Já faz alguns dias que estou ao lado de Patrick, e o tempo parece ter passado de maneira diferente. O machucado no pé dele está melhorando a cada dia, permitindo que caminhemos mais longe e, finalmente, sigamos em frente sem a preocupação de ele se ferir ainda mais.
No entanto, ainda evitamos longas caminhadas; sei que ele precisa de descanso. Então, toda noite tiro um tempo para garantir que ele descanse o suficiente antes de seguirmos viagem no dia seguinte. É estranho, mas, de algum modo, esses momentos de pausa nos aproximaram, como se o silêncio entre nós fosse um idioma próprio, carregado de compreensão. O garoto perdido e a mulher em busca da sua família, nada em comum, mas dois solitários juntos era melhor do que ser solitário sozinho.
Às vezes, me sinto estranha com essa nova dinâmica. Já estive com algumas pessoas antes, mas nunca havia me envolvido tanto assim. Agora, ao lado de Patrick, a responsabilidade de cuidar dele me trouxe um sentimento diferente. Me preocupo se ele está bem, se comeu o suficiente, se está confortável. É curioso como isso se destaca, mesmo ele não sendo da minha família.
Dormir pensando que há alguém ao meu lado, alguém que estará ali novamente na manhã seguinte, é um conforto que eu não havia experimentado depois do fim do mundo, e que antes disso eu não dei valor algum. Em alguns momentos me sinto culpada. Será que não estou cuidando desse garoto só porque queria que ele fosse o Carl? Mas, de qualquer forma, cuidarei dele da mesma maneira que gostaria que cuidassem do meu sobrinho.
O sol já queimava nossas costas quando decidi que deveríamos parar por um tempo para comer, debaixo de uma boa sombra. Dividimos uma lata de feijão vencida, o sabor não era o melhor, mas estava tudo bem. Era o que tínhamos. Assim que terminamos, voltamos a caminhar, optando por sair da beira da estrada e adentrar ainda mais a floresta para que estivéssemos protegidos do sol pelas sombras que as árvores projetavam.
Mas, mais à frente, algo nos fez parar. Um morto. Ele estava à vista, vagando lentamente. No início eu sentia pena dessas coisas, mas agora eu só tenho raiva de como a fome deles nunca acaba. E por muitas vezes, sinto indiferença. Fazia muito tempo que eu não sentia medo, mas talvez agora...
Olhei de canto para Patrick e engoli em seco. O garota estava claramente em pânico. Sua mão veio até a minha em um aperto cheio de pavor.
— Vamos correr. — Quando ele estava prestes a fazer isso, aproveitei que sua mão já estava na minha para segurá-lo no lugar. Seu olhar pingando terror atrás da lente dos óculos me fez franzir a sobrancelha. Patrick havia dito que nunca tinha enfrentado morto, talvez era a hora dele aprender.
Soltei sua mão para retirar a faca de caça do meu cinto e entreguei na sua mão, só parar ver seus olhos se abrirem ainda mais.
— Você vai fazer isso!
— Nunca. Eu não posso fazer isso. — Gaguejou, seu medo transparecendo enquanto tentava me devolver a faca, que não aceitei. — Por favor, eu não quero fazer isso.
— Você pode, Patrick! Preste atenção. Inspire fundo e foque nos seus próximos passos. Você precisa acertar a cabeça. A cabeça, entendeu? — O garoto acentiu várias vezes, assim como inspirou fundo. Puxei uma flecha da minha aljava e preparei meu arco. — Fique tranquilo, qualquer coisa estarei aqui. Eu vou estar aqui, Patrick.
Garanti tentando transmitir a confiança que sentia.
Percebi que suas mãos ainda tremiam um pouco, mas ele segurou ainda mais firme na faca e continuou. O menino tinha garra e isso me arrancoubum sorriso.
— Vamos. — Sussurrei quando ele começou a se mover em direção ao morto.
Seu ataque foi hesitante e apesar de perceber que Patrick deu o seu melhor, ele não apontou a faca para o lugar certo, e a mesma ainda ficou presa. O morto se virou alarmado e avançou para o menino, a boca aberta e cheia de dentes. A familiar adrenalina que eu tanto amava voltou a me pegar, meu corpo ficando dormente...
Em um movimento rápido, soltei a flecha que cortou o ar e atingiu a cabeça do morto com precisão. O corpo podre caiu no chão e eu respirei aliviada.
Petrick estava em choque. Seus mãos seguindo para a cabeça em pavor.
— Meu Deus, meu Deus! Eu quase morri!
Eu ri tentando quebrar a tensão.
— Você quase conseguiu.
Tinha um sorriso de alívio e orgulho estampado no meu rosto. Ele não tinha conseguido finalizar o morto, mas tentou, e esse era o primeiro passo para conseguir.
Me aproximei e o garoto abriu os braços com um sorriso enorme acreditando que eu o abraçaria, mas tudo o que fiz foi gargalhar da sua cara e bagunçar seu cabelo enorme com a mão livre. Me afastei do adolescente incrédulo para recuperar minha faca e flecha.
— Você não sabe dar abraços por acaso?
— Não em idiotas.
— Ey! — Escutei ele começar a correr atrás de mim e voltei a rir.
Notei que Patrick ainda estava pálido pelo que havíamos acabado de passar. Com gestos suaves, puxei a garrafinha do bolso lateral da mochila e apontei em sua direção.
— Beba, isso vai te ajudar. — Disse com a voz mais calma que eu poderia utilizar para tranquilizá-lo.
O garoto não negou, pegou a garrafa e bebeu alguns goles generosos da água quente. Depois de suspirar e voltar a me entregar a garrafa fechada, Patrick sorriu em minha direção para mostrar que estava bem.
Continuavamos caminhando um ao lado do outro, sem mais problemas. Mas aquele parecia ser um dia ótimo para agitar o tédio da nossa vida, porque logo o silêncio na floresta foi interrompido por um barulho que fez meu coração disparar.
Puxei Patrick pela jaqueta para se esconder atrás de uma grande árvore ali perto, ela tinha raízes expostas que criavam um abrigo natural.
— Fique aqui. — Sussurrei espiando por trás do tronco, o som se aproximava e eu estava pronta para agir, meu arco preparado. O que quer que fosse, não permitiria que Patrick se colocasse em perigo novamente. Uma vez no dia já tinha sido o suficiente.
O barulho estava mais perto, não eram passos arrastados como os de um morto, era uma pessoa viva. O que confirmou minha crença foi a visão da figura se movendo entre as sombras da floresta. Apertei meus olhos para o homem que se aproximava. Ele era alto, ombros largos, mas seu rosto estava fora da minha visão, já que o mesmo estudava o solo com uma atenção que, se a b***a em seus braços não tivesse deixado claro que se tratava de um caçador, seus trejeitos iriam.
Agradeci o fato dele estar vindo de uma direção diferente, então ainda não tinha visto nossas pegadas. Droga, o quê eu poderia fazer para nos tirar dali sem chamar sua atenção? Seria praticamente impossível.
Patrick alheio ao perigo, espiou por cima da raiz, e então olhou na minha direção com olhos arregalados.
— Olha pra ele, ele tá limpo! — A esperança transparecia em sua voz sussurrada.
Antes que eu pudesse impedí-lo, Patrick saiu correndo na direção do homem.
— O que você está fazendo? Volta aqui! — Guinchei o mais baixo que pude com o pânico me inundando, mas era tarde demais.
O corpo do caçador ficou rígido de repente, mesmo vestido com uma jaqueta de couro sem mangas, ficou nítido. Não demorou para que ele se virasse e logo estava apontando sua b***a para o garoto.
— Não, não! Não me mata! — Eu queria revirar os olhos até os mesmos sair do meu rosto. i****a! Ele se encontrava com as mãos para cima em sinal de rendição. Mas o homem de intensos olhos azuis apenas continuou o estudando com aquele ar de caçador paciente.
— Meu nome é Patrick. Eu só quero ajuda.
Fiquei parada com o coração na boca, observando a cena se desenrolar. O homem, de expressão cautelosa, examinava Patrick com olhos afiados, claramente surpreso com o jeito impulsivo do garoto.
— Você está sozinho? — A voz dele soou carregada de um sotaque sulista rouco, que deixou minha nuca arrepiada. Eu o observei melhor. Apesar da postura rígida e alerta, ele parecia exausto, as linhas de cansaço em seu rosto contrastando com a firmeza dos braços. Caramba, aqueles eram belos braços.
Balancei a cabeça mandando os pensamentos intrusos para longe.
— Não. Sou eu e minha amiga. — Bem, acho que eu já tinha licença o suficiente para acertar minha flecha na nuca daquele i****a. Os olhos do desconhecido se tornaram mais intensos, uma mistura de desconfiança e algo que eu não consegui decifrar.
Bem, não tinha mais o poder do ataque surpresa, então minha única opção era mostrar meu rostinho bonito.
— Eu não sou sua amiga. — Comentei saindo de trás daquele abrigo para caminhar lentamente até a dupla. Meus olhos não deixavam os azuis do caçador enquanto eu mantinha meu arco apontado em sua direção. Quando ele ajustou sua própria mira para mim, o movimento ágil e calculado deixou claro que ele sabia o que fazia.
— Você é minha amiga sim. — O adolescente pareceu sinceramente magoado.
— Não faço amizade com idiotas! — Rebati, sentindo o olhar do caçador fixo em mim, analisando cada movimento meu.
O rosto do dele não demonstrava nada, mas era impossível ignorar a intensidade em seu olhar revolto.
— Mas ele parece ter um acampamento. Podemos acompanhá-lo.
— Por que você não segue a fada do dente também?
— Chega. — O desconhecido rosnou com um tom grave e autoritário, e o som profundo da sua voz me fez estremecer de leve. Patrick havia me distraído, mas aquele estranho de fala arrastada me trouxe de volta ao momento. Era como se a voz dele cortasse o ar, impositiva e um tanto fascinante. — Vocês vão atrair todos os caminhantes da região pra cá.
Cocei a garganta incomodada com a sua chamada, mas não disse nada porque ele estava certo. O caçador trocou o peso de perna enquanto abaixava sua b***a. Que era muito linda por sinal.
— De qualquer forma, não queremos problemas. Vamos apenas nos despedir e seguir. Okay?
— Mas... — O garoto se calou assim que lhe fuminei com os olhos.
— Eu tenho um lugar. Posso levar vocês lá. Temos pessoas e grades. É seguro. — O caçador falou com a voz arrastada e um tom que misturava desinteresse e cansaço. Era como se aquelas palavras fossem ensaiadas, mas sua resistência me deixava intrigada. Ele parecia estar nos fazendo um favor por pura obrigação, e ainda assim… ali estava ele, parado, nos oferecendo ajuda. — Mas vocês têm que responder três perguntas.
— Manda! — Patrick quase saltitava. Eu não achava aquilo uma boa ideia.
— Patrick. — Tentei avisar, mas seu olhar suplicante encontrou o meu. Eu podia mesmo fazer aquilo? Quebrar sua esperança. Só tinha duas opções, deixava ele ir sozinho e seguia meu caminho, ou ia com ele só para garantir que realmente era um lugar seguro.
— Por favor, Mira.
Suspirei, deixando o olhar vagar pelo horizonte cheio de árvores, sentindo um peso crescer no peito. Fosse hoje ou dali a alguns anos, se o destino realmente quisesse que eu encontrasse minha família, uma breve parada não impediria. Ainda assim, a inquietação persistia, e a presença do caçador não ajudava. Patrick ainda não sabia sobre a minha família, então não entendia como era importante pra mim não ficar apenas em um lugar.
Quando voltei a encarar o caçador, o encontrei com sua atenção fixa em mim, estreitando os olhos como se estivesse tentando ler meus pensamentos. O desconforto era evidente, mas algo na maneira como ele me observava fazia um calor estranho se espalhar por mim. O homem de cabelo castanho claro era uns bons trinta centímetros mais alto, e a sombra que projetava sobre mim me deixava ainda mais consciente de cada detalhe seu, desde o jeito que os músculos dos braços se destacavam até a forma casual como segurava sua b***a, como se nada ali pudesse intimidá-lo.
Por mais que minha cautela gritasse para manter a distância, havia algo nele que me atraía, um tipo de força que eu raramente via em alguém. De qualquer forma, eu faria aquilo por Patrick.
— Tudo bem. Pode perguntar.
— Quantos caminhantes já mataram? — Já havia notado que ele se referia aos mortos como caminhantes.
— Eu, muitos. E ele até tentou, mas até agora, nenhum.
— Não precisava falar disso. — Segurei o sorriso divertido quando o adolescente me cutucou constrangido.
— Você quer que eu minta? — Fingi choque enquanto voltava minha flecha e arco para às minhas costas. Recebi um revirar de olhos do adolescente e acertei um peteleco na sua nuca. — Continua, caçador.
— Quantas pessoas já mataram?
Okay, essa me pegou. Não queria responder, não mesmo. Mas então olhei para o garoto ao meu lado.
— Droga, Patrick. — O menino tinha a pergunta o que eu fiz? por todo o seu rosto. — Nos juntanos há pouco tempo, então não sei quanto ao Petrick, mas eu matei cinco.
Sabia que aquilo poderia acabar com as chances do menino de conseguir um lugar seguro. Esperei o olhar de julgamento do desconhecido, mas tudo o que recebi foi um grande nada.
— Por quê?
— Sério? — Eu só queria que ele me deixasse em paz. Talvez tivesse sido melhor seguir meu caminho sozinha. Mas ele não desistia. A intensidade em seu olhar era como um peso que me puxava, insistindo para que eu fosse honesta.
— Não vou deixar perigo algum chegar perto das pessoas que estão comigo, então é melhor começar a falar se quer vir junto.
Bufei levando meus dedos finos até os cabelos perto da minha orelha para arrancar alguns fiozinhos.
— Eles decidiram brincar de Deus comigo, e eu decidi os mandar para conhecer o verdadeiro. — Quando seus olhos já pequenos se apertaram ainda mais, suspirei. — Foi autodefesa.
Eu me senti vulnerável de uma maneira que não sentia havia muito tempo, como se uma parte de mim estivesse exposta. Até minha voz saiu mais suave do que o normal. Droga! Aquela era a pior sensação do mundo. Apenas duas vezes antes havia me sentido assim. A primeira foi quando perdi minha avó, e o conselho tutelar me separou da minha irmã até ela provar que podia cuidar de mim. A segunda foi durante meu primeiro torneio, quando observei meus colegas do clube se despedindo de suas famílias antes de pegarmos o ônibus, e, ao procurar por Lori, percebi que ela não estava lá. Como prometido, ela nunca me apoiou naquilo que chamava de loucura. Ainda assim, nenhuma daquelas vezes chegou perto de como estava me sentindo naquele momento, de baixo do olhar pesado do caçador.
— E você? — Um peso saiu do meu ombro quando sua atenção passou para Patrick. Finalmente consegui respirar.
— Olha, não vou mentir. Uma vez eu peguei o carro do meu pai escondido e atropelei o cachorro da nossa vizinha. Mas eu juro que foi sem querer.
Não consegui segurar a risada que borbulhou do meu peito e atraiu a atenção do caçador.
— Você é o rei dos idiotas, garoto. — Baguncei o cabelo do menino de novo e voltei a rir enquanto escutava ele praguejar, dizendo que não se deve tocar no cabelo de um homem com tanto desrespeito.
••■••
— Já estamos chegando? — Era a quinta vez que o garoto perguntava e o caçador, que agora eu sabia se chamar Daryl, apenas continuou com o seu hm. Mas eu entendo, até eu estava ficando nervosa. Na segunda vez que Patfick me perguntasse, eu já ia mandar ele caçar sapo. O tal Daryl estava sendo até paciente.
Ele já ia abrindo a boca para pergu ter mais alguma coisa, entretanto, bufei chamando a sua atenção.
— Mais uma pergunta sai da sua boca e eu faço você engolir minha flecha.
— Você é tão c***l comigo. — Revirei os olhos dramaticamente e apressei o passo para caminhar ao lado de Daryl e deixar o garoto, ou eu estatelaria minha mão na cabeça dele. — Espera por mim, Mira.
Escutei seus passos desengonçados e tive que me controlar para não rir e acabar com minha pose de megera. Eu estava até decorando o som de seus passos. Garoto irritante. Podia ser irritante, mas ainda assim, tinha algo reconfortante nele.
— Caramba! — O garoto surpreso estancou no lugar, e eu repeti seu ato.
Diante de nós, uma enorme prisão despontava entre as árvores, revelando-se à medida que o caminho se abria em uma clareira. Mortos pendiam nas cercas, e, de lá de dentro, algumas pessoas lidavam com eles. Patrick pareceu duas vezes mais animado, suas feições ficando ainda mais infantis. Acabei sorrindo enquanto o observava. Aquele menino quase do meu tamanho ainda era apenas uma criança. Balancei a cabeça quando a imagem de um Carl sorridente passou pela minha mente. A familiar bola de ar parada na garganta e meu peito se apertando como se todo o ar dos meus pulmões estivesse sendo evaporado.
O que eu não daria para ter o menino ali do meu lado...
Sabe quando sentimos que estamos sendo observados? Foi assim que me senti, e quando me virei, notei o caçador me encarando sem vergonha alguma. Ele não transparecia o que estava pensando, mas eu senti meu pescoço esquentar.
Antes que eu pudesse perguntar o que ele tanto olhava, sua cabeça indicou a prisão e ele nos deu as costas para começar a caminhar pra lá.
— Vamos logo.
— Vem! — Puxei o garoto para colocá-lo entre mim e Daryl quando notei que alguns mortos já nos percebia ali. Armei meu arco e quando estava prestes a acertar a cabeça de um dos mortos que se aproximava, a flecha do caçador o pegou em cheio.
Apertei meus olhos em sua direção e pude jurar que vi um mínimo sorriso vitorioso em seus lábios finos. Finos e atraentes. Droga, Mira! Se concentra.
Acabou que não precisei fazer nada, o caçador era o machão e queria mostrar. Bufei revirando os olhos quando chegamos aos portões. Pelo menos não terei o trabalho de ter que ir buscar minhas flechas, melhor pra mim.
Uma mulher n***a veio abrir os portões com pressa e logo adentramos o lugar. Patrick só faltava flutuar de emoção. Ele estava tão bobo que parecia fofo. Observei ele tropeçar nos próprios pés enquanto girava e quase cair. Ri de sua trapalhada e prendi o arco nas costas, aparentemente eu não precisaria dele ali.
— Tia! — O grito vindo das minhas costas fez todo o meu corpo c******r e limpar qualquer sorriso que eu tinha no rosto. — Tia! — Eu estava congelada encarando Daryl à minha frente, mas não o via.
Quando finalmente me virei, meus olhos estavam embaçados e minha respiração errática. O garoto correndo em minha direção tinha um chapéu desajeitado na cabeça e lágrimas no rosto branquinho. Era o meu bebê, era o meu Carl.
Não percebi quando comecei a correr, mas meus pés me levaram até ele com uma pressa desesperada.
— Carl! — Quando seu corpinho finalmente se chocou com o meu, senti todas as minhas forças desaparecer de minhas pernas e se concentrar em meus braços. Eu o imprimiria a mim se fosse possível. Eu nunca mais soltaria aquele garoto. — Meu amor.
Os soluços violentos balançavam meu corpo, assim como o dele. Me afastei minimamente para poder analisar todos os traços do rostinho que eu tanto amava. Ele estava claramente mais velho, mas continuava sendo meu bebê. Seus olhos azuis, como os de seu pai, estavam cheios de lágrimas e seu narizinho vermelho como suas bochechas.
— Tia...
— Você está aqui. — Minha mão tremia ao tocar seu rosto, com medo de que ele desaparecesse se eu piscasse. — Você está aqui, meu amor. Finalmente. Eu finalmente te encontrei.
Puxei-o de volta para os meus braços, sentindo a corda que apertava meu peito finalmente se afrouxar, libertando um suspiro pesado. Ele estava ali. Finalmente...