MAYA
Julinho havia ganhado o mundo , havia dias que tinha sumido de casa contudo quando já estava prestes a ir para o trabalho ele resolveu dar as caras.
- O bom filho a casa torna- Eu debochei olhando pra ele cinicamente
- Não enche Maya – Soltou um muxoxo passando por mim
- Olha lá hein moleque! , te orienta se não quiser que eu te sente a porrada – Me irritei com sua audácia.
-Maya , para de implicar com o seu irmão – Minha mãe vem em sua defesa o abraçando levando suas mãos a acariciar seu rosto , enquanto eu bufo abrindo a porta.
- Meu filho , por onde andou hum? . Venha , se sente aqui e acompanhe sua velha no café - Balanço minha cabeça em negativa.
- É por isso que ele está assim , olha só a maneira que trata esse grande atoa. – Faço uma careta contrariada
- Maya! – Minha mãe protesta me dando um olhar de repreensão.
Ele olha para mim rolando os olhos.
Por sua cara parece que tem anos que não dorme e eu nem mesmo duvidava , já que andava mais tempo corrido do que perto da sua família. Eu o amava mas odiava ver nas merdas que havia se metido quando começou a usar drogas.
- Conta pra ele que eu me meti em uma fria só pra salvar a pele dele – Julinho franze a testa olhando de mim para nossa mãe , enquanto eu fecho a porta atrás de mim.
Antes de ir para o trabalho passaria no banco , eles haviam me ligado informando que o dinheiro já estava na conta, havia passado uma mensagem para Kadu mais uma vez ir comigo lá , claro que deixaria o dinheiro na mão dele , mais tarde faria o que tinha de fazer.
Enquanto eu coloco os fones de ouvido somente para não escutar o barulho das pessoas conversando no buzu , imagens de Kamil Barbieri mais uma vez começa a tomar minha mente.
As cenas ainda eram vividas e frescas em minha cabeça
Mordi meu lábio inferior quando me recordo de sua língua passando no...
- Chega dessa palhaçada Maya! – Todo mundo vira pra olhar pra mim
Abro um sorriso amarelo fingindo que falava com alguém no celular.
Desde que eu havia ficado com esse cara e nem tinha 24 horas ainda , a sensação que eu tinha era que ele estava impregnado por cada canto do meu corpo.
Fechei meus olhos me maldizendo, mas então eu visualizo o tórax definido de Barbieri enquanto eu o cavalgava.
Esfrego meus olhos segurando um palavrão.
Odiei o quanto o mafioso era mesmo bom de cama
Precisava de um n***o! , um daqueles bem gostosos pra jogar o Italiano de escanteio.
- O que aconteceu? – Kadu disse assim que eu cheguei na frente do banco .
Retirei os fones do meu ouvido guardando na bolsa.
- Nada , só não dormi direito ...me sinto um pouco cansada – Lógico que eu jamais contaria pra ele o que havia me acontecido e que muito menos o tal KL7 havia invadido minha casa e ameaçado minha mãe e como se não bastasse que eu havia transado com ele e ainda queria repetir a dose.
Ah! meu Deus , como eu me odiava!
Soltei o ar olhando pra Kadu desanimada.
Ele me abraça pelos ombros
- Vai ficar tudo bem e essa maré r**m vai passar. Tô contigo e não abro – Assinto lhe dando um sorriso de boca fechada .
Kadu havia levado uma mochila , então colocamos toda a grana nela . Pedi a ele que tivesse todo o cuidado possível e que mais tarde nos veríamos para que eu pudesse entregar o dinheiro aos traficantes que Julinho estava devendo.
***
- Mulher não era hoje que aquele gringo havia agendado? – Betina salta na minha frente empolgada , com os olhos brilhando como diamantes.
Na verdade ela só me intercepta mesmo , tudo o que eu queria era entrar na minha sala e me jogar naquela cadeira.
- Ele desmarcou – A mesma murcha na mesma hora.
- Nossa , eu queria ver ele de novo . – Já eu o queria bem longe de mim e de preferência da minha família.- Maya! Que homem bonito da peste era aquele?
Seu sotaque nordestino adoça os meus ouvidos.
- É , ele é mesmo bonito – Concordo, afinal de contas iria mentir para quê ?
Havia me refastelado no banquete e agora me fingiria de desentendida.
- Tomara que ele marque para um outro dia - Um gelo atravessa a minha coluna quando ela fala isso.
- Enfim, vou trabalhar e você deveria também . Esquece o gringo – Lhe dou uma piscadela enquanto ela me olha com deboche a medida em que tomo o caminho da minha sala.
Me jogo na cadeira esfregando meu rosto , em cima da mesa eu encontro o seu cartão de visita.
Kamil Barbieri.
Com raiva amasso o papel e o jogo na lata de lixo.
***
Quando meu expediente terminou Sophie me ligou me chamando para ir ao baile funk.
Já havia meses que eu não colocava os pés em um , não tinha tempo ,preocupada com tantos problemas e a correria do meu trabalho misturado a escola de samba.
- Vamos Maya!, por favor – Eu sabia bem que ela só estava tão empolgada assim somente para ver Kadu – Nivea e Emilly falaram pra eu chamar você também.
- Eu que moro na favela não estava sabendo de nada disso, mas você sabe – Dou risada – Nem parece que mora na zona sul.
- Vai ou não Maya?
- Vou , claro que eu vou – Ela comemora do outro lado da linha. Mais é claro que eu iria , afinal de contas tinha que ficar com um carinha hoje nem que fosse somente pra tirar as malditas lembranças de KL7.
Antes de ir para casa , liguei para Kadu pedindo para ele me esperar no lugar marcado para que pudéssemos juntos entregar o dinheiro para os traficantes.
- Não esquenta com isso , não quero te jogar no perigo Maya . Eu resolvo isso por você , tá legal?
- Tem mesmo certeza disso? , não quero que fique na mira desses caras.
- Não tem com o que se preocupar , ok?. Eu resolvo tudo – Não vou negar que eu me sinto muito aliviada.
- Obrigada Kadu , você é um amigão.
- Já disse , estou contigo e não abro – Sorrio me sentindo feliz por ter um amigo tão prestativo quanto ele.
Encerrei a ligação e tão logo já me encontrava abrindo a porta de casa , assim que eu entro meu corpo é agarrado num abraço por Julinho.
- Que é que foi tudo isso ?- Perguntei espantada.
Ele chora no meu ombro
- A mãe me contou tudo, obrigado maninha . Valeu mesmo por ter me quebrado essa – O abracei de volta
- Espero que tome vergonha na cara e deixe de se meter com essas merdas- Meu irmão só chora mas também não me diz que sim e nem não . Sabíamos que ele não tinha forças para se desvincular de uma vez dessa vida.