Após Kadu ter ido embora , guardei a mala de dinheiro atrás das minhas roupas na parte superior do guarda-roupa, não poderia deixar à vista caso minha mãe a encontrasse por aqui quando estivesse fazendo faxina.
Nem mesmo consegui dormir direito , me revirei a noite toda e quando consegui cochilar tive um pesadelo horrível , em meu sonho o verdadeiro dono da mala de alguma maneira encontrava minha localização, quando dizia que tinha vindo atrás do seu dinheiro uma vez em que me apontava sua arma. Acordei suando em bicas , com o coração espancando meu peito.
- Merda. – Joguei o cobertor para o lado e pulei da cama , precisava logo pagar a dívida de Julinho antes que meu sonho se concretizasse.
Mas eu sabia que só seria paranoia minha , tecnicamente seria impossível ser encontrada pelo verdadeiro dono dessa maleta. Eu estava segura.
Peguei a mala , retirando o valor. Teria que ir no banco converter as notas para o real.
Tomei um banho e meu café da manhã as pressas, dizendo para meus pais que tinha coisas a resolver e não sabia que horas voltaria.
Era perigoso andar com uma quantia dessas dentro da minha bolsa , ainda que tivesse em mãos 12 mil dólares equivalente à 60 mil e fração.
Antes de sair de casa liguei para Kadu e pedi para ele me esperar na esquina ,não queria fazer isso sozinha e de alguma maneira ele me dava força.
- Seus pais desconfiaram de alguma coisa? – Ele indaga assim que eu chego perto dele
- Não , eles nem mesmo suspeitam de que tem algo acontecendo e é melhor assim . Não saberia o que poderia dizer caso descobrissem. – Kadu assente.
- Vamos lá então , quanto antes fizermos isso melhor.- Assinto para ele conforme apressamos nossos passos.
Chamamos um Uber e logo chegamos ao banco , não demorou muito para que fossemos atendidos uma vez em que eu tamborilava meus dedos impacientemente em cima da mesa da atendente. Kadu puxou minha mão e as envolveu na sua.
- Demora quanto tempo pra converter em real? – Pergunto tentando não demonstrar o quanto me sentia ansiosa.
- De 24 horas a dois dias úteis.
- É o que? – Kadu pigarreia , eu solto um risinho de nervoso. Solto minha mão das dele e começo a gesticular agoniada – Moça , eu preciso desse dinheiro, tipo...pra ainda hoje.
- A senhorita tem no prazo de até um dia útil após o recebimento dos valores. E no caso transferiremos o valor já convertido em reais para a sua conta bancária.
Troco um olhar com Kadu me sentindo nervosa.
- Tudo bem . Nós aguardaremos. – Depois de tudo feito , saímos do banco.
- Droga! , eu precisava resolver isso o quanto antes...
- Por que está tão ansiosa desse jeito Maya? – Ele busca meus olhos.
- Sei lá... só estou com uma má impressão, acordei tendo um sonho estranho hoje e não sei ....- Uma agonia estava presa dentro de mim
- Olha...- Kadu me vira para ele , segurando dos dois lados do meu rosto – Vai ficar tudo bem . Relaxa, eles disseram que assim que o dinheiro for convertido você será notificada, então a gente vem pega a grana e paga aos caras. Beleza?
Assinto soltando o ar dos meus pulmões.
- Obrigada por ter vindo comigo – Ele sorri de lado
- Não precisa me agradecer , tô contigo pra o que der e vier. Fechou?- Lhe dou um sorrisinho – Pra onde vai agora?
- Para a casa da Sophie. – Kadu faz uma careta . Por isso estava relutante em falar , eles dois terminaram há uns 5 meses atrás porém ficou um climão . Até hoje não faço a menor ideia sobre o que deu errado entre eles dois , pareciam tão felizes.
- Ela está bem ? digo...depois daquilo ...você sabe...- Ele passa uma mão pela nuca se sentindo terrivelmente desconcertado.
Quando Kadu terminou com ela Sophie tentou tirar a própria vida , uma chantagem para Kadu voltar para ela, coisa que lhe custou muito caro. Ela quase morreu mesmo , sua sorte é que foi encontrada a tempo . Ela mesmo me confessou que queria pressioná-lo para o mesmo voltar atrás em sua palavra . Eu dei um sermão nela , fiquei com muita raiva de ouvir algo tão e******o.
- Está fazendo terapia . Ela realmente precisava- Ele assente mordiscando o lábio inferior – Bom , vou indo lá . Depois nos falamos , quando sair da casa dela vou direto pro trabalho. – Ainda não estava no meu horário e já que estava pelo centro não iria mesmo voltar em casa para ter que vir novamente.
- Valeu , se cuida. – Ele bate continência para mim com seu costumeiro modo brincalhão quando lhe dou um aceno me virando nos meus pés.
Poderia pegar um Uber ou ir de ônibus , entretanto eu estava preferindo mesmo andar. Minha mente estava acelerada , e além do mais me sentia muito ansiosa. Enquanto não resolvesse tudo isso não me sentiria nenhum pouco em paz.
Sophie e eu éramos amigas desde o ensino médio , diferente de mim e do Kadu ela veio de uma boa família com posses , traduzindo ela é rica. Portanto não é uma dondoca como muitas por aí em sua posição. A mesma morava na Barra da Tijuca.
Enquanto andava pelas ruas comecei a sentir uma sensação ainda mais estranha , como se alguém estivesse me seguindo. Virei-me por cima dos meus ombros para tentar ver se não era minha mente me pregando uma peça , contudo a avenida estava movimentada e ainda mais do que o normal , até porque estávamos em época carnavalesca.
Com certeza eu estava com mania de perseguição.
Deixei minha intuição desajustada de lado e me concentrei no meu caminho.
Avisei a Sophie que estava chegando em seu condomínio , ela já estava me esperando na porta quando cheguei , me evolveu num abraço apertado .
- Minha nossa mulher , estava morrendo de preocupação depois de tudo o que eu vi passando na TV. Como está? – Ela corre o olhar por todo meu corpo procurando por vestígios de algum ferimento.
- Consegui me safar , graças a Deus . Estou bem ...mas e você? – Ela sorri entrelaçado seus braços nos meus me puxando para dentro.
- Bem melhor. Fazer terapia tem me ajudado bastante.
- Fico feliz por você. Kadu pode ser meu amigo , mas independente de qualquer coisa homem nenhum merece que qualquer mulher venha se afundar por causa deles. Eu espero mesmo que você tenha deixado tudo isso para trás.
- E ele...como está?- Lhe dou uma atravessada de olhos
- Não vou ficar falando do Kadu com você, ok? . Vamos falar de outra coisa – Sophie revira os olhos enquanto eu me jogo no sofá da sua casa rindo de sua birra, ela pode não ser uma dondoca mas é mimada que só.
***
Após ter saído da casa da Sophie por volta das 13:00 da tarde fui direto para meu trabalho. Almocei pela casa dela mesmo , enquanto jogávamos conversa fora.
Assim que chego na agência Betina vem em minha direção
- Até que enfim! , tem um cliente te esperando .
- Aí já vou . Calma mulher..- Betina me empurra praticamente para que eu adiantasse meus passos , o que era um exagero já que eu me encontrava dentro do meu horário. Não era do tipo de me atrasar, odiava.
Abro a porta de vidro colocando minha bolsa pendurada no suporte prendendo meus cabelos num coque , o calor estava infernal hoje.
- Boa tarde. Me perdoe pela demora eu ...- Paralisei quando encarei o belo homem sentado à minha frente, de pernas cruzadas muito bem vestido impecável. O mesmo possuía algumas tatuagens no dorso de sua mão direita , sem falar numa sequência que subia da base do seu peito para o pescoço. Engoli em seco diante o que via , seus olhos azuis límpidos me encaravam de volta de modo profundo. O sapato preto lustroso era um contraste e tanto com sua beleza gritante. Seus cabelos eram castanho-claros , cortado baixo nas laterais e em cima um pouco maior
Meu Deus , quem era esse monumento?
Pigarreio tomando assento , de repente me senti fraca.
- Como dizia ...a cidade está uma loucura e eu...- Parei novamente , ele poderia nem mesmo estar entendendo o que eu falava, poderia ser um gringo.
Me endireitei em meu assento enquanto o homem continuava com os olhos fixados em meu rosto.
Ao mesmo tempo em que era belíssimo já era intimidador.
- Sorry sir. How can i help you? ( Desculpe senhor . No que posso ajudar?)
- I’m spending a few days in the city with my Family. I would like to take you to some tourist spots. ( Estou passando uns dias na cidade com a minha família . Gostaria de levá-los a alguns pontos turísticos) – Até mesmo sua voz era bonita tal com o dono dela , era grossa e aveludada uma caricia em minha pele .
Porque eu estava me arrepiando afinal?
Abanei-me mais uma vez endireitando-me em meu assento , me sentindo insuportavelmente inquieta. Enquanto seu olhar não despregava de mim.
- I understand sir. Please choose the places you would like to visit from the catalogue ( Entendo senhor. Pode escolher no catálogo por favor os lugares que gostaria de visitar.) – Passo para ele .
Seus dedos tocam nos meus me enviando uma onda de eletricidade, uma vez em que o mesmo me deu uma olhada por debaixo dos olhos.
Enquanto ele passa as folhas calmamente eu tento olhar para qualquer lugar dentro da sala menos para ele , agradecendo a Betina por ter ligado o ar condicionado , ainda que não esteja ajudando lá em muita coisa.
Então o mesmo coloca o catálogo em cima da mesa apontando para uma das paisagens.
Era o pão de açúcar, Cristo Redentor , fazendo um trecho para a praia do arpoador e o museu do amanhã.
- Ok. I’ll leave it scheduled, what’s your name? And your contact number please (Ok. Deixarei agendado, como o senhor se chama? E o seu número para contato por favor.)
- Kamil Barbieri. ( Retira um cartãozinho de dentro de um bolso interno do seu terno deslizando para minha mesa com seu número gravado ali.
O agradeço com um aceno , digitando no computador tudo o que preciso.
- What time would be best for you? ( Qual horário ficaria melhor para vocês?)
- At 3.00 p.m ( Às 15:00 da tarde)- Quando ele se levanta fechando algumas casas de botões do seu terno , minha boca cai aberta .
Ele era bem alto , e em forma, dava para perceber os músculos ressaltados por debaixo de suas roupas e sem falar no olhar dominante . Me senti uma formiga indefesa diante dele , como odiava me sentir intimidada, me ergui também nos meus pés.
-Thank you sir. See you soon ( Obrigada senhor . Até breve) – Eu disse de forma cortês.
O homem acenou virando-se em seus pés abrindo a porta da sala tomando seu rumo , enquanto eu não conseguia desgrudar o olhar do seu físico bonito.