto, apostava que ele tinha conseguido fazer as pazes com Sofia.
— Sofia te perdoou, foi? Para você estar de tão bom humor hoje? — Ele sorri e vem na minha direção, sentando-se ao meu lado no banco do pátio.
— Você ainda dúvida das minhas habilidades românticas? Eu sou o cara, Kiara. Consegui fazer com que Sofia me perdoasse.
Tomara que, desta vez, ele tivesse feito algo bom. Solomon era um amigo maravilhoso, mas, quando se tratava de romance, ele era um fracasso completo.
— Com certeza eu duvido. Você vive implicando com Sofia. O que você fez para que ela te perdoasse novamente?
— Resolvi fazer o café da manhã. Foi assim que a conquistei de novo.
Realmente, esperava que ele dissesse qualquer coisa, menos que sabia cozinhar. Sério? Solomon, cozinheiro? Era realmente inacreditável.