CAPÍTULO 01|MAYA
Estamos na melhor época do ano!
O Carnaval!
Sou passista de uma das melhores escolas de samba do Rio a ‘’Unidos da Tijuca’’, cresci e me criei nesse meio . Meus pais eram responsáveis pela produção dos figurinos , eu sempre dava uma escapada para ficar olhando os ensaios, meu coração batia acelerado no meu peito , ansioso para estar ali no meio . Em um certo dia fui para o meio da quadra após o ensaio ter finalizado, coloquei as batidas do samba no meu celular e comecei a sambar como se estivesse participando de um desfile. Até que um deles aplaudiu pegando-me de surpresa , chamando-me para fazer parte da equipe porque disse que eu tinha talento nato, o verdadeiro samba no pé.
Nem mesmo podia acreditar que o meu sonho iria se tornar realidade e aqui estou eu , vibrando a cada batida vendo a galera sendo levada a loucura enquanto passamos pela avenida.
Em cima dos lindos saltos é onde eu posso encontrar-me , com o corpo banhado por suor e com orgulho da minha comunidade que eu venho com toda a garra e um amor indomável , pelo desejo lindo de riscar o chão a cada passada vibrante que dou.
Um dos maiores momentos importantes em toda a minha vida?
Eu tenho dois!
Quando fui campeã do prêmio ‘’ Estrela do Carnaval pela Unidos da Tijuca’’ como melhor passista da escola , e o segundo foi uma bela homenagem recebida durante o ensaio técnico. Eu chorei bastante e sem sombras de dúvidas foi um momento marcante em minha trajetória.
Quando estamos no meio da avenida, uma gritaria pode ser ouvida, uma vez em que podemos escutar trocas de tiro conforme as pessoas saem correndo.
- O que está acontecendo!? – Eu grito de olhos enormes enquanto sou retirada as pressas do meio da passarela por Kadu, somos melhores amigos desde a infância.
- Ninguém sabe! Corre! – Escorrego em cima dos saltos quase caindo, mas sou segurada pela base da cintura por ele.
Kadu e eu vamos para debaixo das cadeiras azuis, enquanto podemos escutar o cantar de balas para todos os lados, as pessoas correm desesperadas.
- Isso nunca aconteceu antes! O que é isso?! – Pergunto apavorada. Ele pega um toldo que estava jogado pelo chão colocando por cima de mim de modo que eu não possa ser vista.
- Calma! , tenta se manter calma! Eu preciso ajudar as outras pessoas. Não sai daí! – Kadu me aponta um dedo enquanto sai praticamente abaixado de perto de mim.
Minhas mãos estão tremendo enquanto eu me seguro em um suporte de ferro , correndo os olhos por todos os lugares completamente em choque .Por outro lado me sinto terrivelmente aliviada por meus pais não estarem por aqui , por mais que eu quisesse muito . Porém a idade já havia chegado, eu preferia vê-los em segurança em casa do que participando, por mais que a vida deles fossem dentro deste lugar por longos anos. Com toda certeza estavam me acompanhando pela tv, e agora nem mesmo posso imaginar o pavor que os mesmos devem estar sentindo em saber no que está acontecendo no sambódromo.
Me encolho sentindo meu coração vindo na minha garganta quando escuto passadas pesadas por cima da cadeira onde estou debaixo.
-Circondare tutti i lati! Li voglio morti!
Uma voz forte reverberou em meus ouvidos fazendo-me estremecer , eu sabia muito bem o que o homem havia falado.
Havia estudado a língua italiana cerca de 8 anos atrás devido a minha profissão , já que sou turismóloga.
‘’Cerquem todos os lados! Eu quero eles mortos!’’
A arma reluziu em seu punho , uma vez em que levei minhas mãos para cima da minha boca com medo de que até mesmo minha rápida respiração fosse denunciar que eu estava escondida logo abaixo dele.
Os bancos estremeceram quando ele desceu as pressas indo para o outro lado.
Não podia continuar por aqui , eu tinha que sair- foi tudo o que pude pensar quando arranquei os saltos dos meus pés me atrapalhando com o fecho deixando-os para trás assim que consegui me livrar dos mesmos jogando o toldo para o lado. Todavia acabei tropicando numa mala preta que estava escondida abaixo da outra cadeira ao meu lado.
Parei por uns segundos olhando para um lado e para o outro , os homens poderiam voltar.... e se fosse uma bomba?
Vencendo minha curiosidade me abaixei abrindo o mínimo possível da maleta.
Parei boquiaberta quando vi as fileiras de dólares.
-c*****o!- Meus olhos arregalaram-se em descrença.
A fechei rapidamente, outra vez observando se aqueles homens estariam à vista. A gritaria ainda continuava , porém as sirenes dos carros de polícia começaram a se fazer presentes.
Eu não tinha nada a perder e tão pouco era conhecida , não existia a menor possibilidade deles descobrirem quem havia sido a pessoa quem pegou essa grana toda, para virem atrás de mim.
Não fiquei pensando muito , deixei meus saltos para trás , abracei a maleta contra meu peito e corri como se não houvesse amanhã.
Era errado o que estava fazendo e eu sabia bem disso, mas se eu não a pegasse outras pessoas iriam fazer isso.
Sabia bem que era minha consciência tentando passar pano para o que estava fazendo, agora não queria pensar ...não queria me sentir culpada.
Fugi para o camarim que ficava do outro lado , catei meu sobretudo deslizando por meu corpo como podia ,junto com meus tênis me sentindo assombrada e com a pulsação acelerada, me aproveitando de que não havia mais ninguém por aqui. Atravessei minha bolsa contra meu corpo e enrolei a maleta com algumas roupas enfiando dentro da minha bolsa de viagem, uma que sempre trago para os ensaios e com todos os meus acessórios.
Não ligaria para Kadu agora , era arriscado demais.
Chamei o Uber e não demorou 5 minutos , já que o mesmo estava por essas imediações e mais do que depressa já estava entrando dentro do carro.
O alvoroço de pessoas correndo para lá e para cá era insano , enquanto eu vi alguns policiais procurando saber o que estava ocorrendo , e sem falar nas várias ambulâncias da SAMU que estavam prestando socorros a pessoas que haviam ficado feridas.
- O que aconteceu aqui?- O motorista pergunta colocando o carro em movimento fazendo com que eu soltasse uma lufada de ar por estar me distanciando do perigo.
- Estávamos no meio do desfile e então começou a acontecer um tiroteio do nada.
- Minha nossa , ainda bem que eu não gosto de participar dessas coisas . – Embora sua fala fosse compreensiva , me senti alfinetada , afinal de contas eu estava me comportando como uma ladra.
Mas só Deus sabia o quanto eu precisava desse dinheiro .
Meu irmão estava devendo uma alta quantia aos traficantes e ameaçado já estava. Se a sorte pousou nas minhas mãos eu quem não a deixaria partir.
Eu e a minha família morávamos no Jacarezinho mas depois que Julinho se meteu em encrenca, fomos obrigados a sair de lá. Quando vi o desespero dos meus pais , o medo me encobriu me obrigando a tomar uma posição.
Agora morávamos no bairro do Vidigal era uma das favelas mais tranquilas aqui do Rio.
Desci do carro assim que cheguei ao meu destino, apressando meus passos fui para casa.
Retirei as chaves de dentro da minha bolsa , ainda olhando assustada por cima dos meus ombros me sentindo ainda muito culpada por estar segurando uma maleta recheada de dinheiro que resolveria nossas vidas. Assim que abri a porta dou de cara com meus pais na frente da TV, minha mãe virou-se em minha direção com os olhos vermelhos . As lágrimas faziam seu caminho por seu rosto quando os mesmos correram para mim, me envolvendo num forte abraço , enquanto fechei a porta com o calcanhar, os abraçando de volta.
- Está tudo bem...está tudo bem...- Eu disse tentando acalmá-los.
- Estava pra sair doida Maya , meu Deus!. Pensei que o pior tivesse te acontecido minha filha! – Minha mãe diz entre soluços enquanto meu pai me beija na testa.
- Não precisa se preocupar , tudo bem?. Estou bem .- Beijei a bochecha dos dois . – Agora preciso tomar um banho , não deu tempo nem para me trocar.
Era real, mas não pelo motivo que eles achavam.
- Deixa a menina Isabel! – Meu pai diz puxando minha mãe para longe do meu corpo , ela me agarrava como se eu fosse sumir a qualquer segundo – Vá Maya , vá tomar seu banho.
Sorri agradecida para ele enquanto levei a mão a acariciar o rosto magro da minha mãe.
- Fica tranquila , volto já para lhe preparar um chá! . Se acalma, mãe. – Ela assentiu colocando uma mão por cima do peito enquanto eu peguei minha bolsa de mão indo direto para meu quarto.
Tranquei a porta e então joguei a bolsa em cima da minha cama abrindo a mesma esbaforida.
Retirei a maleta de dentro e então a escancarei por cima do cobertor.
Em cima das notas havia um papel rabiscado com um nome.
Estreitei meus olhos lendo o que ali estava escrito.
- KL7?
Não fazia a menor ideia sobre o seu significado, tudo o que eu sabia era que esse dinheiro iria salvar a vida da minha família.