CAPÍTULO 14|MAYA

1277 Words
Eu não tinha um minuto de paz , já havia sido acordada sendo intimada pela polícia para prestar depoimento sobre o tiroteio que havia acontecido no sambódromo. Quando os policiais chegaram na porta da minha casa , quase tive uma síncope , não esperava por algo assim; minha mãe em seu desespero já vinha achando que tinha a ver com a mala de dinheiro que eu tinha pegado de Kamil Barbieri , fui logo tratando se explicar a situação para que ela não desse com a língua nos dentes. Isso poderia dar um B.O dos grandes , a maleta era de um dos mafiosos responsáveis pelo tiroteio daquele dia e em compensação eu me ferraria também , estaria tudo junto no mesmo pacote. Não vou negar que me sentia nervosa. - Está tudo bem mãe , eu só preciso acompanhar os policiais até a delegacia para depor sobre o que aconteceu naquele dia lá no sambódromo. - Tem mesmo certeza de que é apenas isso? – Lhe abraço pelos ombros numa tentativa de lhe confortar. - É sim , está tudo sobre controle. – Ela ainda olha desconfiada, mas então eu sigo-os para fora de casa. Estava vestida com as roupas do trabalho. Os vizinhos estão todos do lado de fora com certeza achando que alguma coisa estava acontecendo , ainda mais que eu entro no camburão . Daqui há alguns segundos o meu nome estará rolando pela boca da favela inteira. Me sentia apreensiva com os olhares dos policiais sobre mim. Pelo caminho nenhum deles me dirigiram uma só palavra que fosse , chegamos na delegacia e tão logo interrogada pelo delegado. Num gesto nervoso comecei a estalar os meus dedos enquanto o homem rodeava o meu corpo como uma mosca em cima da merda. - Onde a senhorita estava quando o tiroteio começou? - Na avenida participando do desfile da escola de samba – Eu faço questão de olhar bem para ele , lógico que deveria passar toda a firmeza possível de que eu não tinha nada a ver com seja lá o que eles estivessem pensando . Talvez pudesse até mesmo ser a culpa me espezinhando, com medo de ser pega com o ra*bo na ratoeira. -Viu algo de suspeito? Os homens que estavam por detrás do tiroteio ? - Não senhor , eu estava com tanto medo que todos nós corremos para nos esconder e tentar salvar a nossa pele como desse. - Hum...compreendo- Ele senta em cima da mesa olhando para mim com a testa franzida e os lábios apertados. – E este homem , conhece? – Ele coloca uma foto bem na minha frente de um cara moreno, com uma cicatriz exposta em sua bochecha , tinha cabelos pretos e um olhar que me deu calafrios. - Nunca vi. – Ele assente colocando a fotografia em cima de sua mesa. - Está dispensada senhorita Maya , mas fique atenta que podemos voltar a convocá-la a qualquer momento – Eu me ergo nos pés sentindo-me um pouco mais aliviada e menos tensa. -Está bem . Com licença – Lhe dou um aceno de cabeça sentindo os olhos dele perfurando minha nuca. Eu tinha que andar com os olhos atentos para todos os lados , tinha medo de que tivesse alguma câmera escondida que possa ter acabado me ligando aqueles caras , tudo bem que eu não tinha nada a ver com nada disso , mas de qualquer modo eu acabei me metendo com o Italiano mafioso e se caso a polícia viesse fazer essa ligação eu estarei perdida. Fui direto para meu trabalho com a mente a toda, eu nem mesmo conseguia pensar com clareza. Trabalhei no modo automático, não conseguia me concentrar direito em nada. Assim que chegou a hora de voltar para casa , soltei o ar tentando não surtar. Minha cabeça estava tão cheia que não suportava mais nem mesmo pensar. Kamil Barbieri a essas alturas do campeonato já deveria estar bem longe do Rio de Janeiro e voltado para sua terra ou sabe Deus para onde , coisa que também não me interessava , entretanto eu estava ferrada até os últimos fiapos de cabelos , porque agora sim havia um abacaxi dos grandes para descascar. Como diz o ditado popular , a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Sentei no ponto de ônibus e aguardei , meus pés estavam me matando . Ontem fugindo do tiroteio que teve no baile funk , acabei os machucando. Retirei os tênis pelos calcanhares com uma careta e acabei usando como chinelos. Olhei para frente esperando que o ônibus já estivesse vindo , portanto um carro todo preto para bem na minha frente. Tem algumas pessoas aqui , um rapaz e duas moças . Eles dão uns passos para o lado afastando-se de onde estou, enquanto eu corajosamente fico sozinha sentada no banco. Se fosse ladrão eu estaria ferrada, quero dizer ...dinheiro não tinha mesmo , tudo o que iriam levar seria meu celular. Porém me encontro abismada quando o homem pomposo desce do veículo, ou seja o capacho de KL7, o ne*go gostosão do outro dia que me encarava com cara de poucos amigos diante as minhas perguntas sem respostas. - Nos acompanhe por favor. - Porque eu deveria ? – Ergui uma sobrancelha petulante me aproximando dele, claro que usando alguma distância segura. Meu dia já havia sido uma dr*oga , ainda por cima teria que aguentar os desaforos desse povo da gringa?. Não mesmo. - KL7 mandou te buscar. – Meus batimentos tornaram-se frenéticos. Será que ele ficou sabendo que eu havia sido intimada hoje e iria me dar um cala boca? - Minha dívida com ele já foi paga . – Fui sucinta em minha fala. - Isso você mesma diz a ele- E então faz um gesto com a cabeça para que eu entrasse . Nesse mesmo instante o ônibus chega , me senti tentada a correr e entrar no buzu mas o medo deles me acertarem com uma bala foi muito maior. O homem dá espaço para eu entrar uma vez em que fecha a porta do carro, enquanto se senta no banco da frente. Eu estava tão cansada que o ar condicionado do carro acabou me apagando em determinado momento, ou sei lá se eles não tinham colocado alguma coisa por aqui para conseguir tal feito. *** Ainda sonolenta eu me espreguiço , jogando os cobertores para o lado sentindo-me imensamente pesada. Olhei ao redor me dando conta de que não estava na minha casa. Logo comecei a me recordar do que havia acontecido. Me levantei da imensa cama confortável estava descalça os meus tênis encontravam-se ao lado da cama ,o chão estava gelado e o ar condicionado ligado. Caminhei em direção das portas de vidro , no mesmo segundo estacionei boquiaberta quando vejo KL7 arrodeado por seus homens no terraço, com uma arma apontada para a cabeça de um cara. O mesmo se encontrava de joelhos com as mãos presas para trás enquanto parecia haver algum tipo de discussão entre eles.O pior que eu o conhecia , era o mesmo homem que o delegado havia me mostrado a fotografia . E então o que eu mais temia acontece , KL7 acabou de matar o cara bem diante dos meus olhos. - Meu Deus! – Coloquei as mãos por cima da minha boca sentindo o pânico tomando-me por inteira . O mesmo cara que havia me pegado no ponto de ônibus diz alguma coisa para ele , no momento seguinte seu corpo vira-se em minha direção . Seus olhos prendem-se nos meus enquanto Kamil Barbieri me encarava de volta com o rosto completamente transformado.
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